Descenso com montanhista incapacitado (foto: Elenita Betiol)
O consultor e colaborador do Webventure Marcelo Krings é responsável pelo curso de auto-resgate do Clube Alpino Paulista. Aqui ele conta o objetivo do curso e fala da importância dos procedimentos de socorrismo nos casos de risco. Confira.
O Curso de auto-resgate para montanhistas surge como um complemento técnico para o CBM (Curso Básico de Montanhismo) ou CIM (Curso de Iniciação ao Montanhismo) que os clubes de montanha ministram para seus associados e outros interessados.
O CBM no CAP apresenta a montanha e as possibilidades de desenvolvimento como escalador em rocha, caminhante e espeleólogo alternando teoria e prática em quase dois meses de atividades.
Quando o montanhista recém formado deixa seu instrutor e passa a realizar atividades com seus colegas de curso podem surgir situações que ofereçam risco.
Do mesmo modo o montanhista que ficou afastado das atividades de montanha ou queira reciclar conhecimentos pode aproveitar para lembrar de algumas técnicas antigas e aprender algumas mais novas.
Requisitos – Para realizar este curso é necessário ter feito o CBM ou ter experiência reconhecida como montanhista, pois a instrução parte do pressuposto que o aluno conhece técnicas básicas como nós, ancoragens, manejo de equipamento, mínimo impacto em atividades de campo, primeiros socorros etc.
A premissa fundamental do auto-resgate é a prevenção de acidentes. Mais do que falar sobre prevenção, a prática em campo é fundamental para verificar e sentir na pele a grande dificuldade técnica oferecida por qualquer tipo de atividade que envolva retirar um colega com problemas em um local exposto e numa situação arriscada.
Durante a prática, os alunos passam por exercícios, algumas vezes cansativos e tecnicamente complexos, que, efetivamente, podem resgatar ou transportar um colega ferido de um ponto a outro, para um local ou posição mais favorável. Estes procedimentos normalmente não são uma tarefa simples e possuem riscos inerentes que tem que ser conhecidos e superados.
Convêm lembrar que o curso não trata de situações de resgate organizado e sim de atividades que podem ser realizadas entre dois ou três colegas montanhistas em apuros.
A questão do resgate organizado assim como do resgate médico ou aero-médico não são abordados nesta atividade e fazem parte de um passo posterior que entra na área de busca e resgate.
A teoria é oferecida em duas aulas totalizando 6 a 8 horas de discussão e diferentes abordagens da segurança em campo, passando pelos limites psicológicos, técnicos e físicos de cada um dos alunos. São apresentadas diversas situações problema durante as aulas e em atividades via Internet. Nelas é que se faz a construção do conhecimento que dá origem às soluções técnicas que serão aplicadas e direcionadas para a situações práticas.
Dilema – Normalmente as soluções debatidas apontam para procedimentos existentes, mas que nunca foram examinados pelos alunos, pode se dizer que a aula em sí é uma provocação. Exemplo: só sobrou um cordim, parei no vazio, no nó do fim da corda como você sai daí?
Há uma aula de meio período (que este ano aconteceu na Casa de Pedra Sumaré) onde os alunos treinam procedimentos básicos com ascensores e descensores constritores e mecânicos. Muitos montanhistas nunca utilizaram um ascensor de mão ou de peito e neste dia tem oportunidade de usá-los para as mais variadas situações em um ambiente controlado.
A aula prática acontece na Pedra Grande de Atibaia ao longo de dois dias. Aqui a instrução não é em um ambiente controlado: venta, faz sol, chove (este ano choveu!), e o principal de tudo trabalhando a muitos metros do chão onde qualquer deslize pode levar a uma situação complicada, exatamente como na montanha.
Nestes dois dias pratica-se o clássico sistema Pé Corpo e o não tão clássico sistema de redução 3:1 e 6:1 com equipamento mínimo e com todo o equipamento disponível.
Outra prática bastante treinada foi o rappel duplo com um colega incapacitado e a ascenção por corda em conjunto com um ferido.
Prevenção – Estou certo que treinamentos deste tipo ajudam a manter a prática do montanhismo mais segura, embora é certo que não estamos livre de acidentes. Existem dois elos fracos na eminência do acidente: um é o ser humano e o outro é o componente que a natureza mutante e às vezes imprevisível nos impõe.
Uma pessoa bem treinada, consciente de suas habilidades e limitações não pode domar a natureza, mas pode sim antecipar minimamente seus “movimentos” e características levando a uma prevenção cada vez mais eficiente.
Para terminar vale lembrar que: desrespeito às normas básicas de segurança + excesso de auto confiança + improvisação = acidente . Não façam isto em casa, muito menos na montanha.
Este texto foi escrito por: Marcelo Krings