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O Everest acessível de Luciano Pires


Charge feita por Luciano mostra os carregadores no Everest. (foto: André Chaco / Webventure)

Direto de São Paulo (SP) – Bom humor e a constante aplicação de cada lição aprendida na aventura para o seu dia-dia de “homem comum”. Assim Luciano Pires baseou sua palestra, que inaugurou ontem à noite o Circuito Webventure de Palestras de Aventura, na academia Competition, em São Paulo.

Em pouco mais de duas horas, Pires contou como foi do sonho alimentado desde a infância até a realização de “chegar pertinho” do Everest, percorrendo a trilha que leva à montanha mais alta do mundo, pelo Nepal. “Queria ir até a base. Nem considerei escalar porque não tinha condições físicas nem técnicas. Com um passo por vez, concretizei meu sonho. Não fiz nada demais, mas, para mim, foi espetacular”.

IMAX inspira – Auxiliado por fotos, músicas, pequenos vídeos baixados da Internet e charges que ele mesmo desenha, o executivo contou por que quis ir encarar o desafio e como conseguiu isso. Desde criança, sonhava em ser paleontólogo e passar a vida escavando em busca de ossos de dinossauros. Depois percebeu que o que o atraía nesta profissão era a exploração de lugares exóticos. Por fim, tornou-se executivo de uma multinacional, mas continuou acalentando aquele prazer lendo muitos livros de aventura.

Um dia, nos EUA, assistiu ao filme “Everest”, do alpinista e cineasta David Breashers, rodado no formato IMAX. Na volta, leu “No Ar Rarefeito”, o best-seller do jornalista Jon Krakauer narrando o acidente que, em 1996, matou um grupo de 12 alpinistas e clientes na montanha. E o brasileiro ficou fascinado pelo Everest.

Na palestra, Pires contou que a preparação para a viagem foi um grande desafio. Com mais de 40 anos, precisava entrar em forma e adquirir experiência em trilhas. Com tempo apenas para viagens de fim de semana, experimentou subir o Agulhas Negras (2.700m), no Parque Nacional de Itatiaia. “Quase morri de cansaço no ‘Subidão da Misericórdia´, ainda no início da trilha”, lembra.

A Internet foi sua grande aliada na busca por informações sobre o local, a viagem, a trilha. “Descobri que ir ao Everest era como ir a Miami. Poderia comprar um pacote, passagem aérea, que alguém estaria me esperando no aeroporto…”, conta.

Como só encontrou empresas brasileiras que levavam ao acampamento-base do Everest, mas não incluíam pernoite, Pires optou por uma estrangeira, exatamente a Mountain Madness, a empresa do experiente Scott Fischer. Ao liderar um grupo de clientes, ele foi um dos que morreu na tragédia narrada por Krakauer, mas a agência continuou operando.

As encrencas – Mesmo em se tratando de uma viagem comercial, a diferença, além da paisagem, língua e cultura nepalesas, estava nas encrencas que Pires teria pela frente. “Tive de usar a criatividade e a inspiração para não me incomodar demais com desconfortos como a falta de banho, cansaço e dor de cabeça na fase de aclimatação e a dificuldade de ir ao banheiro local”, enumera.

Foram 15 dias de trilha, nove para ir e seis para voltar, em aproximadamente 200 km e desnível de 2.600m a 5.700m, o que tornava imprescindível a aclimatação devido ao ar rarefeito. “O tempo todo os guias perguntavam nossas reações, a cor do xixi, onde doía a cabeça. Estavam sempre atentos ao que pudesse indicar efeitos do ´mal de montanha´, como o acúmulo de água em lugares indevidos do corpo”, explica Pires.

As dificuldades foram aumentando trilha adentro. “Me cansei demais. Houve um momento em que não achei que passaria dos 4 mil metros, cheguei a chamar o guia e dizer a ele: ´Vá embora, me deixe para trás´. Foi quando eu visualizei o Everest e vi que estava perto do meu sonho”, descreve. Pires prosseguiu e chegou ao acampamento base. Na volta, foi o único do grupo que ainda teve fôlego para subir o Kalapathar, de onde se tem uma das melhores vistas da região.

Retornando ao Brasil, transformou a aventura em livro e hoje aparece em programas de TV e é convidado a dar palestras sobre o desafio de sair de um perfil sedentário e estressado para encarar o que era para ele e para tantos de nós uma incrível aventura. “As pessoas me perguntam se eu sou um novo homem depois disso. Digo que sou o mesmo”, diz Pires.

“Eu fui ao Everest em busca de um desafio físico. Era um sonho. E o importante é agir em função do seu sonho, seja ele qual for”, finalizou, lembrando mais uma vez da palavra “acabativa”, que inventou para fazer oposição a “iniciativa”, pois esta remete a quem nunca sai do início.

“Não fiz nada demais, sempre disse isso”, conclui. “E a minha idéia é essa: mostrar às pessoas algo que elas podem fazer, diferente das superaventuras sobre as quais eu costumava ler, admirar, mas que sempre me faziam pensar: ´não dá para mim´.”

Para o casal Maria Salete Martinatto e Lindolfo Elias, integrante da platéia da Competition, Pires alcançou este objetivo. “Ele mostrou que o Everest é acessível”, comentou Salete, que há alguns meses treina em busca do desejo de participar de corridas de aventura. “Eu me vi muito no Luciano. Ele é como eu, uma das primeiras perguntas que eu faço antes das minhas aventuras é: ´é seguro, posso ir?´”, completa. Salete sonha com o Everest. Antes, promete uma viagem à Patagônia, nossa vizinha repleta de belezas e aventuras a desvendar.

Circuito continua A próxima palestra do Circuito Webventure será dia 26 de setembro, com Sérgio Zolino. Personal trainer, atleta e organizador de corridas de aventura, ele vai dar dicas sobre a modalidade. O evento é gratuito.

Mais informações no site www.webventure.com.br/circuitodepalestras

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira