Salto Itiquira (foto: Arquivo pessoal/ Nova Origem)
Confira abaixo o relato de três amigos que decidiram dar a volta ao mundo de bicicleta. Acompanhe ao longo da viagem as novidades da viagem pelo Webventure.
Somos três amigos de infância, que para viver o sonho de uma vida livre e mais sustentável, trocamos nossa rotina e trabalho convencional para viver o projeto Nova Origem e dar a volta ao mundo de bicicleta. Nossa missão não é fácil, queremos percorrer cerca de 45.000km passando por mais de 40 países por todos os cinco continentes.
Nosso desafio começou quando tivemos que desapegar de nossa “vida antiga” para seguir uma “Nova Origem”. Não foi nada fácil pedir demissão do trabalho, deixar família, namorada… uma vida para trás.
Nossas primeiras experiências no cicloturismo foram a volta na Chapada da Diamantina e a Estrada Serramar, que liga o litoral do Rio de Janeiro às montanhas de Minas Gerais. Apesar de curtas, essas viagens nos deram o gostinho do que é uma vida sob duas rodas.
Pesquisando sobre viagens de bicicleta na internet, encontramos o site do Antônio Olinto e seu livro: No Guidão da Liberdade, onde ele conta a história de sua volta ao mundo de bicicleta, que com certeza foi nossa maior inspiração.
Cada um teve suas motivações para largar tudo sair pedalando pelo mundo, mas o que nos uniu foram os ideais de viver mais perto da natureza, das pessoas e tentar contribuir para o mundo de alguma maneira. Temos feito isso visitando escolas, onde conversamos com as crianças sobre nossas experiências da viagem, consciência ambiental e busca do próprio sonho.
Realizamos também plantio de mudas nativas em algumas cidades e escolas por onde passamos. Queremos passar uma mensagem de sustentabilidade, respeito à vida, à natureza e aos seres humanos. Acreditamos também que utilizando a bicicleta com meio transporte, estamos contribuindo para nossa saúde e a do planeta.
AtualizaçõesAtualmente estamos em Oruro, no altiplano da Bolívia, e completamos no dia 18 de março, 11 meses de viagem. A estrada até aqui foi de muitos aprendizados, belas paisagens e algumas pedras pelo caminho. Com pouco mais de um mês de viagem, Marcelo Barros, que era o quarto integrante do grupo caiu da bicicleta e quebrou o braço. Ele voltou para Juiz de Fora e achou melhor ficar por lá. Foi um momento difícil para o grupo passar pela experiência de um acidente com uma pessoa tão querida e também o momento quando recebemos a notícia de que ele não voltaria a pedalar conosco. Mas ele está seguindo seu caminho e sua verdade, assim como nós estamos fazendo.
Nossa viagem é regida pelo imprevisível. Quando acordamos e saímos para pedalar, não sabemos os desafios do caminho, se vai ter chuva ou sol, se chegaremos ao destino planejado, muito menos onde vamos dormir. Infelizmente não temos um botãozinho vermelho para apertar caso aconteça algo ruim, por isso acreditamos no amor e isso tem nos afastado do mal. Uma orção que sempre fazemos é: Que as curvas da estrada nos guardem somente belas paisagens…
O preparo físico, bem como a experiência no cicloturismo vieram com o tempo. Aprendemos a nos virar na estrada, fazer manutenção nas bicicletas e, quando necessário, pedir um lugar para dormir ou um prato de comida. Não queremos ficar a vida inteira pedalando, mas não temos prazo para terminar a viagem, por isso usamos o tempo a nosso favor. Nosso ritmo de viagem é tranquilo, paramos a hora que queremos, dormimos onde achamos melhor e quem dos três estiver pedalando mais devagar é o que vai na frente.
A amizade e companheirismo são os pilares de nossa viagem. Somos três amigos e sabemos que nossas vidas estão nas mãos uns dos outros. Aprendemos que somos interdependentes e que juntos podemos mais.
Iniciamos nossa jornada pelo Brasil, pois queríamos conhecer mais do nosso país, antes de desbravar o mundo. Cruzamos o país de leste à oeste, atravessando os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Conhecemos lugares maravilhosos, como o Salto do Itiquira, Chapada dos Veadeiros, Pirenópolis, Barra do Garças, Chapada dos Guimarães dentre outros vários.
Nossa jornada internacional começou pela Bolívia. O país mais pobre da América do Sul é também um dos mais ricos culturalmente. Começamos a pedalar na fronteira do estado de Santa Cruz, em um calor de 40º na planície pantaneira para chegar a quase 0º, a 4.500m de altitude no alto dos Andes.
Atingir essa altitude carregando cerca de 45kg de bagagem na bicicleta foi um grande desafio, mas que nos deu confiança e força para seguir em frente com a nossa missão. Na altitude falta ar, nos sentimos mal, como se estivéssemos com febre. Por estes motivos, teve um dia que pedalamos somente sete quilômetros, nosso recorde de menor quilometragem. O chá de coca tem ajudado um pouco a diminuir os efeitos da altitude e hoje já estamos mais aclimatados e sentimos menos os efeitos.
Outro problema grave na altitude é quando chove. Temos um bom equipamento para frio e chuva, mas a chuva vem como flocos de neve e a melhor opção é procurar o abrigo mais próximo quando o tempo começa a fechar.
Cultura localO que mais nos marcou na Bolívia foi ver o povo do alto dos Andes, com sorriso no rosto, mesmo vivendo em uma região onde a terra é seca, sem nenhuma árvore e num frio danado! Muitos plantam e criam o que comem, que não é muita coisa. Em alguns lugares, uma feirinha por semana é a única opção para comprar os mantimentos. Passamos aperto por causa disso e algumas vezes, e tivemos que comprar mantimento na casa das pessoas.
Hoje não temos dúvidas de que o Cicloturismo é a melhor forma de viajar, pois estamos sempre em contato com as pessoas e com o meio ambiente. E o melhor de tudo é que vamos devagar, afinal, pressa pra quê?
Em nossa viagem pedalamos muito, perdemos alguns quilos, plantamos algumas mudas de árvores e colhemos muita lição de vida e novas amizades.
Este texto foi escrito por: Nova Origem