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“Nossa especial” e a rotina de repórter no Sertões

Redação Webventure/ Offroad

No fim da especiais  a hora certa de ouvir os pilotos quando a adrenalina ainda está alta. (foto: ??sis Moretti)
No fim da especiais a hora certa de ouvir os pilotos quando a adrenalina ainda está alta. (foto: ??sis Moretti)

A aventura de estar no Rally dos Sertões não se restringe a pilotos e navegadores. Muita gente trabalha nos bastidores da prova para que ela aconteça. E há os que levam a prova a todo mundo que não pode estar participando deste superevento este é o papel da imprensa. A gente sempre fala da competição, mas fica a curiosidade de saber como é cobrir um evento desses. Daí o motivo desta matéria.

Foram rotinas diferentes para nós, repórteres, dependendo da missão de cada um. Alguns amanheciam dentro dos trechos cronometrados e só saiam de lá quando o último veículo passasse, caso dos fotógrafos de ação. Outros sobrevoavam a prova. E para mim, repórter desta cobertura oficial, e outros jornalistas de revistas e jornais, a rotina era praticamente escolher entre o início e o final de cada etapa, onde encontraríamos os competidores para entrevistá-los.

Nossa “casa” – Ir até o fim das especiais não era simples como parece. Entre a cidade onde havíamos dormido e esse local onde terminava o trecho cronometrado, às vezes havia 400, 500 km a serem encarados no asfalto ou na terra. A imprensa convidada do Rally viajava em turmas de dois a três jornalistas, mais um motorista da organização, num veículo também cedido por ela. No meu caso, encarei os nove dias de prova tirando o prólogo, em Goiânia ao lado das repórteres Ana Lúcia Moraes, da revista Fora de Estrada, uma amiga desde que comecei nesta área; e Ísis Moretti, da 4×4 & Cia, que estava em seu primeiro Sertões.

Não tínhamos apenas um motorista, mas um amigo, nosso “piloto” Denir Serafim. E uma Mitsubishi Pajero TR4 foi a nossa “casa” nesses nove dias, abarrotada com as nossas bagagens que incluíam as malas de roupas, barracas, sacos de dormir e um notebook e câmera para cada uma.

Na estrada – A nossa rotina era levantar cedo e partir para o destino escolhido na noite anterior em comum acordo entre os quatro. Na maioria das vezes fomos para o fim das especiais, onde era possível ouvir os competidores fazendo um balanço do dia. As horas e horas rodando até aquele local eram embaladas por três elementos: o bom bate-papo, muita música e, claro, aquelas cochiladas inevitáveis.

Fazíamos sempre algumas paradas em postos de gasolina para abastecer e dar aquela esticada. Ali sempre encontrávamos com equipes de apoio conduzindo caminhões e motorhomes até a cidade-destino do dia. Nas viagens mais longas esse tempo era usado para adiantar matérias e o posto virava nossa “redação” improvisada.

Dois dias marcaram muito a nossa aventura. Foram os dias em que tivemos um rali só nosso… Entre Araguaína (TO) e Carolina (MA), rumo ao final da segunda especial, nos perdemos um pouco… Fomos parar num ponto da primeira especial, perto de uma cidade chamada Filadélfia, bem longe dos EUA… Para chegar ali, percorremos uns 40 km em uma estradinha de terra paralela, entre Wanderlândia e Babaçulândia (!), num trecho que o tempo todo chamamos de “a nossa especial”.

Ela foi batizada de “Especialândia” e tinha de tudo: ponte pênsil, mata-burro, lombas, deps, subidas… ninguém pelo caminho e uma paisagem maravilhosa, com muito verde e o relevo ao longe do Parque Chapada das Mesas. E a gente sacolejando no carro…

No Maranhão – No penúltimo dia de Rally, em Barra do Corda (MA), a gente nem esperou o dia seguinte para cair na estrada. Saímos ainda à noite, em comboio de quatro carros, para alguma cidade na direção de Barreirinhas (MA), local da chegada da segunda especial. Dormimos em Corumbatá (MA) e cedinho partimos para o trecho de deslocamento para a primeira especial. Antes de chegar nela, desviamos e seguimos rodando por terra até Morros (MA), onde o asfalto nos conduziria a Barreirinhas.

Naquele trecho de terra, cruzamos alguns vilarejos quase que isolados do mundo onde, no caso de uma especial certamente, seriam zonas de radar para forçar os competidores a irem devagar. Havia gente fazendo a farinha de mandioca, crianças brincando – e toda a rotina parou por segundos para ver nosso carro passar. E em qualquer canto sempre tinha um campo de futebol. E mais verde. Impressionante como o percurso deste Sertões foi cheio de verde e árvores pelo caminho, de Goiás até o Maranhão…

Na chegada das especiais, era esperar pelos competidores e matar o tempo conversando com a equipe técnica, que passava o dia ali. E, debaixo da poeira levantada pelos carros, motos e caminhões chegando, clicar os bastidores e descobrir aquelas histórias curiosas vividas por eles no meio da trilha, muitas reveladas na novidade desta nossa cobertura, o Blogventure, nosso diário do Sertões.

Depois era ir para a cidade, deixar a bagagem no hotel às vezes nem dava tempo disso – e seguir para a sala de imprensa, montada quase sempre ao lado dos acampamentos das equipes. Lá se iam muitas horas para organizar as fotos, áudios, escrever e colocar tudo no ar. Sempre que possível, uma pausa para assistir aos briefings da organização com os competidores.

Quando a sala fechava, no fim da noite, aí sim uma pausa para jantar onde todo mundo se misturava, jornalistas, pilotos de ponta, organização… – e definir o que fazer no dia seguinte. Hotel, banho, horas de sono e a cabeça fervilhando com idéias de mais matérias e lembranças do dia agitado e o despertador tocava religiosamente no comecinho da manhã, para mais um dia de Rally. Mais um dia? Não, já estou na redação, em São Paulo, e o Rally acabou. Agora só no ano que vem… que pena!

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira/Webventure

Last modified: agosto 5, 2003

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