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Niclevicz se prepara para enfrentar a Expedição Leopardo das Neves

Redação Webventure/ Montanhismo

Ao todo  serão cinco montanhas nas cordilheiras (foto: Divulgação/ Waldemar Niclevicz)
Ao todo serão cinco montanhas nas cordilheiras (foto: Divulgação/ Waldemar Niclevicz)

Confira a localização das montanhas no Onde Praticar

Com o planejamento de dois meses, Waldemar Niclevicz e Irivan Gustava Burda estão nos preparativos finais para encarar o desafio Leopardo das Neves, título concedido aos alpinistas que escalam as cinco maiores montanhas da Ásia Central: Comunismo (7.495m), o Lenin (7.134m) e o Khorzenevskaya (7.105m), localizados na cordilheira do Pamir; e o Khan Tengri (7.010m) e Pobeda (7.439m), situado no Tien Shan.

As montanhas, localizadas em regiões do Tadjiquistão, Quirguistão, Cazaquistão, Rússia, China e Mongólia não são tão conhecidas como o Everest e o K2, por exemplo. Tudo por conta do ex-governo da União Soviética, que fechou os caminhos para a exploração das montanhas da região, que só foram reabertas em 1991.

“Até então, os ocidentais (estrangeiros) tinham raras oportunidades de entrar lá. No Quirguistão, que possui muitas paredes de rochas famosas, o conhecimento da região não é tão popular. Quem conhece fica fascinado pelas dificuldades e belezas”, contou Niclevicz. Além de russos e não-soviéticos, somente 36 alpinistas de dez países alcançaram os cinco cumes, nenhum deles latino-americano.

Dentre eles, o italiano Simone Moro é um exemplo que mostra a dificuldade da cadeia montanhosa da região: o alpinista conquistou as montanhas do Pamir em 1986 e, somente este ano, escalará a única montanha que resta para conquistar o Leopardo das Neves, o Pobeda. “Eu espero pelo menos fazer três montanhas, estamos preparados para as 5 em dois meses. Oxalá sermos os primeiros latino-americanos”, declarou o brasileiro.

Objetivos – Irivan e Waldemar, que já escalaram juntos o Everest, o Lhotse e o Makalu, terão de 26 de junho a 31 de agosto o desafio de encarar as cinco montanhas. O objetivo do experiente Waldemar é de tentar realizar os cinco ataques.

“São vários deslocamentos para chegar nas montanhas e nos acampamentos e o tempo é bem curto. Se conseguirmos manter a risca todo o nosso planejamento, ótimo! Se não, seremos obrigados a deixar uma montanha para trás. Quero conhecer um pouco do Pamir e do Tien Shan, então prefiro passar em todas as montanhas, mesmo que não as escale completamente, do que ficar a temporada toda tentando uma ou duas”, revelou o alpinista que deseja escalar completamente o Khan Tengri e o Pobeda.

Para agüentar dois meses entre escaladas e viagens, Waldemar e Irivan preparam-se fisicamente todos os dias. São corridas, natação, rapel, musculação e claro, escaladas. “Vamos sempre no Pico do Paraná e no Marumbi, que eu subo e desço todos os dias. O trabalho físico é importante. Lá, faremos a aclimatação no Lenin. Não podemos perder o pique, toda semana estamos escalando”.

A viagem da dupla está marcada para o dia 24 de junho, com chegada prevista para o dia 26, no Cazaquistão. De lá, partem diretamente para Bishkek, capital do Quirguistão para iniciar as escaladas. “Primeiro faremos o Lenin bem lento, para realizar uma aclimatação no local. Vamos descer e subir algumas vezes e na terceira subida, tentaremos o ataque ao cume. A aclimatação vai ser muito importante nessa fase”.

Com deslocamento até o Tadjiquistão, Waldemar e Irivan partem para o acampamento base do Comunismo e Khorsenevskaya, que é o mesmo para ambos. Em estilo alpino, a ascensão inicial será no Khorsenevskaya, com 7.105 metros de altitude, que deve ser realizado em uma semana. Com uma pequena pausa no acampamento, também com uma semana de planejamento de ascensão, escalam o Comunismo.

Tien Shan – Niclevicz deixou a cordilheira do Tien Shan por último por conta de alguns fatores: além da aclimatação ideal para a escalada das últimas montanhas mesmo não sendo as mais altas e também por serem consideradas as mais difíceis da expedição.

Partindo novamente Bishkek, a dupla se dirige à base do Khan Tengri, que será atacada pela face sul; em seguida, pela face norte, acontece o ataque ao Pobeda, a montanha mais difícil da expedição. “Temos doze dias para fazer as duas montanhas, mas o Pobeda é gigante, o que vai mesmo complicar é o desnível da base até o cume, que fica entre 3.500 a 4 mil metros.

As não tão conhecidas cordilheiras de Pamir e Tien Shan voltaram a serem escaladas no início dos anos 90. Mesmo nessa época, a região não tinha estabilidade política e aconteceram seqüestros de um grupo de oito alpinistas.

“Os alpinistas ficaram cerca de dois anos em cativeiro, os radicais chegaram a matar metade e o restante fugiu. É uma região que nos últimos anos se estabilizou politicamente e que começou a aumentar a ida dos alpinistas, principalmente os europeus”, relembrou Niclevicz.

O primeiro desafio que a dupla encontrarou foi na procura por “ajuda” para conseguir comunicação no local. “Tivemos que contratar guia, intérprete. Ter informação é primordial, pois é viajar sozinho é praticamente impossível por conta da língua; todos falam russo ou dialetos da região”. Além do conhecimento, a burocracia que envolve a viagem é grande, pois além do visto para entrada nos países, é necessária uma carta de recomendação, mostrando a intenção dos alpinistas.

Os tempos de descanso entre uma montanha e outra são curtos. Além da aclimatação, mais duas semanas para concluir as duas montanhas do Pamir e mais doze dias no Tien Shan. “Teremos que mudar de montanha para montanha, e esse deslocamento é feito de helicóptero até os acampamentos base. Até as cidades principais, a ida é feita pelas estradas, são vários deslocamentos para chegar nas montanhas e nos acampamentos e o tempo é bem curto”.

Com montanhas que não ultrapassam os 7.500 metros de altitude, os brasileiros escolheram a melhor época para a expedição Leopardo das Neves, o verão. Por estarem em alta latitude, próximos ao Círculo Polar Ártico, as temperaturas são baixas e os ventos tornam-se os vilões da escalada. “Mesmo tendo altitudes menores que um Everest ou K2, essas montanhas estão numa região mais ao norte da Terra, e o frio é muito maior”, explicou Nicleviz.

As formações rochosas variam e estão sempre cobertas de neve. No caso do Kahn Tengri, que não chega aos sete mil metros de altitude, por conta da camada de gelo, passa a ter 7.010 metros de altitude. Waldemar explicou que em certos acampamentos base não é possível montar barraca e para isso terão que levar serrotes para abrir cavernas em meio ao gelo. “Demoramos cerca de duas horas para fazer esse trabalho, a entrada deve ficar sempre a sotavento, para evitar barulho e que o vento entre na caverna. Mas o descanso é garantido”.

Pobeda – O Pico Jengish Chokusu, conhecido como Pobeda, significa “Pico da Vitória” e é a 60ª montanha mais alta do mundo e possui seis acampamentos base. Apesar de não ser a mais alta das duas cordilheiras, com 7.439 metros, é considerada a mais difícil de se conquistar do Leopardo das Neves. A montanha fica localizada entre o Quirguistão e a China, na beira de um precipício. “Na parede desta parte, que dizem que nunca escalaram, mas não tenho certeza sobre este dado, os ventos são muito fortes, chega a ser praticamente impossível a ascensão”, contou.

O risco das montanhas, principalmente do Pobeda, é o alto índice de avalanches na região. Outra desvantagem que os brasileiros podem encontrar na montanha é a solidão. Por serem cordilheiras pouco exploradas e o Pobeda a montanha mais difícil, as chances dos escaladores estarem sozinhos na ascensão são grandes. “Escalar sozinho gera certos riscos, as decisões são tomadas entre nós dois, teremos que abrir algumas vias e o esforço aumenta”, disse Niclevicz que relembrou a tentativa do ataque ao cume ao Makalu, em 2007, no qual também fizeram sozinhos.

Para a ascensão do Pobeda e do Kahn Tengri, os alpinistas contarão com um equipamento extra, não tão utilizado durante as escaladas: o GPS. Waldemar explica que o uso da tecnologia é por conta da fácil desorientação que pode acontecer. As montanhas possuem platôs de cerca de 12 quilômetros de comprimento por 3 de largura, que podem terminar em vales, atrapalhando o tempo e aumentando a caminhada dos aventureiros.

O retorno ao Brasil de Waldemar Niclevicz e Irivan Burda está previsto para o dia 31 de agosto.

Este texto foi escrito por: Bruna Didario

Last modified: maio 15, 2009

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