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Off-road: o grande vilão para a natureza?


Em expedições Jurandir Lima passou pelo Parque Nacional da Serra da Capivara (PI) um dos que possui estrutura para o visitante. (foto: Jurandir Lima)

Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, o Webventure aponta quais os impactos causados pela prática do off-road e o que se deve fazer para minimizá-los.

Para muita gente, classificar o off-road entre os esportes de natureza é uma contradição. Apesar de as trilhas em terra, ou seja, na natureza, serem o palco desta atividade, o fato de andar por aí soltando fumaça, fazendo barulho, “escavando” o solo com os pneus e derrubando árvores para fazer atalhos ou ancoragens está longe de ser o comportamento de quem se preocupa com o meio ambiente, idéia associada aos praticantes de esportes de aventura.

O Webventure ouviu dois especialistas e eles garantem que é possível fazer o off-road sem causar grandes impactos ao meio. “O impacto zero não existe, mesmo uma caminhada”, lembra João Roberto Gaiotto, Consultor Webventure e que dá cursos da modalidade por todo o país.

Jalapão já sofre – Gaiotto diz que as regras principais são dar preferência a locais já degradados para praticar o off-road, pois o impacto será menor; e, em meio à natureza, deve-se andar sempre pela trilha que já existe. “Ora, se o desafio para o jipeiro é passar por um terreno difícil, ele que vença o atoleiro ou aquele buraco e não abra um novo caminho para contornar o obstáculo”, diz.

Gaiotto avisa que os “atalhos” já estão comprometendo regiões como a do Jalapão (TO), considerada uma das mais desafiadoras para os praticantes de off-road. “Tem gente que para fugir do areião passa por cima do cerrado. A vegetação morre e aquilo ali vai virar areia, então o próximo que vier vai abrir outro caminho pelo cerrado para evitar aquele local e assim por diante”.

Andar com o carro ou a moto locais proibidos, como as áreas de preservação, é crime. “Não adianta dizer que o problema nesses locais é que não há fiscais para coibir a entrada… Se a gente não respeitar por iniciativa própria essas restrições, daqui a pouco vão haver leis que vão proibir toda a atividade. É o que acontece na Europa, por exemplo. Na Alemanha, você não consegue fazer o off-road em lugar nenhum. Na Inglaterra, para andar numa propriedade particular você precisa de 200 autorizações…”, alerta João Roberto Gaiotto.

Nos Parques Nacionais – Jurandir Lima, formado em MBA na área de Engenharia da Qualidade Ambiental, realiza expedições a Parques Nacionais a bordo de um veículo off-road, claro, respeitando as restrições de circulação de veículos nesses locais. “A verdade é que dos 48 Parques Nacionais que existem hoje no Brasil cerca de seis têm estrutura para a visitação, que inclui orientações ao visitante de onde ele pode seguir de carro e onde é proibido”, diz.

Os seis parques seriam o Itatiaia (RJ), Tijuca (RJ), Serra dos Órgãos (RJ), Serra da Capivara (PI), Iguaçu (PR) e Aparados da Serra (RS), que é um dos mais restritos. No PN Chapada dos Veadeiros (GO), é proibido circular com veículo motorizado. Serra do Cipó (MG) e Caparaó (MG e ES) serão os próximos a criar essa estrutura.

Proibição total? – Para Jurandir, não é viável a restrição total. “Os próprios funcionários dos parques guardas, fiscais usam o carro para cumprir suas funções e ter acesso às diversas áreas da unidade. E o visitante também se beneficia disso. Se precisar fazer toda a caminhada a pé para chegar ao Parque, com certeza a visitação diminuiria muito e não podemos esquecer que uma das funções de um Parque Nacional, de acordo com o próprio Ibama, é servir como local de visitação e lazer.”

Quando um veículo motorizado circula em uma área natural, os principais impactos são a poluição, a eventual contaminação de cursos d´água e prejuízos ao solo.

A abertura de novas trilhas, com a derrubada de árvores, não gera apenas o desmatamento. Prejudica todos os animais que dependem dessas árvores: pássaros, insetos, microorganismos que vivem no chão e se alimentam do que cai delas. E um veículo vazando óleo, ao cruzar um riacho, por exemplo, vai contaminá-lo e gerar um impacto na vida aquática. Já a poluição sonora afugenta os animais, sobretudo os pássaros.

Sobre a poluição causada por um motor desregulado, que emite muita fumaça, queimando óleo, Jurandir Lima lembra que a própria natureza nos dá um indicador dessa incidência. A presença maciça de liquens, associações de algas e fungos, indica que o local não foi poluído, pois o líquen sofre com o dióxido de enxofre, produzido na queima do óleo diesel.

Soluções para ancoragem – Usar uma árvore como local de ancoragem, para retirar um veículo atolado, pode ser inevitável em certas ocasiões. “É uma situação de emergência, quando você realmente não tem nenhum outro recurso”, lembra João Roberto Gaiotto. “Mesmo assim, é necessário escolher uma árvore forte e jamais amarrar cordas, cabos de aço ou correntes direto na casca, esmagando-a.”

O Consultor diz que o ideal é usar equipamento adequado, como as cintas para ancoragem que já existem no mercado brasileiro. Na falta disso, é possível improvisar: “Envolva a árvore com uma borracha, uma lona ou até mesmo uma calça jeans e por cima coloque o cabo. Assim o impacto será mínimo”, sugere Jurandir.

Lixo – O lixo é considerado o impacto mais freqüentemente causado pelos off-roaders. “Hoje está muito melhor, mas ainda tem muita gente que deixa sujeira por onde passa. No último fim de semana estivemos praticando com os alunos do curso na praia de Maricá (RJ) e encontramos o local bem sujo, não dava para andar descalço na areia. Jogam lixo no mar e ele o traz de volta à praia”, conta Gaiotto.

Os dois especialistas dizem que é preciso apostar na consciência de cada praticante. “A comunidade do off-road tem que saber que seu local predileto para a atividade depende da sua preservação”, alerta Jurandir. “Seria ótimo se durante um passeio, por exemplo, houvesse o plantio de árvores. É uma forma de fazer o efeito contrário e ajudar a natureza”.

  • Não abra novas trilhas nem atalhos;
  • Evite usar árvores para ancoragem. Se não puder evitar, use cintas ou proteja a casca da árvore com borracha, lona ou tecido;
  • Ande sempre com o veículo em dia: antes da trilha verifique o motor, escapamento e possíveis vazamentos de óleo;
  • Jamais deixe lixo na trilha.

    Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira