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O dia-a-dia no Paris-Dakar-Cairo

Existe uma mistificação em volta do Dakar, pelo que tem nos parecido. Até o
momento, – 6a etapa em Niamey – pouco difere do que vivemos no Rally dos
Sertões, em vários aspectos:o tipo de solo, as especiais, que lembram demais
o estado do Tocantins e o de Minas Gerais. Por enquanto estamos em casa!

A coisa que mais impressiona a todos é a miséria. A quantidade de crianças,
sempre negras e da mesma idade, muito pobres, mas de traços finos e muito
bonitas, como as mulheres, muito lindas. O que vemos muito também são
meninas com no máximo 14 anos, todas grávidas. Mas a pobreza é demais.
Tudo o que jogamos no chão (não há lixo), eles pegam. Nos foi dito que a
tendência das próximas cidades é piorar.

As cidades então, nem se fala. São muito pobres. Carros que no Brasil
encontraríamos em sucatas, estão nas ruas como táxis. O Walther, nosso
cinegrafista, e o Miguel, nosso fotógrafo foram fotografar uma largada e pegaram
um táxi que parou duas vezes para apertar a roda que estava caindo,
literalmente.

Quanto à organização, podemos dizer que tem uma grande estrutura de aviões,
pessoas trabalhando, mas nada de anormal. Os acampamentos são sempre
montados dentro dos aeroportos das cidades ao lado da pista de pouso. Toda
estrutura de apoio é montada em volta do aeroporto.

Algumas pessoas dizem que já foi muito ruim, mas que hoje temos o mínimo
de estrutura (pelo menos até Niamey). Quanto a banho, já tivemos vários tipos:
no primeiro dia, o aeroporto mesmo com toda segurança, foi invadido pela
população local. As cabanas de banho tinham divisão com a cerca, mas
mesmo assim as pessoas abriam a proteção de palha e nos cutucavam com
bambu e cuspiam. Agora, é até engraçado imaginar a situação!.

Outros banhos foram montados por profissionais, em cabines com porta, piso e
até banco para por as roupas. Um luxo!. São 8 banheiros a céu aberto para
1700 pessoas, mas dá certo. São boxes individuais de fibra com chuveiros frios,
com cortinas de plástico e zíper para fechá-las. Sempre no meio da poeira,
lógico. Não existe nada que não esteja completamente empoeirado. Muito sol ,
calor e poeira até agora. Imagine-se no meio das nuvens, é igualzinho, só que
na poeira. Uma nevoa cobre todo o acampamento. A comida no acampamento,
começou maravilhosa, ficou boa , agora é gostosa e não sabemos o que vai
acontecer daqui pra frente. Não passamos fome, temos café da manhã, lanche
e o jantar é sempre bom com vinho, cerveja e refrigerante. Eles servem
macarrão, queijo, carne de carneiro, torta de queijo, pão , vagem, feijão branco
com molho. Tem dias que são especiais. Mas todos os dias temos carne, as
vezes massa, arroz uma vez e as vezes não sabemos distinguir o que é. Já
notamos que nas cidades menores somos melhores tratados.

As refeições são feitas em tendas enormes montadas pela organização. Por enquanto, não sentimos
falta de água para beber , podemos tomar quanto quiser. O sistema de cronometragem deles parece
fantástico e o de transmissão também. Na verdade é o que vale para os pilotos e equipes. A prova,
Especiais perfeitas, longas e muito técnicas, isso é o que importa para os pilotos. Eles nem querem
saber se tem banho ou não. Se foram bem na prova, tudo está bem.

O briefing é feito na hora do jantar, dura meia hora e é sempre muito objetivo. Hubert Auriol sempre dá
início e o diretor de prova passa as modificações. A organização é simpática somente com a imprensa,
em especial com as TVs, que têm alguns privilégios.

Este texto foi escrito por: Simone Palladino