Beto Schmitz enfrentando os ventos de Brasília (foto: Beto Moyes)
Ventos de 50 km/h, rajadas a mais de 60. Condição casca grossa, decolagem critica pouquíssimo tolerante a erros, vôo turbulento e térmicas falhadas. Esta foi a condição de vôo ontem. Mesmo assim, a galera depois de um dia de cancelamento, estava fissurada e fez a prova, mas poucos conseguiram completá-la.
O carioca Luizinho Niemeyer continua na frente, seguido pelo paulista Nenê Rotor e o gaúcho Betinho Schimitz.
Entenda o que acontece – Vou tentar explicar pra vocês o que é voar assim. A decolagem exige uma equipe de apoio com pelo menos duas pessoasespecializadas. Isso porque equilibrar uma asa nos ombros com vento forte é muito difícil e a equipe de “cabos” mantém a asa no chão, segurando os cabos laterais da asa até que o piloto comande “solta!!”. Asa e piloto são praticamente catapultados para cima, e o piloto lança seu corpo para dentro do trapézio para penetrar no ventão e andar para a frente, afastando-se do relevo.
Passado este susto inicial, com o coração ainda acelerado, vem a luta para ganhar altura naquele ar rude. O vento soprando contra a parede das encostas é fletido para cima, provocando uma forte mas limitada ascendente, pois não se consegue ganhar muita altitude. A gente fica por ali, boiando no “lift”, até que pinte uma salvadora térmica, a bolha-elevador que vai nos levar até às grandes altitudes que nos possibilitem a tirada.
Já voando por cima do planalto – flatlands -, a maior dificuldade é engatar nas térmicas falhadas. Imagine a térmica ideal como um chafariz, em que o ar ascendente é “jorrado” para cima em seu núcleo, e o ar descendente cai em torno. Térmicas falhadas são estes mesmos chafarizes, só que quebrados, cizalhados pelo vento forte que o secciona em várias partes. Estas seções, sem sua ancoragem no solo, acabam derivando rapidamente com o vento, o que dificulta bastante alocalização e navegação.
E outro exemplo de térmica, esta bem mais radical e extrema, é o Dust Devil. Como o próprio nome diz, são verdadeiros demônios de poeira, rodamoinhos fortíssimos, micro-tornados que se desprendem do solo e levantam até grandes altitudes a poeira barrenta do cerrado.
Paulo César Fernandes, o Paulão, é editor da revista Airtime, veículo oficial da Associação Brasileira de vôo livre.
Este texto foi escrito por: Webventure