O alpinista Waldemar Niclevicz divulgou hoje, em São Paulo, os últimos detalhes para a terceira tentativa de escalar o K2 (8.611m), a segunda maior montanha do mundo e considerada a mais difícil. “Desta vez tem que dar certo, não quero passar mais uma vez por tudo o que já vivi no K2 …”, declarou. Uma quarta tentativa, caso necessário, não é descartada. “Não sei dizer se voltaria ou não uma quarta vez ao K2. Escalar esta montanha é o meu grande objetivo hoje, sonho em alcançá-lo.”
Uma revelação foi feita: a próxima expedição de Niclevicz envolverá alpinistas brasileiros. “Quero estar com alguém que me entenda, que fale a minha língua”, disse à Webventure. Há cinco anos, Niclevicz chegou ao cume do Everest, a maior montanha do mundo, ao lado do teresopolitano Mozart Catão. O companheiro morreria em 98, no Aconcágua, mesmo ano em que Niclevicz faria a primeira tentativa de escalar o K2, no Paquistão, acompanhado por alpinistas estrangeiros. Desde então, ter a companhia de nomes internacionais tem sido um hábito nas grandes expedições do brasileiro: neste ano ele vai escalar com os italianos Abele Blanc e Marco Camandona.
Segundo Niclevicz, o principal motivo de montar um time com estrangeiros é a “falta de vontade” de seus compatriotas. “Nenhum alpinista brasileiro se ofereceu para ir comigo ao K2. Já é um bom motivo para não levar ninguém. Mas estou animado com a nova geração, vou montar uma expedição só com brasileiros”, avisa. Outros planos incluem também o navegador Amyr Klink, com quem Niclevicz conviveu durante a regata Brasil 500 Anos, em abril.
Saltis e sherpas – A partida para o K2 acontece daqui a oito dias e o prazo para deixar o K2 só termina em três meses. Em mais uma megaexpedição, aspecto que faz alguns colegas torcerem o nariz para ele, Niclevicz vai levar 200 paquistaneses. Eles irão carregar uma carga de três toneladas de equipamentos até o acampamento-base. Outros quatro vão levar as cordas às grandes altitudes – a idéia é fixá-las inclusive nos pontos mais difíceis dos 600m que separam o acampamento 4, a mais de 8 mil metros, do cume. “Isso me preocupa, tenho medo que se machuquem. Esses carregadores, os ‘saltis’, não são alpinistas. No Paquistão, não existe a cultura da montanha, como acontece com os sherpas no Nepal…”, conta.
Para evitar o mau tempo, que vem fazendo desta uma temporada ruim na maioria das montanhas asiáticas, o ataque ao cume e a boa parte de toda a escalada deve ser feita à noite: “as tempestades de neve geralmente se formam ao meio-dia”.
Ao invés de causarem desconforto, as duas desistências anteriores na escalada da montanha servem de incentivo a Niclevicz. “Sou um otimista nato e isto me faz forte para agüentar três meses na montanha. Se vejo alguém baixo-astral, descrente ou chorando, eu isolo.”. A experiência, segundo ele, deve fazer a diferença: “Conhecer bem aquele lugar é o meu trunfo. Quando eu chegar ao K2 neste ano, vai como dizer: ‘Oi, lembra de mim?'”
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira
Last modified: maio 23, 2000