As considerações sobre o Rally dos Sertões 2007 podem ser resumidas a seguinte forma:
1) o Rally foi ainda mais organizado;
2) a Dunas manteve sua integral disponibilidade e atenção;
3) o Rally foi ainda mais pontual;
4) a largada e a duração da prova, em sua maioria, não eram condizentes com o horário do briefing diário;
5) apesar da obrigatoriedade de fechamento dos trechos cronometrados ao trânsito ordinário contida no art. 2 do Regulamento Rally/Baja 2007, os pilotos retardatários encontraram estes trechos abertos à passagem pública;
6) as etapas de moto, em sua maioria, terminaram à noite;
7) o apoio foi exposto a risco desnecessário; e
8) as informações sobre os trajetos do apoio foram escassas.
A Dunas foi pioneira a promover uma relação contratual entre as partes que fazem um Rally. De um lado, os pilotos e seus apoios, clientes e contratantes do serviço de organização e realização de uma prova de Rally. De outro lado, os organizadores, a Dunas Racing, Marcos, Simone, Tereza, Andréa, Edgar, entre muitos outros.
Foi a primeira (e única, por muitos anos) a tratar os pilotos e seus apoios como clientes.
Foi a primeira (e única, por muitos anos) a estabelecer como padrão de atendimento o sorriso e a eficiência.
Foi a primeira (e única, por muitos anos) a cumprir com seus deveres com esmero. E quando não puderam fazê-lo, estavam visivelmente preocupados em corrigir o erro e dar a devida satisfação a seus clientes.
Desta forma, a Dunas está de parabéns por estabelecer um alto padrão de qualidade de seus eventos. Um padrão comprometido e responsável com o desenvolvimento do esporte.
Pela coragem, pela inovação, pela eficiência e pela simpatia em tudo o que fazem, parabéns!
Neste ano, a Dunas solicitou que toda a documentação de pilotos e apoio fosse apresentada anteriormente à Goiânia.
Esta forma de apresentação da documentação acelerou o credenciamento feito naquela Cidade, diminuiu as filas e favoreceu as equipes organizadas.
A chegada em Goiânia foi surpreendente. O estacionamento/acampamento estava lotado há 5 dias antes do início do Rally – fato inédito. Apesar de lotado, estava absolutamente organizado.
Gringo administrou o local com retidão e muita simpatia.
O fato do espaço não suportar o número e tamanho de motor homes, carros, etc é inédito no Rally. De forma que não pode ser tomado como ponto negativo na organização do evento. Contudo, fica a sugestão de oportunidade de melhoria para o próximo ano para a adequação do espaço disponível aos efetivos números e tamanho de veículos de apoio e veículos de prova previamente inscritos no evento.
Para tentar ajudar na administração do local, talvez seja interessante alocar as equipes conforme o veículo de prova.
São diversos os fundamentos desta sugestão:
a) as equipes de moto, carro e caminhão têm consumo distinto;
Isto é, a energia elétrica e a água consumidas por cada espécie de equipe varia de acordo com os equipamentos que utilizam e com o número de pessoas envolvidas em cada uma delas;
no caso das equipes de carro, em sua maioria, são auto-suficientes em termos de energia elétrica e utilizam geradores por toda a noite, contudo utilizam aparelhos de mecânica e lavagem que consomem alta intensidade de energia elétrica em específicos espaços de tempo, causando a queda de todo o sistema elétrico do acampamento de forma intermitente;
de seu lado, as equipes de moto são dependentes da água e energia locais, exigindo elevada oferta destes recursos;
b) as equipes de moto, carro e caminhão têm horários (de descanso e de trabalho) e volumes distintos; Por exemplo, à noite, enquanto as equipes de moto estão em seu horário de descanso ou de pouco trabalho, as equipes de carro estão em horário de pico de trabalho;
o contrário acontece na parte da manhã, quando as equipes de moto fazem bastante barulho e as equipes de carro estão em seu horário de sono;
c) as equipes de moto, carro e caminhão ocupam espaços distintos, isto é, o espaço ocupado pelas equipes de moto é menor do que o espaço ocupado pelas equipes de caminhão, que é menor do que o espaço ocupado por equipes de carro;
Até em termos de marketing, não é salutar ao investidor que uma equipe de moto fique ao lado de uma equipe de carro, pois, por melhor marketing que tenha, o espaço ocupado por uma equipe de carro sempre fará mais volume do que um pequeno espaço de marketing.
A equipe de apoio da Dunas sempre esteve disponível e atenta às necessidades de pilotos e apoio.
Em anos anteriores, era possível ver Marcos, Simone, Andréa, Teresa, Edgar, entre outros, sempre dispostos a ajudar, independentemente do horário ou das poucas horas de sono que tinham.
Neste ano, isso não mudou. Com a entrada de Miwa e Ane na equipe gerencial, a qualidade do trabalho se manteve.
Miwa é só sorriso e boa vontade. Não pode ser mais doce e mais prestativa.
Ane, um pouco mais tímida, é sempre eficiente. A qualquer horário!
O RALLY FOI AINDA MAIS PONTUAL
Uma prova de Rally é composta de organizadores, pilotos e equipes de apoio. Cada um com sua função e obrigações a cumprir.
Cada uma destas obrigações tem seu momento de ser executada, requer programação e organização. Este momento é determinado de acordo com a programação do Rally, isto é, com fundamento nos horários determinados pela organização do Rally no Regulamento Particular da Prova e/ou no Briefing do dia anterior.
As equipes, como um todo, se organizam de forma a estarem disponíveis para a organização do Rally naqueles horários predeterminados pela prova. Os horários de cada uma das funções da equipe são geridos pelo cronograma da prova. Cada tempo de trabalho e cada tempo de descanso têm como fundamento a agenda do organizador da prova.
Por estes motivos, é de fundamental importância o cumprimento do cronograma da prova.
É fato que administrar um Rally deste volume não é tarefa fácil. Muito pelo contrário. Fazer com que este volume funcione no horário não é tarefa menos difícil.
Neste ano, os eventos do Rally ocorreram, em sua grande maioria, dentro do horário previsto.
Aqueles poucos eventos que fugiram à regra do horário, apesar dos esforços visíveis da Dunas em cumpri-la, foram causados por terceiros ou por mal tempo.
Assim, parabéns à Dunas pelo empenho no cumprimento dos horários.
Sem retirar o brilho dos elogios feitos acima, deve ser chamada atenção para um lapso na administração dos horários dos pilotos em relação aos eventos da prova.
Para ser mais específica, se somado o horário de largada do último piloto de moto ao tempo total de prova, era muito difícil a este piloto estar presente no briefing diário.
Além do briefing fazer parte do regulamento particular da prova e ser obrigatório pelo Regulamento Rally/Baja 2007 , ele é essencial para os pilotos ficarem a par das mudanças ocorridas no roteiro da prova do dia seguinte, bem assim dos trechos de maior risco, zonas de radar, etc. Isto é, além de ser um regulamento verbal (isto é, não repetível) diário, ele atenta os pilotos para as zonas de maior risco da prova.
Desta forma, como oportunidade de melhoria para o próximo ano, sugiro que os horários sejam calculados de forma a permitir a presença de todos os pilotos no briefing diário.
No que se refere ao tempo de prova dos pilotos retardatários, deve ser acrescido um fato de gravidade um pouco maior, qual seja, o fechamento dos trechos cronometrados.
5) APESAR DA OBRIGATORIEDADE DE FECHAMENTO DOS TRECHOS CRONOMETRADOS AO TRÂNSITO ORDINÁRIO CONTIDA NO ART. 2 DO REGULAMENTO RALLY/BAJA 2007 , OS PILOTOS RETARDATÁRIOS ENCONTRARAM ESTES TRECHOS ABERTOS À PASSAGEM PÚBLICA
Como se trata de fato comum, estes pilotos, que já pilotam em velocidade diminuta aos pilotos de ponta, se deparando com obstáculos, diminuem ainda mais sua média horária.
No caso da 9ª. Etapa deste Rally dos Sertões, trecho estreito e sinuoso, os pilotos cruzaram com diversos veículos, dentre eles, 2 caminhões.
Um deles, na contra mão da prova, e o outro na mão.
Encontrar um caminhão na mão da prova, em um trecho sinuoso e estreito prejudica, em muito, o tempo do piloto, já que torna a ultrapassagem quase impossível.
Encontrar um caminhão na contra mão da prova, em um trecho estreito e sinuoso, é colocar em risco desnecessário os pilotos da prova.
Mas não é apenas este fato que deve ser atentado.
Um de nossos pilotos informou a Técnica do fato e recebeu, desta, a resposta de que sabiam de um caminhão, mas não de dois caminhões…
Não sei qual fato é mais grave, ter esta informação e nada fazer a seu respeito ou dizer para o piloto que quase bateu em dois caminhões que a organização da prova sabia deste risco.
Chamada a tomar providência a respeito do perigo a que estava expondo os pilotos, a Técnica pediu ao piloto que falasse com o responsável pela prova, Edu Sacks, que pediu que falasse com o Confederação de Motociclismo o que só foi possível ao final do dia de prova.
Ao final do dia de prova, nada mais havia a fazer.
Este fato leva a diversos questionamentos:
1) os trechos cronometrados são fechados ou abertos?
2) se um dos pilotos de ponta estivesse nesta situação do piloto retardatário, qual seria a providência da direção de prova?
3) acredito eu, certamente, a direção de prova a suspenderia até a desobstrução do trecho cronometrado;
4) mas porque a regra para os pilotos de ponta é diferente daquela aplicada aos pilotos retardatários?
5) é fato que os pilotos de ponta chamam patrocínio e público; mas será que os pilotos amadores, que investem em todas as provas do campeonato, que investem em pilotos, que investem em provas (diga-se: o fazem com o único objetivo de desenvolver o esporte) merecem tratamento tão diferente?
Veja, o que se argumenta neste tópico não é a regra de fechamento ou abertura da prova, mas a aplicação de regras distintas a situações comuns.
Assim, como oportunidade de melhoria para o próximo ano, sugiro que se determine, antes da prova, a aplicação de tais e quais regras.
Ainda no que se refere a horários, é importante alertar para outro fato.
1 – Art. 11 Circulação O briefing é OBRIGATÓRIO para todos os concorrentes (grifos de minha autoria)
2 – As PEs (PCs ou SSs), provas de classificação, DEVERÃO ser realizadas em roteiros fechados ao trânsito normal, devendo este fechamento ser providenciado com bastante antecedência junto aos órgãos de segurança pública. Os organizadores devem providenciar também médicos, ambulâncias, bombeiros e veículos de resgate para atenderem aos eventuais acidentes, que deverão estar posicionados na largada de cada especial, e sem custo adicional para o concorrente, na medida do possível será exigido no mínimo um helicóptero para resgate.
Os problemas com fechamento de estradas e impedimentos temporários podem determinar o atraso da prova antes ou após o seu inicio. Estes atrasos deverão ser cumpridos, retendo-se as cartelas dos concorrentes e aumentando-se o intervalo dado aos concorrentes entre sua chegada e sua partida (neutralizado). O atraso de uma etapa incrementa automaticamente (com o tempo de atraso) os horários máximos de chegada da etapa, largada e chegada de todas etapas sucessivas daquele dia. (grifos de minha autoria)
3 – A quilometragem das etapas diárias DEVERÁ estar adaptada às dificuldades do traçado de forma que os CONCORRENTES POSSAM CHEGAR DE DIA, dentro das condições normais da prova. (grifos de minha autoria).
Em vista dos fatos apresentados acima, grande parte das etapas terminou à noite.
Isto é, os pilotos circularam por grandes deslocamentos finais (das 9 etapas, 5 tiveram deslocamento final superior a 100km) à noite e sem qualquer aviso da organização de prova de que este fato aconteceria.
Apesar da obrigatoriedade das provas ocorrerem durante o dia (art. 01.1. do Regulamento de Rally/Baja 2007 ), o fato que deve ser chamado à atenção não é a circulação noturna das motos. O fato relevante é a circulação à noite por trechos extensos (271 Km, 330 Km, 153 Km, 298 Km, 107 Km). O fato relevante é a circulação à noite por trechos extensos sem aviso.
Em especial, na etapa de Senhor do Bonfim até Aracaju, onde a largada teve seu horário alterado por duas vezes (uma vez no briefing e outra em razão do mal tempo), o deslocamento final, não apenas, foi à noite, como também foi feito através de uma estrada sem iluminação, sem marcas de sinalização e de grande circulação de caminhões. Um alto risco para qualquer carro, que dirá para motos.
É fato que esta etapa não poderia ter sido realizada no seu horário original, já que o tempo nebuloso não permitia a vôo de helicópteros de socorro. Mas, diante da necessidade de atraso da prova, a direção de prova deveria ter revisto os procedimentos de chegada, de forma a não expor os pilotos a risco alheio à prova.
Veja, não levanta-se a questão pelo simples risco. O esporte é de risco. A questão que se levanta é sobre o risco alheio à prova. Um risco desnecessário e para o qual os pilotos não tiveram a opção da escolha.
Provas com melhor nível técnico, mais difíceis, com mais risco, ajudam o esporte, melhorando a performance de nossos pilotos. Quanto melhor nível técnico tiverem nossas provas, mais bem formados serão nossos pilotos. Isto só ajuda o esporte!
Mas será que estamos dispostos a perder esta qualidade que a Dunas adquiriu durante tantos anos de lindas provas, para um deslocamento extenso numa estrada sem iluminação, sem sinalização e com excesso de caminhões? Será que estamos dispostos a perder um de nossos pilotos em acidente no asfalto?
Ao participar do briefing e estudar as planilhas, o piloto tem a escolha de correr aquele risco ou não. E esta opção é exclusiva do piloto. Até porque a responsabilidade é exclusiva dele.
No caso, a organização não informou os pilotos do risco de deslocarem à noite, nem que este deslocamento seria feito por uma estrada tão perigosa. Esta opção foi retirada dos pilotos no momento em que a organização deixou de informá-los.
Desta forma, como oportunidade de melhoria para o próximo ano, sugiro que os responsáveis pelo desenho da prova verifiquem qual caminho nossas provas vão tomar.
Ainda no que se refere ao item segurança, é preciso falar sobre o apoio.
Apoios não são pilotos.
Apoio e membros da prova são complementares. Um bom apoio ajuda a organização prova, retirando dela boa dose de trabalho. Um bom apoio ajuda no carregamento de motos que não podem mais continuar na prova ainda que não sejam de sua equipe , empresta conforto aqueles que trabalham na prova bebidas geladas, sombra, lanche – e até presta socorro a acidentados desde que devidamente solicitado e supervisionado pelos respectivos responsáveis.
Apoios servem à ajuda.
Por este motivo, não podem expor-se a riscos. Do contrário, ao invés de aliados da organização, tornam-se ônus para ela.
Ao fazer com que os apoios andem por distâncias excessivas, a organização expõe, de forma direta, estes a risco.
Ainda que o apoio seja o mais responsável de todos os apoios, trafegar por dias seguidos por distâncias excessivamente longas contra um tempo não proporcional e em estradas tão precárias, faz com que estes, de início, já saiam para o dia de prova com um percentual de risco alto. Isto é, sem fazer absolutamente nada, o apoio já está exposto a risco.
A conseqüência desta escolha de prova pode ser desastrosa.
De igual forma ao item acima, como oportunidade de melhoria para o próximo ano, sugiro que os responsáveis pelo desenho da prova verifiquem qual caminho nossas provas vão tomar.
Outro tópico a respeito do apoio precisa ser levantado.
Neste ano, desde o primeiro briefing em São Paulo, as informações sobre os trajetos do apoio foram escassas.
No primeiro briefing, ainda em São Paulo, não houve qualquer informação sobre os trajetos possíveis do apoio.
No briefing de Goiânia, destinado aos apoios, também não foi disponibilizada qualquer informação sobre os trajetos possíveis do apoio.
Este briefing serviu ao único propósito de alertar o apoio sobre os riscos que correm e sobre os riscos a que expõem a prova.
Não retiro da Dunas a razão pelo discurso. Muitos apoios ainda comportam-se de forma irresponsável. Por isso, apóio o discurso da organização da prova.
Mas será que o apoio poderia, sozinho, ser responsável pelo ônus que causa às provas.
Acredito que não.
Fatos com o apresentado no item acima e neste item, são fundamentos desta resposta negativa.
Talvez, não teríamos tantos acidentes se tivéssemos mais informações e mais tempo. Com mais informação e mais tempo para analisá-las, talvez o apoio pudesse desenhar logísticas mais inteligentes. Talvez, o apoio pudesse desenhar trajetos e horários menos arriscados para seu apoio pesado. Talvez o apoio pudesse desenhar atribuições mais eficazes aos seus carros de apoio rápido, diminuindo a quantidade de carros de apoio em deslocamentos desnecessários.
É fato que os guias nacionais de estradas não refletem a verdade do seu estado de conservação. Umas estão em melhor estado do que descrito nos guias. E outras estão em pior estado do que descrito nos guias.
É também fato que a circulação desavisada com carros inapropriados por estradas cuja informação não condiz com a realidade pode ser desastrosa. Seja pela demora excessiva em chegar à Cidade de destino, seja pelo risco que se corre.
Assim, talvez, se o apoio tivesse algumas informações a mais daqueles que fizeram o levantamento da prova e circularam pelas estradas locais, pudesse diminuir estes riscos.
É fato que a tarefa não é pouco trabalhosa. Mas, será que, se a organização disponibilizar mais e melhores instrumentos para o apoio, não poderá ser mais rígida com este? Será que, se a Dunas disponibilizar mais e melhores instrumentos para o apoio, não poderá cobrar atitudes mais responsáveis deste?
Acredito que as respostas são todas positivas.
De forma que fica a sugestão de oportunidade de melhoria para o próximo ano que organização e apoios se tornem aliados.
Estes são os fatos que mais me chamaram a atenção no Rally dos Sertões 2007.
Até o próximo!
Este texto foi escrito por: Dea Villela