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Novo parque no Rio de Janeiro tem potencial para trekking e esportes náuticos, segundo André Ilha


Lagoa e região de restinga (foto: Divulgação André Ilha)

O Rio de Janeiro ganhou na última quarta-feira (21) uma nova reserva natural o Parque Estadual da Lagoa do Açu, em Campos de Goytacazes com nada menos que 8.251 hectares (mais que o dobro do Parque Nacional da Tijuca).

Criado a partir da iniciativa do montanhista André Ilha, também diretor de biodiversidade e áreas protegidas do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), o parque abriga um enorme banhado e uma lagoa, importantes áreas de restinga e uma extensa faixa de praia, local de desova de tartarugas marinhas. A região ainda é local de pouso e nidificação de aves migratórias e abriga uma grande variedade de espécies ameaçadas de extinção.

Apesar de sua importância para a preservação da biodiversidade no estado, a criação do parque se arrastou por 5 anos. Leia abaixo entrevista ao Webventure, onde André conta detalhes do processo.

Como surgiu a ideia de criação do parque?
A restinga daquela região foi considerada a segunda mais ameaçada do país por um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e do Instituto Biomas. Havia grandes extensões preservadas, mas em 2007 tivemos a notícia da implementação do maior distrito industrial do Brasil na região o Porto Açu, do grupo EBX, do Eike Batista. Esse distrito tem mais de 8 mil hectares e é um verdadeiro ímã para outros empreendimentos, que já estão se instalando ali. A previsão é que a população do município de São João da Barra, onde está o distrito [e que é vizinho do parque], vai decuplicar [aumentar em 10 vezes] nos próximos anos. Era necessário ter uma reação à altura, em termos de preservação, porque toda essa pressão fatalmente vai destruir muito da vegetação e das lagoas.

Qual foi sua atuação nessa negociação?
Tive participação direta. Era minha responsabilidade criar alguma ação que impedisse o desaparecimento da restinga remanescente, por conta de toda essa pressão antrópica [causada pelo ser humano]. Então, propus a criação do parque. Mas, devido a uma série de negociações e discussões, o formato final ficou da seguinte forma: essa reserva abrange uma parte do bioma, enquanto o grupo EBX criou uma grande Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), a maior do Estado do Rio de Janeiro, com mais de 3.800 hectares, que abriga representações de todas as tipologias de restinga. Com isso, conseguimos chegar ao ponto de 12 mil hectares em unidades de conservação, de proteção integral.

A garantia de preservação em uma RPPN é a mesma de uma reserva pública?
Absolutamente a mesma. O proprietário tem essa responsabilidade e, no caso, sabemos que o proprietário tem recursos para ter vigilância, que já foram instaladas, o que impede qualquer tipo de invasão. Além disso, todas as áreas degradadas existentes dentro dessa reserva privada já estão sendo recuperadas, como compensação da supressão da vegetação pelas diversas indústrias que estão se implantando no distrito. Temos a garantia de recuperação de todas as áreas que no passado tiveram a vegetação suprimida, seja na RPPN, seja no parque.

O parque estará aberto ao público? Ele possui atrativos turísticos?
Nós nos orgulhamos de ter no Rio de Janeiro uma das políticas de público mais libertárias de todos os estados do Brasil. Em parte por causa da minha origem de montanhista. Eu entendo bem a importância de se levar pessoas para essas áreas. Esse parque é completamente plano, não tem nenhuma elevação, nenhum afloramento rochoso, mas ele tem ótimas opções para caminhadas e também esportes náuticos, como canoagem ou windsurfe.

Existe projeto de infraestrutura para isso?
Não tenha dúvida. Até porque, em virtude de tudo o que acontece lá, o grupo EBX se comprometeu a bancar a implementação e a operação do parque, a longo prazo. Temos a garantia de que todas as estruturas administrativas e de uso público que identificarmos como necessárias vão ocorrer em um prazo menor do que o normal para parques públicos.

Em um primeiro momento, pensamos em bases de apoio a esses esportes náuticos. Deques para partidas de caiaque, de pranchas de windsurfe, que são perfeitamente possíveis de serem utilizados, e também aluguel de serviços relacionados a esses esportes. Mas, tudo de acordo com nossa política de uso público, em caráter excepcional. Em nenhum parque nosso [coberto pelo Inea] queremos um serviço imposto aos visitantes, sejam turistas ou praticantes de esportes de aventura. Nossa política é oferecer uma ampla gama de serviços, mas sempre de caráter opcional.

Este texto foi escrito por: Pedro Sibahi