O ano de 2005 marcou o surgimento dos embriões do Rally Cross-Country nacional. O fortalecimento do Campeonato Paulista, que se estabeleceu de vez, a criação do Veloceará e mais um ano de sucesso do Mitsubishi Cup consagraram o crescimento das pequenas provas locais, opção para quem quer começar no esporte ou simplesmente treinar conservando o equipamento.
As grandes provas do calendário, como o Rally dos Sertões e o Terra Brasil estão cada vez mais caras e seletivas, o que afugenta parte dos competidores. Foi nesse mercado que Deco Muniz em São Paulo e Fernando Holanda no Ceará focaram suas provas. Curtas, baratas, com bom nível técnico e que atraem grandes nomes do esporte, provas como o Paulista de Cross-country e o Veloceará vieram para ficar.
O Paulista chegou a ter grid maior do que algumas etapas da Copa Baja nos carros. Grande parte das duplas que competem no Cross-country nacional são do estado de São Paulo. As prova foram todas dentro de fazendas, em percursos curtos, de até 40 quilômetros, com três passagens. Essa fórmula, desenvolvida pelo Mitsubishi CUP, conquistou mais adeptos a cada uma das quatro etapas do ano, tanto nos carros como nos caminhões.
Popularização – No meio do sertão cearense, sobre um chão praticamente estéril de areia, as famílias que vivem distantes da civilização tiveram um domingo inusitado quando cerca de vinte veículos rasgaram as trilhas da região. A primeira etapa do Veloceará misturou técnica e belas paisagens no novo pólo do Cross-country nordestino.
A primeira etapa foi como um teste, um programa piloto e, já que a fórmula deu certo, a próxima disputa acontece ainda esse ano. A equipe Chevrolet utilizou a prova para o primeiro teste do motor eletrônico da S10 com Edu Piano e Rogério Almeida. Venceu por poucos segundos de Riamburgo Ximenes e Fernando Holanda, dupla de maior expressão do Cross-country nordestino.
Além dessas duas provas, 2006 também terá um embrião. A Troller voltou a incentivar competidores de velocidade e fará uma prova paralela à Copa Troller no ano que vem com disputas contra o relógio. Este ano a marca esteve presente no Rally dos Sertões com uma equipe bem estruturada, mas a experiência provou que os veículos ainda precisam de alguns ajustes para aumentar a durabilidade. A Troller também estuda a possibilidade de lançar um veículo especial para velocidade no ano que vem, nos moldes da nova picape Pantanal.
O destaque do ano para a Regularidade ficou com a unificação da Taça Brasil, que agora conta, além das provas da Dunas, com o Rally Mercosul e o Rally do Agreste. É o primeiro passo para um Campeonato Brasileiro de Regularidade amplo, com várias provas, visto que até agora o Rally dos Agreste representa o campeonato inteiro diante da CBA.
O fato que marcou o ano no Campeonato Brasileiro de Cross-country foi a desistência das motos no Terra Brasil, terceira etapa. A causa não é nenhuma novidade, os pilotos alegaram falta de segurança, alguns afirmaram encontrar caminhão na contra-mão na trilha que deveria ser fechada quando estavam em alta velocidade. Dyonísio Malheiro, organizador da prova, assumiu na ocasião que dificilmente as trilhas são 100% fechadas.
Foi levantado na ocasião que em nenhuma prova do Mundial de Cross-country as trilhas são fechadas. Acontece que lá todos sabem disso, e não acreditam que as trilhas estão limpas, como aqui, e lá as prova são feitas em locais completamente isolados, como o deserto africano, chileno ou egípcio.
Falta de segurança e organização falha são os pontos fracos da Copa Baja, mas nem tudo é crítica. Nas palavras do navegador campeão do Sertões Rogério Almeida, a Copa Baja apresenta as melhores trilhas que eu já percorri na minha vida. Nesse sentido são impecáveis, a escolha das trilhas é perfeita.
Sertões – Ciente dessa preocupação, por parte dos competidores, a organização do Rally dos Sertões optou por fazer a prova mais no centro do Brasil, uma região menos habitada. Apesar de não passar por nenhum trecho do Sertão brasileiro, diminuiu as chances de algum competidor encontrar um veículo que não fosse da prova.
Aumentou também a distância entre as cidades, principalmente no começo da prova, no Mato Grosso e no Pará. Isso dificultou a vida do circo que segue a prova e aumentou o número de acidentes sérios entre as equipes de apoio, que geralmente acontecem por cansado e falta de concentração. Este ano também marcou a inclusão da prova no calendário mundial para as motos. Mesmo com poucos competidores, feras como Marc Coma e Carlo de Gavardo estavam presentes.
O Rally começou e terminou em Goiânia. A chegada aconteceu numa terça-feira de tarde e contou com pouco mais de cem curiosos. Bem diferente da chegada triunfal na praia dos outros anos, em Fortaleza. A organização já divulgou que para 2006 o rali volta a chegar na praia, na Bahia, e as cidades de Salvador e Porto Seguro são as mais cotadas.
No balanço final, da classificação, esse foi o primeiro ano heterogêneo desde que as grandes marcas resolveram montar equipes próprias. A Chevrolet venceu o Rally dos Sertões, mas não conseguiu terminar as duas provas seguintes. Melhor para a Mitsubishi, que mesmo com quebras no Sertões manteve a regularidade no campeonato e ficou com o título brasileiro. É visível que o ano tem dois objetivos para as equipes de ponta, e cada uma ficou com um neste ano. A primeira certeza para 2006 é que a disputa vai ser boa. Aguardem!
Daniel Costa, é jornalista e repórter do Webventure. É apaixonado por off-road e no Webventure conheceu todos os outros esportes de aventura fazendo reportagens e entrevistas em outras editorias, como Montanhismo e, principalmente, Vela. Daniel é um dos responsáveis pelas editorias de Vela e faz a cobertura on line dos campeonatos brasileiros de cross-country. Este é um texto opinativo e reflete a opinião de seu autor. |
Este texto foi escrito por: Daniel Costa