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O sono em uma regata longa


A cama nos VO70 (foto: Divulgação/ VOR)

Existe um inimigo que todos na Volvo Ocean Race respeitam: falta de horas de sono. Com os turnos estabelecidos em 4 horas (4 horas ligados, 4 horas desligados) ninguém tem uma noite inteira de sono. Os profissionais das provas de oceano raramente se espantam com a maioria dos perigos que uma volta ao Mundo pode colocar em seus caminhos. “Seria falta de sorte mas, faz parte do desafio” é o que vão responder pessoas como o Comandante Mike Sanderson se você perguntar a ele se está preocupado em atingir um iceberg ou atropelar um cardume de baleias durante a noite.

Mas existe um inimigo do qual ninguém desdenha: falta de horas de sono. Você dorme o que pode entre os seus turnos de trabalho isso quando não existem tarefas debaixo do convés que necessitam a sua imediata atenção e que vão roubando pedaços do seu período possível de sono.

Todo ser humano necessita de uma determinada quantidade de sono por dia para renovar as células do cérebro e outros sistemas do corpo para que continuem funcionando com eficiência. Nossos padrões de sono naturais são governados por um sistema de temporização interno chamado de “ciclo circadiano” o famoso relógio biológico. É este ciclo que regula a temperatura do corpo, os níveis de hormônios, o ritmo cardíaco e outras funções vitais. Ao sofrer perdas de sono crônicas, essas importantes funções rapidamente se tornam defeituosas e a saúde de uma maneira geral é afetada, assim como o humor e a memória das pessoas. Pessoas que podem, então, se tornarem uma ameaça para elas mesmas e para os outros, especialmente se estiverem operando uma máquina ou navegando um barco de competição.

Os efeitos da falta de dormir são mais psicológicos do que físicos. Os reflexos sofrem mas o batimento cardíaco, pressão sanguínea e temperatura do corpo mostram pouquíssima alteração. As principais conseqüências físicas são tremores nas mãos, pálpebras caídas, problemas em focar a visão e um aumento muito grande na sensibilidade à dor. Interessante notar que conseguimos nos recuperar em muito menor tempo do que aquele perdido sem dormir. Alguém que fique 3 noites sem dormir, precisa apenas de um período um pouco maior do que uma noite de sono para se sentir descansado novamente.”

Falta de horas de sono pode levar a dificuldades motoras e perigosas alucinações. Mas os participantes de uma prova de oceano de alguma forma entram em uma rotina que muda seus biorritmos e acerta seus ciclos circadianos. Seus corpos não seguem mais a regra do dia e da noite. Em vez disso eles treinam para gradualmente se adaptarem a um novo ritmo determinado pelas necessidades práticas de bordo e surpreendentemente, se saem muito bem.

Naturalmente que nada pode competir com um descanso real, mas existem truques aos quais recorrem quando o descanso real não é uma opção. O primeiro deles é café. Ambos os barcos do Team ABN AMRO carregam uma carga generosa de uma marca de café concentrado de primeira. É a maior fonte de energia a bordo já que a cafeína ajuda a manter os olhos abertos aquele tempo extra necessário. É também uma bebida quente, que ajuda o corpo fatigado a lutar contra o frio cortante dos Mares do Sul.

Outra ferramenta é o “cochilo da força” (do original inglês “power napping”) uma solução que não resolve o caso da falta muito grande de horas de sono, mas parece que funciona como uma carga temporária. Nada mais é do que cochilos muito curtos em todos os momentos que aparecer uma oportunidade. Deveria chamar-se “cochilo oportunidade” mas os efeitos revitalizantes são tão bons que o termo “power napping” ficou. Alguns levam essa prática ao extremo e são capazes de sentar segurando algum objeto na mão e cochilar imediatamente. Assim que a mão segurando o objeto relaxa e o deixa cair no chão, fazendo barulho, eles acordam e o “powernap” está acabado.

Dormir sem descanso – A pessoa normal precisa de 8 horas diárias de sono. Se você dividir isso, as 12 horas que você tem de trabalho em turnos de 4 horas parecem um luxo. Mas não é bem assim. O problema diz respeito aos diferentes estágios do sono. Para ter descanso apropriado uma pessoa precisa passar por cada um deles até o sono profundo e fazer o caminho gradual de volta. A boa notícia para os tripulantes em regatas de oceano é que seus corpos se adaptam a períodos mais curtos de sono, permitindo que alcancem o sono profundo muito mais depressa dormindo portanto de maneira mais eficiente durante esses curtos períodos.

Na Volvo Ocean Race de 2005/2006 os novos barcos V70 vão ter uma tripulação de 10 e não de 12 pessoas como os V60 tinham na regata anterior. As tripulações vão ter que achar um novo ritmo com diferentes ciclos de sono antes da regata começar. O treinamento começa imediatamente depois do lançamento do primeiro barco em Portimão, dia 17 de Janeiro de 2005. Conseguir dormir o suficiente na volta ao Mundo vai ser um aspecto importante para as tripulações praticarem até a perfeição.

Este texto foi escrito por: Webventure