O Vale do Mutuca fica no município de Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros (GO), mais ali ao norte da Chapada. É uma serra com mais de 1.500 metros, com uma vista linda para o Vão do Paranã, cânions e cachoeiras. O vale do Mutuca foi um antigo garimpo nos anos de 1900, na época em que o garimpo predominava na região. Repleto de pequenos cristais e pequenos corregos, é um passeio agradável na época das águas.
O trekking estava marcado desde o início do ano, programei-me para visitar o lugar no inverno, no mês de julho, época propícia para boas fotos, sendo que lá de cima ficamos sobre as nuvens. Cheguei a Cavalcante num domingo à noite, preparei minhas coisas, como barraca alimentação, e segunda-feira iniciamos o trekking. O trekking nessa ocasião ia ser muito especial, éramos as primeiras pessoas que praticavam esse esporte nessa serra, ou seja, não havia trilha certa, fomos pelo rumo e também pela antiga trilha dos garimpeiros, que, por muitos pontos, não existia mais…
O início – Nesta caminhada foram o meu amigo e guia Daniel, o nosso amigo Welington, radialista da cidade, e eu. Levamos pouca coisa, apenas uma barraca e mantimentos para duas refeições, um jantar e um café-da-manhã. Iniciamos nossa caminhada às 9 horas. Da Fazenda Renascer, saímos pelas encostas da Serra de Santana, subindo por uma mata semifechada com muitas pedras no caminho.
Andamos por esta mata por volta de uma hora e meia, chegando num cerradão onde passava um córrego…isto mesmo, passava, pois a seca deste ano surprendeu a nós todos, a grota tinha secado. Nesse momento, ficamos receosos de não encontrarmos mais água durante o percurso. Íamos passar ainda por mais dois córregos, assim bebemos a água que havíamos levado e continuamos andando por espigões da Serra de Santana pelo restante da manhã. Chegamos a outro córrego, às 13 horas, e, para nossa surpresa, também não havia água. Naquele momento passou pela cabeça de cada um de nós: “será que vai ter água lá no cume do Mutuca?”.
Bebemos nossos últimos restantes de água e continuamos o trekking, na esperança de um córrego maior ter água. Quando foi às três da tarde, passamos pelo córrego do Mutuca e até que em fim achamos a água. Bebemos, fizemos ali mesmo nosso almoço e uma meia hora de banho nas águas verde-esmeralda do córrego São Domingos.
Continuamos nosso trekking às 2 da tarde, já quase no Pico do Mutuca. Cortamos a Serra de Santana em vários pontos. Chegamos ao nosso destino às cinco da tarde. Nossa! Como é lindo lá de cima. Parece que as nuvens realmente são de algodão, víamos todo o Vale do Sertão, o cânion São Domingos e a Ponte de Pedra.
Lá de cima parecia que podíamos guardar a Chapada todinha em nossas mãos… Curtimos o visual tremendo, quando percebemos um detalhe importantíssimo: não havia água nenhuma no lugar. Já eram 17h30 e não tinha nem sinal de água. Lá em cima ventava tanto que mal conseguíamos ouvir nosso próprio papo…
Segurança, primeiro – Decidimos passar a noite no cânion São Domingos, na Ponte de Pedra, pois lá tínhamos a certeza de que teria água… Descemos o Vale do Mutuca deixando para trás uma vontade louca de pernoitar naquele lugar, mas nossa segurança era prioridade. Descendo a Serra, passamos por um lugar inacreditável, várias pedras gigantescas, uma empilhada em cima da outra formando abrigos, cavernas, tocas de onça. Ali é um verdadeiro santuário das onças que, infelizmente, ou graças à Deus, não estavam ali devido à falta da água e algumas queimadas que estavam acontecendo não muito longe.
Chegamos à Ponte de Pedra às 18h10. O sol já estava entrando, se escondendo nas montanhas. Naquele momento, bateu aquela repentina tristeza. Poxa! “Perdi o pôr do sol…” Num momento, subto me veio uma alegria imensa, pois havia caminhado o dia inteiro e nem sinal de cansaço. Pelo contrário, a vontade louca de abrir novos caminhos, de me aventurar por outras Serras.
O show – Já era noite. Lá pelas 22h, levantei para beber uma água ali bem na beira do rio… Quando olhei para o poço lá estava o céu todinho refletido na água e, justo no momento em que estava admirando o céu, refletido, caíram estrelas cadentes… Nossa! Foi muito lindo, uma cena que está aqui na minha mente, não sai… Como valeu a caminhada!
Na manhã seguinte, resolvemos descer algumas cachoeiras do cânion e tomar um banho refrescante nas águas geladas do Rio São Domingos. Iniciamos nossa volta às duas da tarde. Voltamos por outra trilha que já sabíamos o caminho. Chegamos à cidade por volta de 17h30. Eu agradeço muito a Deus por ter feito o planeta Terra, esse planeta é lindo…
Este texto foi escrito por: Weverson P. Almeida
Last modified: agosto 7, 2001