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O desafio da educação ao ar livre


Pessoas de diferentes perfis encontram-se para o desafio (foto: Shelly Zaclis)

No lugar das tradicionais salas de aula, muitas trilhas, montanhas, mato, cachoeiras e céu estrelado…

Já bastante difundida em países como Estados Unidos, Inglaterra e Austrália, a educação ao ar livre vem sendo cada vez mais procurada no Brasil. A recente chegada da Outward Bound no mercado brasileiro veio comprovar este fenômeno. A organização sem fins lucrativos foi criada em 1941 por Kurt Hahn, um renomado educador alemão, inicialmente com o objetivo de ajudar jovens marinheiros na 2ª guerra mundial a desenvolverem a confiança e a atitude necessária para sobreviver a severos desafios físicos.

Hoje, a organização atua em 32 diferentes países com 52 escolas, difundindo a educação ao ar livre e a idéia de que cada indivíduo é capaz de fazer mais do que acredita poder fazer. Neste feriado de 7 de setembro, a escola brasileira realizou seu terceiro curso, que teve como cenário a Serra da Mantiqueira, localizada na fronteira entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O ponto de partida do curso foi em São Paulo, onde os participantes se encontraram para receber instruções iniciais, preparar os equipamentos necessários para a jornada e planejar alguns pontos essenciais da viagem.

Terreno para transformações – Apesar de terem perfis, experiências e estilos de vida bastante diversos, todos os participantes compartilhavam a mesma vontade de deixar de lado a comodidade da rotina, do ambiente familiar e do cenário urbano para crescer experimentando a aventura e o desconhecido.

Com mochilas e equipamentos preparados, os alunos seguem viagem acompanhados de instrutores com vasta experiência em atividades outdoor e desenvolvimento pessoal. Os instrutores neste tipo de curso atuam como agentes facilitadores do processo de aprendizagem e não como professores convencionais. Segundo Marcelo Silveira, que participou do curso para instrutores na Outward Bound Austrália, “a grande sacada da educação experiencial está nas pessoas descobrirem por elas mesmas através da vivência e não em receber tudo pronto e mastigado do instrutor”.

Durante todo o curso, os facilitadores estimulam a discussão e o debate sobre as experiências vividas, mas sempre deixando as decisões e as conclusões a cargo dos alunos. A orientação e navegação durante o trekking é um grande exemplo disso. Os instrutores orientam os alunos na leitura de mapas e navegação, passando progressivamente a decisão aos alunos, garantindo sua segurança.

“Nós apenas estabelecemos o ponto de partida e ponto de chegada, mas todo o trajeto é definido pelos alunos, que analisam mapas e bússolas até chegarem em um consenso de qual caminho seguir”, diz Bebel Barros, assistente de Programas da Outward Bound Brasil. Essa flexibilidade torna o ambiente de aprendizado estimulante e propício para o desenvolvimento de liderança, julgamento, trabalho em equipe, auto-conhecimento e confiança.

Além da definição do trajeto, os participantes são agentes ativos em todos os aspectos da expedição. Eles são responsáveis por cozinhar, armar as barracas e definir seus times de trabalho. “Enquanto o aprendizado teórico utiliza apenas a razão, o aprendizado experiencial reúne razão e emoção, o que facilita a absorção de determinados conceitos”, assegura Jorge Gibbons, instrutor da Outward Bound Brasil.

O curso alterna dinâmicas de grupo para desenvolvimento pessoal, com atividades para desenvolvimento de habilidades mais técnicas, como orientação e navegação em ambientes externos, técnicas de campismo e longas caminhadas e principalmente preservação ambiental.

Não Deixe Rastros – A Outward Bound Brasil, utiliza os princípios do Leave no Trace como base para suas expedições. O Leave no Trace, que foi traduzido para Não deixe Rastros, é um conjunto de princípios e regras de ética em atividades outdoor. Ele foi criado por uma organização não-governamental americana como uma iniciativa de difundir a responsabilidade ambiental e os princípios de mínimo impacto em ambientes naturais. Os princípios abordam desde aspectos do planejamento da viagem que possam causar impacto ao ambiente natural até técnicas de caminhada e campismo, conduta com lixo, fogueiras e fauna.

Estes princípios estão começando a ganhar terreno no Brasil através de iniciativas de profissionais da área em conjunto com órgãos governamentais e, principalmente, através de sua divulgação por escolas envolvidas com educação ao ar livre, como é o caso da Outward Bound Brasil. De acordo com Bebel Barros “o Leave no Trace pressupõe que cada pessoa tome a atitude de causar o mínimo impacto à natureza, pois assume que o impacto causado ao meio ambiente ocorre por falta de informação das pessoas e não por vandalismo”.

Apesar de envolver longos trekkings (de 6 a 10 horas por dia) e comprometimento total dos participantes, não é necessário ter experiência anterior em caminhadas ou camping para realizar um curso deste tipo. O objetivo é que cada participante tenha uma experiência marcante, aprenda sobre si mesmo, sobre o ambiente natural e sobre como trabalhar em equipe com um objetivo comum. Em função deste último aspecto, a procura pela educação ao ar livre vem aumentando também no ambiente empresarial.

Muitas empresas estão preocupadas em desenvolver em seus executivos habilidades para liderar e trabalhar em equipe. Mas apesar de serem de muita utilidade para pessoas já maduras e imersas no mercado de trabalho, estes cursos também são indicados para adolescentes, que são estimulados desde cedo a apreciar e preservar a natureza e conviver em grupos, desenvolvendo aspectos cruciais de suas personalidades.


Para maiores informações sobre cursos:

Outward Bound Brasil
http://www.obb.org.br
fone: 55-11-5641-4124

Este texto foi escrito por: Shelly Zaclis