Webventure

O rebreather permite que o mergulhador permaneça por mais tempo na água a partir da reciclagem do ar


Rebreather Dive Rite Optima (foto: José Mario Ventura)

Ainda pouco difundido no Brasil, o rebreather é um equipamento de mergulho autônomo que recicla o gás exalado pelo usuário durante a respiração, permitindo que a pessoa fique mais tempo embaixo da água.

Primeiro fabricado para uso militar, depois empregado em resgates de minas inundadas, hoje o rebreather é uma opção para os exploradores de cavernas e de naufrágios, oferecerendo uma relação custo x benefício vantajosa para quem faz mergulhos profundos com frequência.

Segundo José Mario Ventura, instrutor de mergulho técnico com o equipamento, o rebreather proporciona uma economia de 4 a 20 vezes o consumo de gases inalados. “Se considerarmos um rebreather de circuito fechado, que repõe o oxigênio metabolizado pelo mergulhador, o consumo de ar será o mesmo, estando a pessoa a 10 ou a 100 metros de profundidade, desde que o nível de atividade seja o mesmo. Já em circuito aberto [quando o gás inalado é descartado], a pressão ambiente determina a densidade do gás, o que significa um aumento de consumo proporcional à profundidade”, explica José Mario.

Mas, as propostas mais antigas para esse tipo de máquina remontam aos anos de 1600, com os projetos de submarinos desenvolvidos, de forma independente, na Inglaterra por Cornelius Drebbel e na Itália por Giovanni Alfonso Borelli. Naquela época, ambos criaram um sistema de reoxigenação do ar.

O primeiro modelo de rebreather patenteado apareceu em 1808, criado por um mecânico da marinha real de Napoleão, na França. As versões atuais diferem bastante dos equipamentos originais, principalmente com relação ao mecanismo de funcionamento, mas preservam a ideia inicial: reaproveitamento do gás exalado e mergulhos mais longos.

Já o uso militar do equipamento foi difundido principalmente por que ele não solta bolhas, uma característica vantajosa não apenas em missões de infiltração. “Isso torna o mergulho mais confortável, além de afugentar menos os peixes”, conta José Mario, que possui mais de 500 horas de experiência com o equipamento. “Em certos ambientes, como cavernas pouco mergulhadas ou naufrágios, as bolhas provocam o desprendimento de sedimentos no teto desses ambientes, sujando a água e aumentando o risco”, acrescenta.

Outro aspecto benéfico é a geração de umidade e calor pelo aparelho, durante a depuração do ar. “O mergulhador de rebreather não sofre tanto com a desidratação (um dos fatores importantes na prevenção da doença descompressiva) e não perde calor através da respiração [ao contrário do circuito aberto, com o qual inalamos um gás frio]”, afirma José Mario.

Atualmente, o equipamento de mergulho recreativo mais utilizado é o de circuito aberto, que tem esse nome por que o gás inalado é descartado na água durante a expiração.

No caso do rebreather, todo o ar permanece dentro do sistema e nada é desperdiçado. Existem diferentes categorias deste tipo de equipamento, com um ou dois cilindros, semi ou totalmente fechados, de controle eletrônico ou manual. O mais comum no recreativo e no técnico é o rebreather de circuito fechado (CCR).

Todo rebreather possui um filtro de depuração, que retira o dióxido de carbono dos gases exalados na respiração. A partir daí, os gases restantes são armazenados em um recipiente flexível, chamado contrapulmão, onde outros gases são adicionados em combinações e quantidades que variam de acordo com o equipamento e a atividade do mergulhador. Por fim, essa mistura volta a ser utilizada na respiração, e o ciclo se reinicia.

Para fazer a depuração do ar, é utilizado um filtro à base de cal sodada. Essa cal é composta por diversos elementos que, quando entram em contato com o dióxido de carbono da exalação, fazem com que ele se transforme em carbonato de cálcio, liberando calor e vapor de água. Assim, quando passa pelo filtro, o ar fica “limpo”, e só precisa receber oxigênio para ser respirado novamente.

Desvantagens
Os rebreathers apresentam diversos pontos positivos para determinados tipos de mergulho, mas seu uso não é o dos mais simples. Ele requer treinamento específico por parte do usuário, que deve ser feito com um instrutor certificado por uma agência especializada, como a Associação Internacional de Mergulhadores Técnicos e Nitrox (IANTD, na sigla em inglês).

Segundo José Mario Ventura, que possui a certificação, “o rebreather é complexo e não permite erros. O índice de mortalidade com ele é maior do que com o circuito aberto”.

Além disso, o equipamento é caro e precisa ser adquirido de uma só vez. No caso das peças usadas no circuito aberto, elas podem ser compradas aos poucos, conforme as necessidade e à disponibilidade do mergulhador.

“É uma máquina cara, complexa e que requer manutenção periódica de peças e de técnica”, explica José. “As pessoas que as usam devem mergulhar, no mínimo, quatro vezes por mês, e devem ter em mente mergulhos em que o equipamento oferece vantagens. Não adianta gastar tempo e recursos se você consegue fazer o mesmo mergulho utilizando um sistema mais simples em circuito aberto”, diz.

Apesar de não ser muito acessível, o rebreather não está restrito apenas para os profissionais. “Os fabricantes vêm tentando produzir um modelo de circuito fechado que seja simples e seguro o suficiente para pessoas que não investiram muito em treinamento”, afirma o instrutor José Mario Ventura.

No Brasil, o principal modelo disponível é o Optima (www.o2ptima.com.br), produzido pela Dive Rite em parceria com a Micropore e Juergensen Marine, cujo preço sugerido é de R$ 21.000.

Este é um rebreather de circuito fechado eletrônico de múltiplas misturas, ou simplesmente eCCR. Ele funciona com dois cilindros, um para oxigênio e outro para gases diluentes (as misturas de oxigênio, nitrogênio e hélio).

Compacto o suficiente para caber em uma mala de mão, ele possui estrutura feita de alumínio, suporta diversos tamanhos de tanques e utiliza eletrônica de controle da HammerHead, tida como uma das mais confiáveis do mercado.

Para encontrar o Optima, entre em contato com a Dive Rite do Brasil (www.diveritebrasil.com.br) ou com algum fornecedor credenciado, como a Scuba Du em Brasília (61/3244-5448) ou a Koka Sub em São Paulo (11/5573-5226).

Existem outras marcas, como o Revo Rebreather e o Megalodon, mas elas não possuem representação oficial no país.

Mas, se você acha que se encaixa no perfil de um futuro usuário do equipamento, reflita bem. “Muitas pessoas compram no impulso ou porque alguém as convenceu, mas poucas realmente precisam de um rebreather”, afirma José. “Não adianta gastar tempo e recursos se você consegue fazer o mesmo mergulho utilizando um sistema mais simples em circuito aberto”, completa ele. Dito isso, vale a pena lembrar que se você adquirir um rebreather, fazer um bom curso e muito treinamento, são medidas essenciais.

Este texto foi escrito por: Pedro Sibahi