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O Jalapão como você nunca viu


Tocantins é o estado mais jovem do Brasil (foto: Caetano Barreira/ Webventure/ FotoArena)

Após conhecer a acolhedora Palmas, o que nos espera no Jalapão só pode trazer boas expectativas. Ao pegar a estrada TO-050 até Porto Nacional e depois a de terra batida na TO-255 até Ponte Alta do Tocantins, portão de entrada para o Jalapão, é possível perceber a riqueza do cerrado e suas paisagens.

Um pôr de sol de tirar o fôlego nos acompanha e casais de araras azuis nos recepcionam. Na beira da estrada dá para parar e comer dezenas de cajuis, o caju do cerrado. Menor que o tradicional, ele é doce e delicioso para refrescar o calor de 36 graus médios que faz na região em setembro.

Saindo de Ponte Alta, uma das oito cidades que fazem parte da região do Jalapão, o primeiro convite para aguentar as próximas quatro horas de calor até chegar ao acampamento na região de Mateiros é uma parada na Cachoeira de Sussuapara. São 168 metros de caminhada para chegar a uma fenda escavada na rocha que jorra água fresca formando um pequeno cânion. Também conhecida como a Gruta do Desejo, diz a tradição que se pegar uma das milhares de pedrinhas que tem pelo seu chão e fizer um pedido, será atendido. Só não vale pedir dinheiro e amor.

O nome Jalapão veio de um tubérculo chamado Jalapa. A batata que nasce no cerrado da região é colocada na pinga para dar um gosto forte e amargo. A dose dupla da bebida se chama Jalapão.

Pelo parque – O Jalapão é um Parque Estadual desde 2001 e está em processo de regulamentação. A maioria de suas atrações fica em propriedades particulares. Apesar das tentativas de negociação, não se concretiza o acordo para fazer do Parque um lugar totalmente público.

O Estado oferece pouco pelas terras e os proprietário se recusam a vender seu pedaço de paraíso a um valor muito baixo. Enquanto isso, para visitar algumas de suas cachoeiras e fervedouros, é preciso pagar R$ 5,00 por pessoa.

O preço é barato para contemplar as paisagens do cerrado, as chapadas a perder de vista, os rios e nascentes de água transparente e os milhares de buritizais e veredas, forradas de capim dourado. Nessas horas é possível entender que as difíceis horas sacolejando no carro até o Jalapão tem seu propósito.

A reportagem do Webventure viajou a convite do Sebrae-TO.

Dos oito municípios na região, Mateiros, a cidade mais ao leste, é a que tem em sua proximidades o que há de melhor no Jalapão. A poucos quilômetros dali estão as Dunas, a Serra do Espírito Santo, o Rio Novo, a Cachoeira da Velha e do Formiga e os Fervedouros, além da Comunidade Mumbuca, os artesãos habilidosos do Capim Dourado.

A melhor época para visitar a região vai de Junho a Setembro. Período de seca quando a temperatura está mais amena, entre os 30 graus, e as estradas em melhores condições. Em outubro começam as chuvas e com ela os mosquitos que não deixam de te infernizar mesmo com o uso de repelentes.

Independente da época, se prepare para usar muito protetor solar e vista o espírito de aventura, o Jalapão é para aqueles que amam a natureza e esportes ligados a ela.

Como chegar – O Jalapão fica no Leste do Estado do Tocantins. O ponto de partida é Palmas. De lá são 64 quilômetros pela rodovia TO-050 até Porto Nacional e depois 116 quilômetros até Ponte Alta do Tocantins. Outra opção é sair de Palmas pela TO-020 para Novo Acordo, de lá segue para a rodovia TO-030 até Santa Tereza do Tocantins.

Toda a região tem uma estrutura precária. De uns anos para cá com o aumento do ecoturismo é que as cidades têm se preparado para receber os turistas. É possível ficar em pousadas e escolher a cada dia qual passeio fazer. Quem quer ir por conta é preciso ter um carro 4×4 e ficar atento ao combustível. São muitos quilômetros sem ver alma viva e posto de gasolina nem pensar.

Para aqueles que preferem ir com um pacote pronto, as operadoras locais Korubo e 4 Elementos, podem oferecer um passeio completo, com camping, guia, alimentação e transporte.

Criado em 1988, o Tocantins é o mais novo dos Estados do Brasil. Localizado na região norte do país, o estado faz limite com Maranhão, Piauí, Bahia, Goiás, Mato Grosso e Pará e é considerado integrante da região amazônica. Sua história se fez através de muita luta pela sua independência, até ser conhecido como o estado caçula rico em natureza e paisagens.

O que é hoje Tocantins, já foi a região mais isolada e atrasada do estado de Goiás. A capital Goiânia fica mais ao sul e sempre foi o foco de desenvolvimento. Dessa maneira, o sul crescia e se projetava como uma região próspera enquanto o norte e sua vasta extensão permanecia inóspita e com pouca qualidade de vida. O isolamento e o descaso administrativo no norte do estado levou as autoridades e a população local, a se unirem para a criação do novo território.

Os primeiros gestos para que o norte goiano se tornasse um outro estado foram ainda no século XIX, quando Joaquim Teotônio Segurado proclamou a emancipação do norte de Goiás, o que não se concretizou. Muitos anos mais tarde, na década de 50, novos movimentos retomam o desejo da separação do território. Nos anos 60, com a criação da Cenog (Casa do Estudante do Norte Goiano) o processo volta organizado e com mais força. O principal objetivo era cobrar melhorias no abandonado norte do estado.

Outro personagem importante no processo de separação foi o deputado José Wilson Siqueira Campos que se uniu aos ideais de independência do norte e apresentou a proposta de divisão do Estado por diversos anos ao Governo. Em julho de 1988, parlamentares aprovaram a criação do Tocantins, mas apenas em outubro do mesmo ano é que a o desligamento com o sul se deu de vez e o novo estado foi marcado no mapa brasileiro.

A nova capital – Projetada para ser a capital de Tocantins, Palmas é a última cidade brasileira a ter sido completamente planejada. A capital foi fundada em maio de 1989.

As avenidas largas e as rotatórias fazem parte do urbanismo da cidade. Apesar, de ser simbolizada por girassóis, hoje dificilmente se encontra dessas flores por suas ruas e jardins. Mesmo na praça símbolo da cidade, a Praça dos Girassóis, não é possível encontrá-las.

A Praça dos Girassóis é a maior praça pública das Américas e umas das maiores do mundo. Ali estão sediados os três poderes do governo e todas as secretarias do estado. No centro da praça encontra-se o ponto geodésico do país. A Rosa dos Ventos, em frente ao Palácio Araguaia, sede do governo, divide Palmas entre as quatro direções: Norte, Sul, Leste e Oeste, e representa as etnias indígenas do Tocantins. Em seus 570 mil metros quadrados, há também o Memorial Coluna Prestes e Os 18 do Forte.

O parque Cesamar, com 2,8 km, é o lugar onde as pessoas fazem caminhadas. A cidade também é margeada pelo Rio Tocantins, hoje intitulando de lago Luis Eduardo Magalhães, mais conhecido como lago de Palmas. Com 360 km, o lago atinge seis municípios e forma as quatro principais praias de água doce em Palmas.

Para quem quer conhecer mais da cultura do Tocantins, não pode deixar de ir à Feira na 304 Sul, que acontece às sextas-feiras à noite. Lá é possível encontrar comidas típicas, artesanato, grãos, hortaliças, barracas de peixes, carnes e frutas, além de diversas quinquilharias “made in Paraguay”.

Dizem que a cultura de um povo se conhece pelo o que ele come. Dai pode-se dizer que no paladar forte dos tocantinenses, deliciosos peixes como o tucunaré, curvina, tambaqui são cardápio diário. O Chambari, perna de boi refogada e cozida em seu caldo, o ossobuco no sudeste, pode ser encontrado em qualquer barraca da feira. Outro prato, ou melhor, petisco típico, é a Paçoca. Ideal para comer bebendo uma cerveja bem gelada, essa farofa salgada é uma mistura de carne de sol e farinha de mandioca. Para aqueles que têm estômago, bucho de bode, sarapatel, galinhada com pequi são outras opções da reforçada culinária local.

O tradicional Amor Perfeito, uma espécie de bolachinha de coco, feita artesanalmente, está entre os doces da região. Doce de buriti, canjica, jenipapo e licor de diferentes sabores dão o adocicado após tanta comida salgada e energia para quem quer encarar o roteiro de viagens neste estado do Norte.

Este texto foi escrito por: Tricia Vieira