Eu cruzando a linha de chegada. (foto: Paulinho/Sampa Bikers)
Tinha uma pedra no meio do caminho. Já ouviu essa frase? Bem, no último fim de semana eu realmente vi o que era não uma, mas várias pedras no meio do caminho. Para variar lá fui eu competir uma prova para poder escrever como repórter-atleta (não atleta-repórter) como era o percurso, dificuldades e tudo mais.
A prova escolhida foi o PowerBiker, uma das maiores competições de mountain bike do país, realizada em Passa Quatro (MG). Os atletas foram divididos em três categorias: Ouro (percurso de 45km no sábado e 48km no domingo para atletas profissionais); Prata (45km no sábado e 25km no domingo) e Bronze (23km no sábado e 25km no domingo).
Me inscrevi na Bronze, claro, pois apesar de fazer umas corridinhas de aventura por aí era a minha primeira prova de mountain bike e eu não sabia ao certo qual era o esquema.
A largada – A largada aconteceu às 10h30 na frente da estação ferroviária da pequena cidade. Pois é, lá tinha até Maria-Fumaça, coisa que quem mora numa cidade como São Paulo não está acostumado a ver ou nunca viu.
Eram muitas bikes enfileiradas atrás do pórtico de largada. Na verdade, 710 bicicletas. Na frente, esperando o apito inicial, estava o pelotão de elite. Bikers profissionais, como Edvando Souza Cruz (Caloi), Odair Pereira (Scott/Fiat), Abraão Azevedo (Amazonas/Sundown), com as melhores bicicletas, melhores capacetes e grandes títulos. A categoria Ouro era a primeira a largar. Em seguida, largavam a Prata e a Bronze. Como boa observadora, me posicionei lá atrás de todo mundo, sendo uma das últimas.
A largada é linda. O locutor avisa que faltam dez segundos e entra uma música com uma contagem regressiva em inglês, em ritmo eletrônico. E no go, todo mundo sai pedalando, alucinado, disputando a melhor posição já nos primeiros metros.
Empurra-bike e pedras! – Meu objetivo era fazer um passeio analítico, prestando bastante atenção no percurso e na euforia dos meus adversários. Mas, mesmo passeando, a prova foi pesada pra mim.
No sábado, primeiro dia de prova, o percurso tinha muita, muita subida. Eram 23 km no total e uns dez de subida tipo paredão. Muitos atletas tiveram que empurrar a bike por vários quilômetros inclusive eu! Um atleta que estava empurrando a bike do meu lado disse uma hora a gente vai ter que descer tudo isso. Escutar essa frase foi um alívio! Durante o perrengue do empurra-bike, conversei bastante com uma atleta, a Isabela, que ficou me contando da alegria que ela sente ao competir, etc, e o tempo foi passando e fui me divertindo. Depois fui descobrir que ela era uma das minhas adversárias, também na categoria Bronze Feminino.
O cansaço só diminuiu no km 12, no posto de abastecimento de água, quando começou um extenso downhill. Ali, a língua já estava de fora. Eu queria era terminar logo o percurso e cruzar a linha de chegada. Mas a paisagem era tão bonita que eu não tinha nem coragem de pedalar no meu máximo, me matar, para conseguir prestar atenção em tudo.
A descida até a chegada tinha uns 13 km. E muita, muita, muita pedra solta. Eu estava com calos na mão da corrida de aventura (Short Adventure) que tinha feito no fim de semana anterior e minha mão começou a doer muito, pois estava na descida, em alta velocidade, com a bike pulando nas pedras. Haja mão!!!
Cruzei a linha de chegada no sábado muito feliz, pois pedalei entre as montanhas, vi vacas, bois, pastos, ouvi o canto dos pássaros e fiz esporte! Quer coisa melhor?
No domingo já foi diferente. Eu queria pedalar forte, não só passear para fazer a matéria. Queria aproveitar também para treinar para as minhas próximas aventuras. Mas como uma iniciante em provas de mountain bike, me dei mal.
Deixei para largar atrás de todo mundo de novo, e depois não consegui alcançar ninguém. Tudo porque juntava muita gente no começo da largada, para passar num pequeno espaço logo no começo da prova e quem conseguisse disparar ali, pronto! Ninguém mais alcançava. E na confusão da largada ouvi um biker gritar atrás de mim na montanha a seleção é natural. Que confiança, não!?
No domingo, a prova foi bem mais rápida. Menos subidas e mais retas, sendo o mesmo percurso para as categorias Prata e Bronze (por isso acumulou muita gente no começo!). Começou com 6km de subida e eu subi forte, sem descer da bike um minuto, acompanhando o ritmo dos bikers que estavam ao meu lado. Depois dessa subida, começamos a rodear a montanha, no plano, conseguindo atingir grande velocidade. Mais uma vez passamos por riachos, entrada de fazendas, sombra…
A maior emoção – Eu estava amando tudo aquilo, mas a melhor parte da prova ainda estava por vir. No últimos cinco quilômetros tinha um single track (onde só passa um biker de cada vez), e enquanto eu estava pedalando feliz e contente escutei abre, abre. Joguei minha bike para o canto esquerdo, na grama, e quando vi passaram por mim o Edvando Souza Cruz (campeão do PowerBiker no ano passado) com o Abraão Azevedo, literalmente, colado na bike dele. Eles passaram voando por mim, muito rápido mesmo. Pareciam que estavam com speed (bicicletas de velocidade, usadas em triathlon) e não mountain bike.
Eram os dois primeiros bikers a terminar aquele segundo dia de prova do PowerBiker 2004 e disputavam, grudados, a linha de chegada. Quando me recuperei de um quase atropelamento, e voltei para a trilha, ouvi abre, abre de novo. Passaram mais dois atletas da elite voando…e bem na hora que eu estava atravesando uma pontezinha, olhei para trás e vi o Odair Pereira também voando, com outro biker grudado nele…
É muito bonito vê-los, depois de 45 quilômetros de percurso, brigando por cada centímetro de terreno para conseguir chegar na frente. E eu, achando que estava super rápido, fazendo a maior força do mundo pra conseguir completar o percurso da melhor maneira possível, quando vejo as máquinas do mountain bike passando a milhão por mim….é muita emoção! A cena é muito bonita.
Chegada – E eu completei o PowerBiker 2004. Somando os dois dias de prova, pedalei 3h59min52, sendo 23km no sábado e 25km no domingo. Conquistei sem querer a 7ª colocação na categoria Bronze Feminino. Cruzei a linha de chegada, tomei banho, almocei, e peguei meu bloquinho para entrevistar os campeões.
Adorei esta minha primeira prova de mountain bike e vou me preparar para outras. Gostaria de agradecer ao Sampa Bikers pelo convite para eu participar como repórter-atleta do PowerBiker 2004 e aos mecânicos da Pedal Power que deram um jeito na minha bike minutos antes da largada porque, ainda por cima, meu pneu estava murcho, meu computador de bordo não estava funcionado, etc…Faz parte!
Este texto foi escrito por: Camila Christianini