Muitos animais têm nomes comuns, populares, que damos a eles para poder identificá-los. Sem estes nomes não teríamos como contar uma história de bicho, pedir um almoço com bichos ou explicar ao agrônomo que bicho está atacando a nossa lavoura.
Imaginem o mundo sem estes nomes. Um caçador contando ao amigo o que ele quase caçou seria algo assim: Era aquela coisa de quatro patas, tipo aquilo que a gente monta, mas pequeno, com chifres que parecem um galho. A vida seria bem mais complicada.
Felizmente nós criamos nomes para acabar com este tipo de confusão. De um modo geral, nós, seres humanos, damos nomes a tudo aquilo que conseguimos diferenciar. Um pedaço de madeira com quatro pernas e um encosto é uma cadeira, mas se esta cadeira fosse grande, forrada de tecido, bem fofinho, seria uma poltrona. Sem as listras a zebra provavelmente seria aquele cavalo selvagem africano. Mas com listras, definitivamente é uma zebra.
O que sabemos – Muitas vezes não é tão óbvio diferenciar alguns animais. Eu acho os peixes todos com a mesma aparência, pelo menos os que a gente come. Mas a diferença de sabor entre a merluza e o atum não é pequena. Os peixes, as aves e os mamíferos, em geral têm uma grande importância na nossa vida, e por isto damos um jeito de separá-los em categorias mais específicas.
Certamente nós sabemos diferenciar uma arara de um papagaio e um urubu de uma garça. Também não costumamos confundir um mico-leão-dourado com um macaco-prego ou um linguado com uma truta.
Mas muitos animais não são tão privilegiados. Sapos, em português, não recebem nomes específicos. Das quase 500 espécies destes animais (anfíbios anuros) que temos no Brasil, tirando a rã-pimenta, o sapo-ferreiro e o sapo cururu, poucos têm um nome comum além do genérico sapo, rã ou perereca.
Borboletas no Brasil são mais de 3 mil, mas muito poucas são reconhecidas individualmente e menos ainda têm um nome. Existe a monarca, a maria-boba e a estaladeira, mas a lista para por aí.
Mas estes pelo menos têm um nome. Muitos animais nem sequer recebem um nome comum. No Brasil, pelo menos metade das ordens de insetos não tem sequer um nome genérico (equivalente a sapo, cobra, passarinho). Nós conhecemos e nomeamos besouros, borboletas, mariposas, percevejos, libélulas, gafanhotos, grilos, baratas, cigarras, moscas, mosquitos, vespas, abelhas, formigas, louva-deus, pulgões, bichos-pau, piolhos, pulgas e cupins. Mas estes nomes só representam 11 das 26 ordens dos insetos.
“Não sei…” – Ao todo 15 ordens, algumas até bastante comuns, não têm nomes em português. Em geral são chamados apenas de este inseto ou então com um nome errado. Vários deles você certamente já viu perto de casa.
O exemplo mais comum destes insetos negligenciados são os Neurópteros (veja o link “Teste”, abaixo), nome aportuguesado da ordem Neuroptera. Em casas próximas a riachos limpos eles são encontrados todas as noites nas paredes brancas ou voando ao redor da luz. São muito mais comuns que bichos-pau ou que louva-deus, mas mesmo assim, não têm um nome popular. E quando perguntamos que bicho é este, as respostas mais comuns são mariposa e inseto, seguido, eventualmente de um não sei….
Os nomes dos bichos variam de povo para povo, devido ao grau de importância dada àquele grupo em particular. Animais utilizados como alimento, vestuário e ornamentos costumam ser bem nomeados e diferenciados.
O povo Fore, da Nova-Guiné, tem nomes comuns para todas as dezenas de espécies de aves que ocorrem na sua área, apesar de ter apenas um nome para todas as borboletas. Para esses povos as aves representam uma das maiores fontes de recursos. Semelhantemente, algumas tribos sul-americanas não têm muitos nomes para as centenas de espécies de besouros e borboletas que vivem ao seu redor, mas têm um nome para cada uma das várias espécies de abelhas que conhecem.
O interessante é que estes dois povos que não dão nomes específicos às borboletas identificam e nomeiam muitas das lagartas destas borboletas. O fato é que estas lagartas podem ser pragas e por isto exercem uma grande importância na sua vida.
O que motiva o ato de nomear – Animais que representam perigo também têm muita importância na nossa vida. No Brasil, as poucas cobras venenosas têm nomes comuns: jararaca, urutu, cascavel, surucuru e coral. Algumas espécies grandes como jibóias e sucuris também têm nomes. Mas a grande maioria das cobras não venenosas não tem nomes que vão além de cobra-verde, ou cobra-cipó.
Modernamente, em povos que já não se alimentam de animais selvagens, ou quase não usam vestuários feitos de pele ou penas, animais vistosos, chamativos e comuns acabaram recebendo nomes, mesmo não tendo grande importância como recurso alimentar.
Nos países de língua inglesa, que costumam ter muitos observadores amadores da natureza e pescadores que usam insetos como iscas, todas as ordens de insetos têm nomes populares e muitas vezes mais de um nome. E mais: todas as espécies de borboletas e muitas espécies de mariposas norte-americanas têm nomes comuns.
E nós brasileiros, em que grupo nós estamos? Acredito que atualmente nós estamos a meio caminho entre os nativos da Nova Guiné que têm um só nome para todas as borboletas e os Norte-Americanos e os Europeus que têm nomes para todas as espécies. Nós temos nomes para quase metade das ordens de insetos.
Não termos tantos nomes comuns não chega a ser um grande problema. Isto só demonstra que nós não temos sentido necessidade de individualizar certos grupos animais. Mas nós, cada vez menos, sabemos utilizar os nomes que já existem. Muitos animais até têm nomes em português, mas ninguém mais os conhece. E o engraçado é que não são as pessoas mais cultas que sabem estes nomes. Quem os conhece é o pessoal do interior.
Os caiçaras e ribeirinhos conhecem os nomes comuns dos peixes que eles comem e pescam todos os dias. No interior, nas áreas rurais eles também sabem o nome das cuícas e dos macacos que visitam a sua casa a noite, dos mão-pelada que reviram o lixo e das cobras que comem os pintos e as que podem lhes picar. Sabem também os nomes das vespas e todas as abelhas que lhes ferroam.
Ver para crer – Enquanto isto, nas cidades, só os ratos, e eventualmente os gambás, nos visitam. Alguns pardais e rolinhas fazem ninho nas calhas, e algumas formigas invadem o açucareiro. Mas é só. E pelo jeito não adianta muito ouvir os nomes no Discovery Channel. Para conhecer, muitas vezes é preciso se encontrar, ver bem de perto e sentir uma grande curiosidade de saber o que é aquilo. Ai a gente aprende o nome.
E você, praticante de esportes de aventura, terá muitas oportunidades de ficar com a pulga atrás da orelha: que bicho é este? Como é que chama mesmo? Antes fosse uma pulga. Esta eu aposto que você acertaria o nome…
Que tal um pouco de interação? Clique aqui para testar seus conhecimentos sobre o nome dos bichos.
Este texto foi escrito por: Cláudio Patto