A dupla Luciano (dir) e Guilherme. (foto: Arquivo pessoal)
Neste Minha Aventura, o internauta Luciano conta tudo sobre sua participação no maior raid das Américas.
Eu, Luciano, como piloto, e meu filho Guilherme, de 19 anos, como navegador, participamos da edição 2004 do maior raid do Brasil e das Américas, o Transparaná, entre os dias 24 e 31 de janeiro. O roteiro foi percorrido em cinco dias, de segunda a sexta-feira.
O fim de semana anterior (24 e 25) foi reservado à vistoria técnica, entrega dos materiais e ao Mini-Raid, no qual não estava prevista a não participação da categoria Adventure, escolhida por nós.
1º dia Guairá / Nova Olímpia / Paranavaí
A primeira etapa revelou o bom navegador que é o Guilherme. Com uma calma admirável, comeu barriga apenas uma vez navegando o trecho mais longo da prova. E foi logo no início, ou seja antes de pegar o jeito e o ritmo.
Impressionante foi ele não tomar uma gota dágua em todo o percurso, que durou 7 horas e 15 minutos, e sob a mais alta temperatura. Quando eu oferecia água a resposta: Sou guerrilha, como se estivesse em treinamento para ser um guerrilheiro…
Esta primeira etapa, que foi a mais puxada entre as quatro primeiras, já deu mostras do que seria a prova: dois Samurai e um Defender 90 alijados (diferencial traseiro). Um Engesa teve o cárter perfurado pelo diferencial dianteiro devido ao encolhimento da suspensão até o final de seu curso (que, sendo longo, é ideal para transpor erosões, mas nas trocentas curvas de nível do caminho se mostrou inadequada). O reparo foi feito pelo próprio piloto usando a velha conhecida massa Durepoxi!
Ao final do dia, soubemos que uma Pajero fundira seu motor 3.5 e outra tivera a suspensão traseira quebrada. Um Vitara em manutenção diante do hotel em Paranavaí teve os quatro amortecedores trocados pois estavam detonados segundo os mecânicos!
O Pajero teve o motor trocado pelo de outro da equipe, que acompanhava a prova. Estrutura ou sorte? Um Troller tombou e o piloto teve fratura no punho esquerdo, embarcando em avião em Paranavaí de volta para casa na manhã do dia 26 para cirurgia e implantação de placa de platina. Primeiro dia…
Paranavaí / Jaguapitã / Cornélio Procópio
A organização determinou que a categoria Adventure andasse em comboio, sistema previsto em função de um participante da categoria ter se aproximado dos competidores no primeiro dia, confundindo raid com rali.
Um Troller de Santa Catarina, retornando contra o sentido do roteiro, bateu de frente contra um jipe e o piloto quebrou o metacarpo da mão, conforme nos informou o médico oficial da prova, dr. Joaquim da Conceição Oliveira, de Castro. O piloto ferido estava acompanhado do filho de 12 anos.
Faltando 25 km para chegar a Cornélio Procópio, o Troller responsável por guiar a Adventure teve o pneu dianteiro direito furado em trecho de asfalto. Troca rápida. Logo em seguida o motor Continental do Willys “fumou” uma baforada mais densa devido ao platinado colado. Sentiu o “train” da jornada e foi puxado pelo Toll Bar para um justo e merecido descanso até o dia seguinte. E foi até o final, como eu opinara desde o início.
3º dia – Cornélio Procópio / Ibaiti / Castro
O Willys de numeral 101 da categoria Jipe tombou duas vezes. A Bandeirante de numeral 69, da Adventure, teve a cruzeta traseira quebrada, danificando a tubulação de combustível. O Vitara, da mesma categoria, perdeu uma mola da suspensão traseira e os cariocas tiveram a sorte de encontrá-la.
Passar pelo cânion Guartelá, o maior do Brasil e sexto maior do mundo, foi emocionante e a paisagem recompensou quem chegou até lá.
4º dia – Castro / Bateias / Curitiba
Encontramos o Pajero TR 4 dos paranaenses Roque Verviuka e Alberto Minski com problemas no diferencial traseiro. O Mário ficou dando uma fôrça junto com o pessoal de Curitiba (Band e Defender 110). Era o “dia dos atoleiros” e o Feroza encostou a “barriga” no facão central e foi puxado duas vezes pelo guincho da Rural de Apoio da Organização. No segundo, acabou passando por conta própria, sem dó nem piedade. Faltou o navegador ler Não vacile, pois no briefing o Diretor de Prova avisara: Acelere prá valer.
Já estava pensando que o dia seria lembrado como Feroza day, quando o Vitara sem tração na dianteira (pifou) deu trabalho por uma hora para chegar ao topo de uma subida enlameada, com auxílio do próprio guincho e também do da Rural, que precisou manobrar, dando show de escorregadas e encostadas nos barrancos. Muitas mãos deram o empurrãozinho final.
A Bandeirante do Mário, que foi o anjo da guarda da Adventure no segundo dia, teve problema na transmissão, ficando sem a primeira e a segunda marchas. O Troller de numeral 10 ficou com o sistema de tração travado na reduzida. E o da dupla Fross (pai e filho), de Toledo. precisou fazer a embreagem.
E a L200 de numeral 53 moeu a ponta de eixo dianteira direita. O que me impressionou foi que o socorro estava sendo feito pelo pai do piloto, Roberto Bardeli, mecânico em Curitiba. O Elcio teve sorte de quebrar perto de casa.
Curitiba / São José dos Pinhais / Garuva(SC) / Guaratuba
Muita reduzida para não fritar freio e embreagem.
Na saída de uma curva encontramos alguns participantes à beira do caminho e o Willys de numeral 66 capotado sobre uma árvore, já no início de uma ribanceira de várias dezenas de metros! Nenhum ferimento na dupla que teve o humor de produzir uma plaquinha com a inscrição Jeep e a seta apontando para o precipício. Muita gente passou e nem viu a nossa obra. Em Guaratuba pudemos conferir um único amaçado no robusto!
A picape Hilux do COE (Corpo de Operações Especiais da Polícia de Choque da Polícia Militar do Estado do Paraná) tombou, também sem feridos. O Defender dos brasilienses foi abastecido com gasolina em Curitiba e precisou ir à oficina para retirar/esgotar/recolocar o tanque. Perderam o roteiro das duas últimas etapas, mas não o dia. Por sorte eu conhecia a região e sugeri que descessem pela Estrada da Graciosa, passando por Morretes, Matinhos e Caiobá, almoçassem um Barreado prato típico do litoral paranaense, fazendo a travessia de balsa para Guaratuba. Aceitaram e curtiram a beleza da Serra da Graciosa.
Confesso que, apesar da total confiança no Feroza (nenhuma peça de reposição) e de tratar o equipamento da maneira correta, foi um alívio chegar ao trecho final já no litoral com todos os sistemas funcionando: 4×2/4×4/4×4 reduzida, as cinco marchas mais a ré e a embreagem É um tratorzinho, motivo pelo qual o elegi para o meu trabalho.
A preocupação e cuidado com os pneus ST deu resultado: Nenhum furo ou corte, e o que não faltou foi pedra no nosso caminho. Dos quatro atoleiros, só em um não foi possível passar por meios próprios. Era o ponto onde a organização avisara desde o briefing, em Guaíra, no dia 24, que haveria Apoio com guinchos, para todos os competidores. Para quem participou pelo Espírito de AVENTURA, slogan do Off-Road Adventure Team desde a sua criação em 99, nada mal.
As 1.100 gramas a menos em cinco dias retratam a realidade da maior exigência de pilotagem em relação ao Sertões 95, em que perdi 1.400 gramas em 10 dias.
Opinião sobre o evento
Uma característica que me agradou pela segurança que representa é o roteiro ser cumprido à luz do dia. Nisso a Organização não deveria mexer. A pontualidade da programação ao longo dos oito dias de duração do evento foi outro importante ponto a favor. A sensação de conhecer o pessoal das equipes de foto/filmagem, do Apoio, dos PCs e todo o Staff do Jeep Clube de Curitiba foi agradável. A competência e cordialidade de todos devido à experiência e por estarem fazendo o que mais gostam a nível esportivo é que faz com que o participante se sinta em casa, entre amigos.
A companhia do COE Corpo de Operações Especiais da Polícia de Choque da Polícia Militar do Estado do Paraná durante todo o roteiro transmite confiança, demonstrando o nível de seriedade do maior Raid das Américas.
Fica a sugestão para ser estudada: a criação das categorias Dupla Mista e Dupla Feminina. E também voltar a contar pontos para a Adventure como ocorreu em 2003, ainda que seja de forma diferenciada em relação às outras categorias. Pode ser um estímulo à maior participação.
Este texto foi escrito por: Luciano Dellarole
Last modified: fevereiro 10, 2004