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Olhar Amador: As primeiras etapas do Campeonato Brasileiro de Rally Cross-country 2007


Rally de Barretos (foto: Donizetti Castilho/ www.webventure.com.br)

Muita coisa mudou no Rally!

Em 2006, tivemos tristes episódios no mundo do Rally. Dentre eles, um campeonato nacional fraco.

Além de outros fatos, o campeonato foi fraco porque não tivemos nenhuma prova no primeiro semestre do ano: nossa primeira prova foi realizada apenas no final do mês de julho – o Rally Internacional dos Sertões.

Foi igualmente fraco porque tivemos poucas provas: em julho, o Rally Internacional dos Sertões; em outubro, o RN 1.500; em novembro, o BolPeBra; e, em dezembro, o Rally dos Amigos. Num ano inteiro, tivemos quatro provas. E todas elas realizadas no segundo semestre de 2006.

O campeonato nacional foi fraco porque, naquele ano, contamos com poucos organizadores e, dentre estes, poucos estavam comprometidos com a excelência de uma prova e segurança e satisfação de seus clientes, os pilotos*.

Mas isso mudou:
1) Neste ano, em apenas em um mês, tivemos duas provas;
2) as duas provas foram realizadas por novos e diferentes organizadores; e
3) estes novos organizadores apresentaram uma nova realidade: tanto o Rally Rota MA, como o Rally de Barretos buscaram, desde o início de sua campanha de marketing, preocupação com os pilotos e respectivos apoios.

Pela primeira vez, pudemos ver uma relação contratual entre as partes que fazem um Rally. De um lado, os pilotos e seus apoios, clientes e contratantes do serviço de organização e realização de uma prova de Rally. De outro lado, os organizadores, André Barreto, Ricardo Medeiros e Gaúcho, no Rally Rota MA; e Fernandinho e Marco Aurélio, no Rally de Barretos.

Pela primeira vez, os organizadores de Rally trataram os pilotos e seus apoios como clientes. Pela primeira vez, os contratados cumpriram com seus deveres com esmero. E quando não puderam fazê-lo, estavam visivelmente preocupados em corrigir o erro e dar a devida satisfação a seus clientes.

Assim, o nosso Campeonato Brasileiro de Rally Cross Country merece comemoração, pelo novo padrão de qualidade de seus eventos. Um padrão comprometido e responsável com o desenvolvimento do esporte.

Pela coragem e pela inovação, parabéns!

* ressalva deve ser feita à Dunas que, além de promover o esporte de forma profissional e séria, tornou seu padrão a qualidade do serviço prestado e o tratamento atencioso; é fato que, quem quer entre em contato com a Andréa Félix, seja um piloto de ponta, seja um piloto absolutamente desconhecido, em qualquer horário, é tratado de forma, não apenas cortês, mas atenciosa e eficaz.

Este Rally tem uma particularidade que merece atenção especial. Ele é conseqüência do esforço de um piloto de Rally em melhorar nosso Campeonato Brasileiro de Rally Cross Country. É fruto da coragem de um piloto, que não vive do esporte e, por isso, não retira nada dele. Ao contrário, só acrescenta. Decorre da vontade do piloto Ricardo Medeiros, o Maranhão, de desenvolver o esporte Off Road.

Um piloto de moto, amador, isto é, um piloto que não é profissional do esporte, que não tira do esporte o seu sustento, que nunca realizou evento de tal tamanho, fez acontecer a inauguração do Campeonato Brasileiro de Rally Cross Country.

Através de uma equipe de amigos – estes, profissionais de Rally e comunicação engajados na realização de uma prova de Rally divertida e segura, Maranhão nos mostra que é possível termos um Campeonato Brasileiro digno de nossos pilotos.

Desde o início de janeiro deste ano, os membros da organização do Rally Rota MA responderam aos questionamentos de pilotos e apoios. Questionários imensos, e-mails e telefonemas diversos eram respondidos de forma sempre simpática e disponível.

Responderam todas as nossas perguntas sem medo de dizer “ainda não está pronto” ou mesmo “ainda não sabemos”. São poucos aqueles que têm a coragem de responder “não sei” ou “ainda não está pronto”. E estes merecem aplauso. Foram nobres e não esconderam os problemas que enfrentavam. A atitude frente aos problemas é digna de elogios expressos.

Os resgates de acidentados fossem pilotos ou apoio foram feitos de forma absolutamente eficaz. Tratava-se de um helicóptero, com três pessoas aptas a prestar socorro, com rádio conectado ao canal da prova, por todo o tempo da prova, que sobrevoava todo o trajeto e adjacências.

A equipe de limpa trilhas, Gaúcho e família, eram igualmente eficazes e incansáveis. O esforço de fazer acontecer e de fazer correto superaram as barreiras das condições detidas pela organização. As diversas idas e vindas da família Gaúcho pelas trilhas de areia, num carro pouco adequado, não tinham o poder de retirar o sorriso e a sempre boa vontade do Gauchinho.

Melhorias – Sem retirar o brilho dos elogios feitos acima, termino minha análise do Rally Rota MA citando algumas oportunidades de melhoria para a prova do próximo ano.

Dentre elas, o trato das informações sobre acidentes.

Com a intenção de informar à família do acidentado – o acidentado era apoio e sua família estava participando da prova como pilotos -, a organização desceu de helicóptero em um dos carimbos para avisar estes pilotos do acidente. O esforço e o empenho da organização demonstrava a melhor de suas intenções. Contudo, naquele momento, os pilotos nada podiam fazer para ajudar seu familiar acidentado. Ao contrário, estes pilotos deveriam percorrer todo o percurso de volta da prova para poder alcançar o acidentado. Isto é, deveriam retornar à Cidade dormitório pilotando em terreno de teste especial de alta dificuldade e perigo, de forma desconcentrada e tensa.

É preciso que os responsáveis pela publicidade das informações sobre resgates em provas de Rally sejam sensíveis às diversidades destes eventos em relação aos demais ambientes de acidente, no sentido de que estas notícias sejam fornecidas em momentos e de forma apropriados.

Outra oportunidade de melhoria para o próximo ano é o cumprimento do programa e respectivos horários.

Um prova de Rally é composta de organizadores, pilotos e equipes de apoio. Cada um com sua função e obrigações a cumprir. Cada uma destas obrigações tem seu momento de ser executada, requer programação e organização. Este momento é determinado de acordo com a programação do Rally, isto é, com fundamento nos horários determinados pela organização do Rally no Regulamento Particular da Prova e/ou no Briefing do dia anterior. As equipes, como um todo, se organizam de forma a estarem disponíveis para a organização do Rally naqueles horários predeterminados pela prova.

Assim, a não observação dos horários pela organização da prova implica, não apenas, no remanejamento do tempo de execução destas funções, mas em cansaço desnecessário dos pilotos e apoio, expondo-os a risco igualmente desnecessário. Deixar pilotos e apoio no aguardo indeterminado priva o piloto de sua logística, prejudicando a preparação da equipe e o descanso necessário à realização de uma prova segura.

Estas são as observações que mais me chamaram a atenção nesta prova.

O Rally Rota MA está de parabéns pela coragem e pelo absoluto empenho!

De forma igualmente competente e simpática à equipe de organizadores do Rally Rota MA, a equipe organizadora do Rally de Barretos, desde o início da campanha de marketing do evento, se mostrou aberta a quaisquer questionamentos e sugestões que pilotos e apoios tivessem a respeito da prova.

Fernandinho esteve à disposição dos pilotos e apoio 100% do tempo. Desde o início da campanha até altas horas da noite durante o evento. Mesmo no auge do “stress” da prova, no briefing, em todos os momentos, Fernandinho deu atenção a todo e qualquer piloto e apoio que lhe solicitou.

A prova mostrou que esta nova relação de prestador de serviço e cliente é fato e não apenas um desejo de nossa parte – no mundo do Rally.

Parabéns!

Outro fato que chamou muito a atenção foi o empenho da organização no cumprimento dos horários.

Alguns dos horários, como o primeiro briefing na Cidade de São Paulo e a largada promocional, não foram cumpridos. Houve atraso. Contudo, havia absoluto empenho da organização para que os eventos ocorressem no tempo programado. Durante todo o Rally era possível ouvir dos membros da organização sua preocupação com o cumprimento dos horários.

Juntamente com os horários, o monitoramento da prova foi impecável. Através do rádio, era possível verificar que os organizadores sabiam o que estava acontecendo em cada parte da prova. Através da comunicação ininterrupta entre todos os membros da organização era possível saber a exata posição de cada um dos pilotos na prova.

Este controle, isto é, a exata noção do que ocorre em cada parte da prova é muito difícil de organizar e realizar. Em nossas provas nacionais de Rally Cross Country, apenas a Dunas, através de um enorme sistema de pessoas, procedimentos e instrumentos executado pelo Du Sacks e pelo Kilca, têm este controle.

Parabéns Fernandinho!

Mas é possível melhorar em alguns pontos.

Entendo que, de igual forma ao Rally Rota MA, a publicidade das informações sobre resgate de acidentados deva ter uma atenção um pouco maior.

Na preocupação de providenciar socorro imediato a um piloto acidentado, o médico responsável por uma das ambulâncias pedia, a quem pudesse ouvi-lo, uma planilha da prova para localizar o acidente. Era visível a preocupação do médico. Mas sua reação provocou uma comoção em todos os apoios que estavam no local e eram muitos, já que se tratava de um local de abastecimento.

Preocupados com a notícia e com as eventuais providências que deveriam tomar em caso de transferência do acidentado para outra Cidade ou hospital o deslocamento do acidentado para outra localidade/hospital é de responsabilidade do piloto e apoio -, os apoios pediam informações sobre a identidade e o estado do piloto. Estas foram negadas pelo médico que brandava uma planilha que não existia a prova não tinha planilha, mas bumps e que publicou uma notícia de acidente de forma inapropriada e desnecessária.

Apoios não são pilotos e apoios não estão em lados opostos aqueles que trabalham na prova. Apoio e membros da prova são complementares. Um bom apoio retira da organização da prova boa dose de trabalho. Um bom apoio ajuda no carregamento de motos que não podem mais continuar na prova ainda que não sejam de sua equipe , empresta conforto aqueles que trabalham na prova bebidas geladas, sombra, lanche – e até presta socorro a acidentados desde que devidamente solicitado e supervisionado pelos respectivos responsáveis.

Estes foram os fatos que me chamaram mais atenção.

O Rally de Barretos está de parabéns pela execução da prova e pela impecável organização!

Este texto foi escrito por: Dea Villela