2008 deve ser ainda melhor (foto: David Santos Jr)
O ano de 2007 foi a décima temporada das Corridas de Aventura no Brasil. Dez anos se passaram desde a pioneira Corrida lançada por Alexandre Freitas, o EMA 98.
Pretendo neste ensaio, feito a convite do Webventure, ao qual agradeço a oportunidade, fazer uma análise técnica do que aconteceu com o esporte neste ano.
É uma visão pessoal, que reflete apenas as opiniões minhas, e não de minha equipe.
A Disputa do RBCA em 2007 – O Ranking Brasileiro de Corridas de Aventura (RBCA) teve uma disputa intensa em 2007, com três equipes alternando a liderança: Atenah Natura, Mitsubishi Quasar Lontra e Motorola SOS Mata Atlântica. Os nomes das equipes já mostram o principal motivo: estrutura. Apenas com parcerias e patrocínios, e os conseqüentes recursos financeiros, é possível dar às equipes condições de estar presentes nas principais competições, bem preparadas e equipadas.
A liderança terminou nas mãos da Motorola SOS Mata Atlântica, pois foi a equipe mais consistente nas provas de média duração que, por sua boa pontuação, e a ausência de um número maior de expedições, ainda determinam os rumos do RBCA. A equipe foi bem em todas as provas médias importantes do ano, tendo vencido quatro delas (Try On Meeting, Chauás Lagamar, Brasil Wild Itararé e Chauás Chapada dos Veadeiros), além de conquistado a 2ª colocação no Brasil Wild São Lourenço e a 4ª colocação no Carrasco DAventura.
O ano marcou também o retorno da equipe Oskalunga, agora com o patrocínio da Sundown. A equipe de Brasília venceu todas as etapas do Circuito Adventure Camp, e foi a melhor brasileira no Ecomotion/Pro, terminando o ano em 4º lugar no RBCA, e muito motivada para conquistar a liderança em 2008, repetindo a hegemonia conquistada em 2004 e 2005.
A Mitsubishi Quasar Lontra teve bons desempenhos, e com o 2º lugar no Try On Meeting e a vitória no Brasil Wild São Lourenço, assegurou a vice-liderança no Ranking. E a Atenah Natura, como sempre, esteve entre as melhores. Foi 3ª colocada no Brasil Wild São Lourenço e Brasil Wild Itararé, e a vice-campeã do Carrasco DAventura. Faltou para as meninas uma vitória em 2007, ou um desempenho arrasador como o obtido no Ecomotion/Pro 2006.
A Selva NKS Kailash teve duas vitórias, no Chauás Águas de Lindóia e Carrasco DAventura, e assegurou a 5ª colocação no RBCA 2007. Vale destacar a presença de equipes de outros estados entre os top 10 do RBCA, como a Trotamundo (MG), Tapuias (RN) e Papaventuras (RS).
Resumindo, em 2007 tivemos a Motorola SOS Mata Atlântica dominando as provas de média duração, Oskalunga Sundown as corridas de curta duração, e Mitsubishi Quasar Lontra, Atenah Natura e Selva NKS Kailash constantemente se alternando nos pódios das provas.
No Ranking de Duplas, AKSA e ARS São Francisco travaram uma linda disputa, só decidida em favor da ARS na última etapa. O que chamou muito a atenção de todos, foi o respeito e companheirismo existente entre estas duas equipes, criando um clima muito favorável ao crescimento das Corridas. Na categoria solo, Alexandre Maturano, da Curtlo Lobo Guará foi o vencedor.
Tivemos em 2007 a segunda edição do prêmio APCA – Associação Paulista de Corridas de Aventura, para os destaques do ano. A eleição foi feita entre os sócios da APCA, via internet. Uma promoção foi realizada no sentido de permitir rápida associação aos interessados em votar. Respondendo a uma pesquisa on line, de imediato a pessoa se tornava associada da APCA, e apta a participar da escolha.
Acho este prêmio um grande passo para as Corridas. Agitam o mercado, criam ídolos e mobilizam a mídia especializada. É uma iniciativa que deve continuar e se expandir para outros estados.
No entanto, a forma como é conduzida a eleição está totalmente inadequada. E os resultados da votação mostraram isto.
Todas as categorias referentes a equipes e atletas foram vencidas por uma única equipe, a Selva NKS Kailash. A Selva teve atletas aclamados nas categorias Melhor Navegador, Melhor Atleta Masculino, Melhor Atleta Feminino, Melhor Equipe de Apoio e, para surpresa geral, Equipe Revelação.
Ora, o prêmio de melhor equipe revelação deveria ser disputado por equipes novas, com pouco tempo de existência, que mostraram um grande trabalho. É na verdade um incentivo a formação de novas equipes. A Selva existe desde 2002, e faz parte do grupo de equipes de ponta há muito tempo. Não poderia ser aclamada equipe revelação, pois não foi revelação nenhuma o ótimo desempenho da equipe em 2007. A Selva inclusive, terminou o ano de 2006 como 3ª colocada no RBCA, posição superior em relação ao 5º lugar obtido em 2007.
Outra equipe – Em minha opinião o prêmio de revelação em 2007 deveria ir para a AKSA, esta sim uma equipe nova, que mereceu destaque. Vale também uma menção a ARS São Francisco, mas esta já vem despontando com um excelente trabalho desde 2006.
Não quero com esta posição desmerecer as pessoas premiadas ou a Selva Aventura. A Selva está fazendo um grande trabalho. Tem uma equipe coesa, unida e de grande valor. Faz um trabalho muito bacana através de sua assessoria esportiva, e criou uma grande família, defendida com orgulho por todos os participantes.
O Chiquito e a Rose, vencedores dos prêmios de melhores atletas, são ótimos corredores, batalhadores e vencedores. Merecem todas as homenagens, pela sua dedicação, carisma, humildade, são pessoas e atletas incríveis. No entanto acho que os aspectos de estratégia e navegação deveriam pesar na hora de se escolher um melhor atleta nas Corridas.
O prêmio de melhor navegador para o Caco foi merecido. Ele foi, na média, o melhor navegador do ano, com destaque para as provas do Carrasco e Ecomotion/Pro.
Minha sugestão é que a partir de 2008 os indicados para o prêmio APCA sejam escolhidos por uma junta técnica formada por profissionais que atuam no mercado das Corridas, como organizadores e membros da imprensa. E mais do que isto, que haja uma justificativa do porque de cada indicação, para após escolhidos os três melhores de cada categoria, possa haver uma coerente escolha do melhor.
Infelizmente ainda não podemos chamar as Corridas de Aventura de Esporte. Não existem regras formais, provas oficiais, e entidades que oficialmente regulamentem esta prática.
As provas estão nas mãos de pessoas que organizam os seus circuitos de acordo com as suas idéias pessoais, e criam regulamentos próprios, muitas vezes sem levar em conta aspectos esportivos e as aspirações dos atletas.
Eu sempre tive dificuldade em lidar com isto. Venho de um esporte formal, a Canoagem, com regras rígidas, específicas. Isto dá norte e segurança ao atleta. Alguns dizem que as Corridas, por serem praticadas em ambientes abertos e imprevisíveis, tornam impossível um regulamento único. Eu discordo desta afirmação, e acho que dentro do imprevisível, existe espaço para uma forma única de conduta perante as adversidades.
Alguns estados já fundaram as suas Federações e Associações, e o único caminho, se quisermos ver as Corridas de Aventura se tornarem um esporte de fato, é toda a comunidade se envolver e participar destas estruturas, até estabelecermos uma Confederação Nacional, que regulamente a prática das Corridas do Brasil.
Uma das perguntas que persistiu em 2007 foi o porquê de tanta distância entre as equipes estrangeiras de ponta e as nacionais.
Durante o Ecomotion/Pro de Búzios, tivemos a oportunidade de andar entre os líderes da prova durante aproximadamente 14 horas. O ritmo imposto é sem dúvida muito forte, mas não é diferente do ritmo que andamos em uma prova média aqui no Brasil. Acho que a principal diferença está no foco de corrida, na concentração, e principalmente na capacidade de manter o mesmo ritmo, e até acelerar progressivamente, durante toda a prova.
Acho que esta capacidade deles vem da experiência e da prática do correr expedições. Enquanto nós fazemos uma expedição por ano, muitos deles fazem uma a cada 2 meses, ou até menos. Eles têm organismos mais adaptados a isto, e são mais sérios e centrados na progressão.
A equipe nacional que mais tem feito expedições é a Quasar Lontra, mas a troca constante de atletas em sua formação tem impedido a formação de um time sólido, que possa correr de igual pra igual com os gringos neste tipo de prova.
Investimento – Outra equipe que investiu nas expedições em 2007 foi a Selva NKS Kailash, que totalizou três provas no ano: Desafio dos Vulcões (com um ótimo 4º lugar), Ecomotion/Pro (com um ótimo 8ª lugar) e Abu-Dhabi, onde conviveu com as melhores equipes do planeta. Acho que a tendência é a Selva crescer ainda mais nesse tipo de prova.
Temos atletas com potencial de sobra para diminuir a distância imposta pelas equipes estrangeiras, exemplo disto foi a performance da Fernandinha (Fernanda Maciel, da Atenah) na Portugal XPD, no mês de dezembro. Ela foi a vencedora da etapa portuguesa do Circuito World ARSeries com a equipe espanhola Teva. Foi tão incrível a performance de nossa atleta, que ela vai ter que rebolar com os convites que surgirão para ela disputar o Mundial 2008, no Brasil. Também vale citar a Shubi (Silvia Guimarães), que ano passado ficou em 8º lugar no Mundial, onde participou com uma equipe sueca. Além do Rafael Campos, que também acumula uma grande experiência, e se quisesse, poderia estar compondo uma equipe internacional.
De uma forma geral, acho que as Corridas de Aventura cresceram no cenário nacional em 2007. A vinda do Mundial para o Brasil, o anúncio de uma nova expedição em território brasileiro (Brasil Wild Extreme), e até mesmo o cenário de poucas provas de 24 horas em São Paulo, são prenúncios de um 2008 muito agitado.
Principalmente pelo fato que muitas equipes experientes de São Paulo vão ter que viajar pelo país para disputar provas e se manterem firmes no Ranking, e desta forma vão levar experiência e conhecimento para as equipes de outros estados, que sempre tiveram poucas oportunidades de compartilhar o esporte com equipes mais experientes.
O Mundial vai trazer investimento e divulgação para as corridas. O Brasil Wild Extreme, que está com um número recorde de pré-inscrições, vai introduzir um grande número de equipes para as Expedições, e vai ajudar a dar ritmo aos brasileiros para o Mundial.
Este texto foi escrito por: José Roberto Pupo (Capitão da Equipe Motorola SOS Mata Atlântica)
Last modified: janeiro 9, 2008