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No maior evento de aventura, segurança é prioridade


Piloto de quadriciclo Robert Nahas sofreu um dos acidentes graves do Sertões 2002. (foto: André Chaco / Webventure)

Em 10 anos de existência, o Rally dos Sertões evoluiu para se tornar a maior prova off-road da América Latina. Além do título tão importante, ficou nas mãos da organização do evento o desafio de coordenar cada aspecto do megaevento frente ao número crescente de competidores, à longa duração da prova e à complexa logística em locais com pouca estrutura. Ao lado da competição, um dos aspectos que mais vem sendo trabalhados no evento é a segurança dos participantes.

Sobre a décima edição, encerrada no início deste mês, ainda não há um número preciso dos acidentes. “Felizmente, neste ano, não tivemos nenhuma morte, mas pelo menos 15 casos importantes”, conta Clemar Corrêa, chefe da equipe médica. “Estamos preparando um relatório para fazer uma comparação do número de acidentes com o de pilotos e saber o que mudou do ano passado para este”, promete.

Clemar, que esteve em todas as 10 edições do Sertões, diz que é difícil evitar acidentes com competidores numa prova como esta. “Não tem jeito, estamos falando de off-road e as velocidades são altíssimas. Em moto, então, é mais exposição ainda”, diz. É bom lembrar que jamais houve um caso fatal no Sertões durante os trechos cronometrados e que o único caso de morte de competidor, o piloto Beto Macedo, em 2000, foi durante o deslocamento.

Alerta aos apoios – Para o ano que vem, a preocupação maior da equipe médica é a segurança nos carros de apoio, que também têm grande incidência de acidentes. Neste ano, houve um capotamento no deslocamento por asfalto. O carro ficou destruído. Os ocupantes foram socorridos, sem conseqüências mais graves.

“Os apoios continuam exagerando. Estamos pensando em colocar tacógrafos nesses carros, limitando a velocidade. Quem passar desse limite, fará com que seu piloto perca pontos”, sugere.

Clemar revela que também está buscando parcerias para poder equipar ainda melhor o time médico, sobretudo com um raio-X portátil. “Há cidades que nem este recurso básico têm”. No Rally, os médicos monitoram a prova em helicóptero. O primeiro atendimento é feito no local do acidente e, se necessário, a vítima é removida para o hospital com mais recursos na região.

Entre os 15 casos “importantes”, ou seja, com resultados mais graves, mencionados por Clemar, um dos mais impressionantes foi o do piloto de quadriciclo Robert Nahas. Flagrado pelas câmeras da TV naquele momento, o veículo girou no ar com ele e caiu por cima do atleta. Nahas fraturou a clavícula, duas vértebras e a bacia, em sete lugares. Está em casa e terá de ficar 50 dias sem andar. “Mas estou muito feliz, podia ter sido bem pior. Até eu fiquei impressionado com as imagens”, disse.

Nahas foi resgatado de helicóptero e transferido para São Paulo no mesmo dia. Sofreu uma cirurgia para a colocação de um pino e duas placas no ombro; não precisou ter a bacia imobilizada. “É a primeira vez que tenho um acidente assim.” O piloto diz que naturalmente repensou se voltaria ou não a competir na modalidade. E deixa escapar que tem este desejo.

Enquanto era resgatado, Nahas afirmou que “forçou demais”. Agora, conta que estava andando rápido, mas “com segurança”: “Eu não tinha tomado nenhum susto no Rally até então”. O piloto reconhece que se distraiu com o helicóptero de filmagem. “Eu percebi o helicóptero e olhei para ele, a fim de captar a imagem na câmera que trazia no capacete. Quando olhei para a planilha de novo, vi que a próxima referência estava muito em cima. Foi bobeira minha, nós sabemos que o helicóptero pode aparecer a qualquer momento e somos instruídos a não olhar”, conta.

Cansaço – A distração também é apontada pelo piloto de moto Andrés Marcondes como causa de seu acidente, que resultou em braço e mão quebrados. Ele perdeu a memória daquele momento e foi ajudado pelos colegas Fabrício Bianchini e Tiago Fantozzi, que acionaram o resgate. “Eu não tinha marcado aquela referência na planilha. Era um local que bifurcava numa curva à direita e numa linha reta. Fui reto e dei de cara com a cerca, arranquei o mourão”, descreve, com base no que lhe contaram.

“Na noite anterior, em Diamantina (MG), eu estava bastante cansado. Tinha acordado às 4h para a etapa. Já era meia-noite quando fui planilhar para o dia seguinte porque a minha caneta vermelha estava no caminhão de apoio, que demorou a chegar.” Andrés já havia sofrido um acidente no Sertões 2000, quando teve problemas nos ligamentos de uma mão.

Outro caso que impressionou no Rally foi o de Arthur Kirschner, também nas Motos. O piloto de 46 anos caiu e teve quatro vértebras e três costelas quebradas e hemorragia no pulmão. “Fui internado na terapia semi-intensiva e, graças a meu bom preparo, saí logo desta. Ficarei um mês de cama e mais três meses sem poder guiar, mas estou feliz, estou vivo e inteiro”, comenta. O filho dele, Arthur, também estava na prova e abandonou para encontrar o pai em São Paulo.

Também se recupera em casa o piloto Henry Abreu, que sofreu o primeiro acidente mais grave com moto, ainda na segunda etapa do Rally, fraturando a bacia.

Gratidão – Além de lições duramente aprendidas que valem como alerta aos demais praticantes há dois pontos em comum entre esses pilotos. Primeiro, a vontade de retornar às pistas. Depois, a gratidão e uma nfinidade de elogios à equipe médica e de resgate do Sertões, que também tem ajuda de bombeiros. O atendimento rápido faz toda a diferença: “Parabéns para a equipe que trabalhou duro no Rally; uma galera dez, minto, mil!”, cumprimenta Kirschner. “Eu só tenho a agradecer aos médicos e à organização, todos foram excelentes comigo”, finaliza Nahas.

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira