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Niclevicz já faz planos para expedição brasileira

Redação Webventure/ Montanhismo

Niclevicz faz questão de mostrar a bandeira brasileira no fim do desafio (foto: Divulgação)
Niclevicz faz questão de mostrar a bandeira brasileira no fim do desafio (foto: Divulgação)

Bem mais magro, com voz levemente rouca e as pontas dos dedos escurecidas… De volta ao Brasil, o alpinista Waldemar Niclevicz falou pela primeira vez pessoalmente com a imprensa ontem, em São Paulo, após se tornar o primeiro brasileiro no cume do K2, a segunda maior montanha do mundo (8.611m). “Nunca mais voltarei lá”, disparou. “Se soubesse que seria uma via de escalada tão suicida, não teria feito.”

Agora que o perigo já passou, Niclevicz já pensa em outras expedições – incluindo uma só com brasileiros – e busca a rápida recuperação dos 12kg perdidos no Paquistão e dos dedos da mão esquerda que tiveram um início de congelamento. Tudo com a supervisão da noiva, a paranaense Adriana Carioba, a quem o alpinista se declarou antes de relembrar os momentos difíceis que passou escalando a “montanha da morte” sem oxigênio suplementar. “Tive muita saudades dela (Adriana), a pessoa mais importante da minha vida.”

O maior medo – Como pior momento no K2, em sua terceira tentativa de chegar aos 8.611m, Niclevicz classificou a descida, feita durante a noite (o cume foi feito às 18h30 locais). “Havia uma descida com angulação de 60 graus e o gelo duro, onde muita gente já escorregou e morreu. O Abele (Blanc, italiano que fez parte da expedição de Niclevicz) queria que eu descesse, chegou a me bater com o piolet e doeu… Disse a ele que seguisse porque eu iria ficar abrigado numa greta esperando amanhecer pois não queria morrer numa dessas. Sempre tive medo da descida”, contou Niclevicz.

Naquele momento, Marco Camandona, outro alpinista da Itália que acompanhava o brasileiro, tinha desistido do cume e estava parado na montanha, tremendo de frio, com princípio de congelamento na mão. Blanc, após separar-se de Niclevicz, encontrou Camandona e o levou para o acampamento, onde o brasileiro só chegou pela manhã.

A falta do oxigênio artificial, que Niclevicz usou ao escalar o Everest, em 95, e planejava usar neste ano no K2, pode ter sido decisiva para a sobrevivência do atleta durante madrugada em que se abrigou na greta. “Não sei que tipo de impacto meu corpo teria se eu estivesse usando oxigênio e ele acabasse”, disse.

Com ou sem oxigênio? – A decisão de não utilizar foi forçada por um acidente com um carregador paquistanês de sua expedição, que foi atingido por uma pedra e precisou ser descido por outros companheiros. Como os três deveriam carregar o equipamento a partir dali, optaram apenas pelo mais importante – como Blanc e Camandona não queriam usar oxigênio, Niclevicz também deixou os cilindros.

“Eu não senti nada, nem dor… Só estava meio tonto. Quando cheguei ao cume recobrei a consciência; ao descer, comecei a delirar”, narrou. Considerada um diferencial positivo na comunidade do alpinista, a escalada sem oxigênio de uma montanha tão alta foi vista com bom olhos pelo brasileiro, que já fala em subir o Everest respirando o ar rarefeito.

Por enquanto, Niclevicz diz que o objetivo é se preparar para a EMA (Expedição Mata Atlântica, em outubro, com cobertura on line da Webventure), da qual ele vai participar pela segunda vez. Mas já tem todos os detalhes de uma prometida expedição com brasileiros: “vou levar um grupo a uma montanha onde nenhum alpinista do nosso país já foi”, diz, misterioso. E ainda tem planos de ir à Geórgia do Sul com Amyr Klink e ver uma brasileira no topo do Everest. “Acho que seria bom para quebrar esse mito de que só homem faz isso no Brasil. Aqui elas estão escalando muito bem em rocha, mas há poucas mulheres escalando em alta montanha.”

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira

Last modified: agosto 17, 2000

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