Direto do Egito – Se existe alguma coisa que incomoda a todos é o medo da morte. Desde pequenos ouvimos aquela fábula do pastor e o lobo. Imagine você estar praticando uma atividade de alto risco onde outros esportistas já perderam a vida…
É difícil, mas se a cada acidente a resposta fosse a decisão de desistir, provavelmente teríamos abolido os carros, aviões e navios; a medicina não teria evoluído tanto, não teríamos chegado à lua ou, muito mais perto, não teria sido descoberta a América. Para não falar da construção civil… Ou então por que não fugir do Brasil?
Diante da morte de um companheiro o luto fica estampado no rosto de cada personagem do Rally Paris-Dakar. Mas é hora de agirmos com o racional porque se deixarmos o emocional tomar as rédeas, pensando na família da pessoa que se foi, seus filhos, pais e outros parentes queridos, as lágrimas vão rolar.
Eu procuro analisar os fatos, se eles estiverem disponíveis. Por que
aconteceu o acidente? Como poderia ter sido evitado ou o que poderia ser feito para amenizar suas conseqüências? O cinto de segurança e o capacete estavam sendo utilizados corretamente? Era um experiente ou estreante? Estava sozinho ou na poeira? Alguma falha mecânica ou erro humano?
Administrando os riscos – Estas informações servem para que tomemos certas precauções. Como os acidentes mais sérios desta 25ª edição do Dakar aconteceram nas dunas, estou mais cauteloso. Isso não quer dizer que mudei minha maneira de pilotar. Como todo dia, quero andar mais rápido. Afinal, é para isso que estamos aqui. Mas não será sobre as dunas que vou arriscar. Se para vencer isso for necessário, decido perder, ou melhor, me dar outra chance.
Os organizadores decidiram por um percurso notadamente mais fácil para que mais concorrentes chegassem ao final da prova, mas infelizmente acabou elevando a velocidade e diminuindo o tempo de reação. Agora tentam reverter a situação querendo persuadir a todos. Durante o briefing que acontece todas as noites, descrevendo a etapa do dia seguinte, pretendem nos colocar medo anunciando riscos imensos. Quando completamos a etapa fica claro que houve um exagero.
Acho que isto não funciona. Insisto que nesta hora não adianta fazer drama, inventar coisas. Temos de ser frios e calculistas. Se a cada dia a organização ficar gritando “lobo, lobo, lobo…”, o dia em que ele realmente aparecer podemos estar distraídos.
Este texto foi escrito por: Klever Kolberg (arquivo)
Last modified: janeiro 16, 2003