Grupo do Cerro Fitz Roy (foto: Camilo Rebouças / Revista Headwall)
Montanhista e oficial do Corpo de Bombeiros de São Paulo, Victor Carvalho, já esteve no Fitz Roy, conhece a região, e explica as dificuldades de resgate de Bernardo Collares.
Como escalador já tive a oportunidade de escalar duas agulhas do maciço do Fitz. A Guillaumet (Não fiz cume. Tivemos que descer devido a uma tempestade que pegamos depois de nove enfiadas, já no col ‘Amy’) e a Aguja de la ‘S’.
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Se as informações preliminares estiverem certas e o Bernardo ter ficado mais de 30 enfiadas para cima no Fitz é impossível ele ser retirado de lá a não ser que por helicóptero. Qualquer tentativa de resgate por escalada nestas circunstâncias seria muito arriscada, se não suicida (ao meu ver), e praticamente sem chance de sucesso. Ainda mais nas condições de saúde dele (hemorragia e fratura de bacia).
Infelizmente as condições de voo por lá são extremamente ruins, com ventos que chegam a 80 km/h. Duvido muito que uma operação de resgate aéreo seja possível, até pelo tempo passado desde os fatos: o acidente deve ter sido entre o dia 2 ou 3, e pela tempestade que teve no dia 3 ou 4.
A Kika Bradford foi valorosa e tomou a decisão correta. Sozinha ela não teria condições de resgatá-lo e iria morrer lá se ficasse.
A escalada – O Fitz Roy é uma das montanhas mais duras do mundo e o Bernardo sabia disso (por mais que ele estivesse no nível da montanha). A informação que chegou é que em Chaltén estão alguns dos melhores alpinistas do mundo (Rolando Garibotti, o próprio Tartari, acho que o Colin Haley também está lá, entre outros). Creio que se eles decidiram ser impossível um resgate, a decisão deles deve ter um embasamento técnico bastante forte.
Claro que tudo pode mudar conforme novas notícias cheguem, mas o mais importante agora é procurar dar amparo a família (os que têm acesso a ela) e dar amparo a Kika Bradford, pois ela sofreu uma das maiores provações e sofrimento que alguém poderia ter sentido.
Praticamente não conhecia ele, a não ser por um breve contato na Pedra do Baú uma vez e um e-mail trocado. Mas tinha grande admiração e estou muito triste com essa perda.
Este texto foi escrito por: Victor Carvalho
Last modified: janeiro 7, 2011