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Olhar Amador: Rally dos Sertões 2010 – Considerações

Redação Webventure/ Offroad

Acampamentos precisam de mais estrutura (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)
Acampamentos precisam de mais estrutura (foto: Thiago Padovanni/ www.webventure.com.br)

Parabéns à Dunas e sua equipe por mais um Rally de sucesso! A palavra deste ano foi disponibilidade. Disponibilidade para dar atenção a pilotos estreantes, profissionais e amadores.

Disponibilidade para reconhecer e resolver (rápido) adversidades, características de provas Off-Road. Este foi o diferencial da Dunas: estar disponível, enfrentar as adversidades com presteza, humildade e hombridade.

Show!
A inauguração do Rally dos Sertões 2010 foi um show! Pelo segundo ano consecutivo, a Dunas optou por inaugurar o Rally utilizando espectadores como artistas e vice-e-versa. Dunas, pilotos, equipes e visitantes locais fizeram um evento grandioso. Um evento feito por todos nós e para todos nós!

Emocionou quem o fez e emocionou quem o assistiu. Pilotos novatos, pilotos experientes, pilotos profissionais, pilotos amadores, todos estavam boquiabertos com a grandiosidade do evento.

Pilotos estrangeiros e nacionais nunca viram um Rally assim. Pudera! A quantidade de pessoas era enorme. A vibração das arquibancadas lotadas era enorme.

Assim também eram as disputas da pista e o clima de amizade entre pilotos concorrentes. Vale citar um dos comentários que ouvi: “O Dakar é grande, tem muita gente em todos os lugares. Mas não tem um show como este. Isso que estamos vendo aqui, não há em qualquer outro Rally”. A Dunas, hoje, faz o maior e melhor show de inauguração de Rally! Parabéns pelo trabalho espetacular!

Há seis anos me impressiono com o gerenciamento da Dunas, em tempo real, sobre os trechos de Teste Especial (trecho cronometrado da prova). Explico.

Dentro do trecho cronometrado*, a Dunas conta com:
– 2 aviões, com 2 pessoas em cada um;
– 3 helicópteros, sendo: 2 UTIs médicas, com 2 médicos e 1 piloto, em cada um; e 1 para filmagem, com 3 pessoas;
– 29 carros para Equipes Técnicas;
– 1 carro para “piloto coelho” (piloto que segue à frente da prova para checar trajeto e providenciar eventuais ajustes de planilha);
– 1 carro “bomba” (para abastecimento das motos, quando não há postos de gasolina)
– 5 carros para Comissários e Diretoria de Prova;
– 10 carros para Imprensa.

São 4 Equipes Técnicas, compostas por 91 pessoas, entre:
– Diretores Adjuntos;
– Cronometristas;
– Paramédicos;
– Médicos;
– Fiscais.

*em toda a prova, isto é, dentro e fora dos trechos cronometrados, são 55 carros 4×4 e 450 pessoas.

Todas as equipes da prova estão equipadas com sistema de comunicação via satélite (autotrack, um sistema de mensagens instantâneas), permitindo comunicação ininterrupta entre elas.
E como toda essa infra-estrutura funciona?

As Equipes Técnica e Médica, de terra e ar, são distribuídas ao longo do trecho cronometrado e permanecem naquele local por tanto tempo quanto durar a prova – desde o horário previsto de largada da primeira moto até a passagem do último caminhão na prova.

Estas equipes se comunicam durante todo o tempo, reportando as dificuldades encontradas, questionando os Comissários e Diretores Adjuntos (chefe de cada Equipe Médica, chefe de cada Equipe Técnica, etc..), e informando as soluções aos problemas levantados.

Um dos aviões, Pelicano, faz a triangulação das comunicações de rádio, seja disponibilizando área de abrangência de sinal de rádio, seja fazendo as vezes daquele que não consegue se comunicar com o destinatário final desejado.

Assim, se a Equipe A não consegue falar com seu piloto B, que está quebrado, Pelicano intermedia a conversa. Mas não é “apenas” isso o que Pelicano faz. Ele, juntamente com as Equipes Técnicas, faz a diferença entre uma prova Off-Road e uma prova de Rally da Dunas.
Eles, juntos, gerenciam a prova por completo, de forma pública.

A cada tempo determinado, Pelicano chama cada um dos pontos da prova (Equipe Técnica) para saber onde estão as primeiras motos, onde estão as últimas motos e qual piloto já passou por determinado trecho da prova.

Na hipótese de acidente, ele gerencia o caso até completa solução pela Equipe Médica e equipe de apoio do piloto (“Equipe Privada”). São comuns socorros médicos a moradores da região, onde Pelicano gerencia o atendimento pela Equipe Médica do Rally e sua passagem pela prova, monitorando passagem de pilotos e Equipe Médica. Ou ainda caminhões de leite e concreto que precisam chegar a seu destino com pressa e o único trajeto possível é o trecho cronometrado da prova. Gerenciar tudo isso, ao mesmo tempo, é tarefa das mais difíceis!

Quem ouve o canal por onde conversam Pelicano, Falcão e o pessoal de terra sabe que este sistema garante à Dunas e às Equipes Privadas a exata noção do que acontece na prova e onde está seu piloto.

Veja, não se trata de satisfazer a curiosidade mundana de saber se tal piloto está na frente ou atrás ou se fulano ou beltrano agiu de forma correta ou não, mas a curiosidade legítima de saber:
– a prova está no horário?
– como está o andamento da prova? as equipes de apoio (privadas ou da prova) devem se deslocar com mais ou menos velocidade?
– onde está aquele piloto que passou pelos Km 25 e 40, mas não passou pelo Km 55?
– aquele piloto está na prova, isto é, caiu, machucou-se ou sua moto quebrou?
– algum piloto se machucou ou sua moto quebrou?

Tudo isso é possível porque Pelicano, Falcão e Equipe Técnica estão em comunicação ininterrupta e atenta.

Dentre as diversas chamadas de Equipes Privadas, equipes de suporte da prova, pilotos quebrados ou acidentados, Pelicano e Falcão questionam a todos, cobram de todos e gerenciam a vida de 90 pilotos de moto com primor.

Mesmo se seu piloto não tiver qualquer problema, é possível, somente escutando a prova com atenção, deduzir em qual trecho da prova ele está. Assim, estas pessoas não apenas fazem do Rally dos Sertões a prova mais segura do calendário. Elas ajudam as Equipes Privadas a melhor gerenciarem seu pessoal e a melhor atenderem seus pilotos.

Consequentemente, ao ajudar as Equipes Privadas, estas pessoas retiram da organização da prova eventual ônus de resgate, pois se as equipes estão informadas de onde está um piloto que tem sua moto quebrada, elas podem resgatar veículo e piloto, sem que a Dunas tenha que fazê-lo. De igual forma, um piloto que se acidentou sem gravidade por óbvio, é necessário combinar com a organização de prova o instrumento e o tempo de agir desta forma.

Para quem tem legítima curiosidade, é uma tranquilidade saber que há alguém em seu lugar olhando por seus pilotos. Pelicano, Falcão e Equipe Técnica acalmam nossas aflições sendo nossos olhos na prova. Obrigada pelo excepcional trabalho!

Durante estes anos em que o Rally Dakar realiza sua prova na América do Sul, ouvi diversas reclamações de pilotos brasileiros a respeito da desatenção e falta de cordialidade das equipes de secretaria e técnica daquela prova em relação a eles.

Quando se trata da Dunas, a opinião é unânime, no sentido contrário. Todos os pilotos estrangeiros são categóricos ao comentar da disponibilidade, cortesia e bom humor das Equipes de Secretaria e Técnica com relação a todos os pilotos (sejam eles pilotos de ponta, famosos ou não).

Os pilotos nacionais têm o mesmo julgamento. Desde o tempo em que Andréa ainda pertencia ao time, após a entrada da Ane, após a entrada da Miwa e agora com a Sabrina, SEMPRE, sempre a Equipe de Secretaria foi disponível, gentil e bem humorada na relação com pilotos (nacionais ou estrangeiros).

Esta equipe pode passar noites sem dormir, com fome, calor, frio ou sono, mas estão SEMPRE disponíveis, gentis e bem humorados com TODOS os pilotos. Rodrigo Palladino, há muito tempo na equipe da Dunas, é outro que não se cansa no bom atendimento. Mesmo passando dias debaixo do sol a pino, enfrentando a baixíssima umidade, sem descanso, está sempre pronto a bem atender.

Sabrina e Rodrigo, com sorriso no rosto, sempre respondem: “estamos aqui para te ajudar”. Em uma prova de Rally, onde tudo acontece (a única coisa CERTA em um Rally é que o INCERTO ocorrerá), ter uma equipe disponível é garantia de segurança. Quão mais a frente e pronta a equipe estiver dos problemas, mas eficiente é sua solução. É mais rápida e mais eficaz. Foi exatamente assim que a Dunas reagiu às adversidades que se apresentaram durante o Rally:

– quando um fazendeiro que havia autorizado a passagem da prova por suas terras, desistiu da autorização, a Dunas reconstruiu a largada em 30 minutos, a 1 km do ponto originário;
– quando um dos mais experientes membros da Equipe Técnica, Batata, não conseguiu chegar ao local determinado, importando em ausência de pessoal habilitado à segurança da prova; em pouco tempo, a Etapa foi alterada e os pilotos puderam seguir em segurança; etc…

Estes são exemplos de adversidades possíveis de ocorrer em qualquer prova Off-Road. A diferença entre esta prova e as demais é a disponibilidade e eficiência da Dunas em corrigir os problemas que se apresentam – a adversidade não é problema; o problema é não reconhecer a adversidade e gente eficiente para resolvê-la. O fato ter equipe habilitada (treinada, em prática e teoria) à frente do problema possibilitou a Dunas resolver as adversidades com rapidez e eficiência.

Alguns questionariam: será que não poderiam ter feito melhor? Talvez. Mas ao invés de “brigar” com o problema, a Dunas o enfrentou e tentou resolver da forma que entendeu a melhor, no momento. Isso, me basta.

Fazer um Rally de grandes distâncias (no caso do Sertões, média de 500 km por dia) em linha (Rally caracterizado por mudança diária de cidades-dormitório) não é fácil.

Seja no que se refere à prova, seja no que se refere aos deslocamentos que serão feitos pelas Equipes de Apoio Pesado (motor-homes), selecionar estradas em boas condições, em nosso País, é tarefa difícil.

Combinar esta seleção com uma boa prova, então, é trabalho dos mais difíceis. Neste ano, Du Sachs e Marcos fizeram excelente trabalho. Pilotos circularam por estradas seguras, de bom piso e de pouco trânsito pesado (caminhões, carretas, etc..).

Mesmo os trajetos do Acampamento até o Início de Especial eram muito bons. Estas boas escolhas levam tranqüilidade a pilotos e Apoio.

Os trajetos a serem percorridos pelos Apoios Pesados também foram bem escolhidos. As estradas por onde circularam tinham bom piso e pouco trânsito pesado.

Mesmo a sempre terrível estrada que liga Araguaína a Balsas estava melhor (SEMPRE a pior estrada do Rally)!

Obrigada ao Marcos e ao Du por ouvirem nossos pleitos!

Motivo de orgulho para quem participa de provas Off-Road, as planilhas feitas pelo Du Sachs são primorosas pela riqueza de detalhes e pela precisão. Até hoje me lembro de David Casteu impressionado com uma casa de cupim que havia na estrada e estava marcada na planilha! Até então, os pilotos estrangeiros nunca tinham visto planilha tão rica.

Alguns pilotos podem contestar a grande quantidade de marcações (o que não é o caso de David Casteu e Marc Coma). Contudo, me atrevo a dizer que esta reclamação, para mim, não faz sentido lógico. Me explico: é fato que a planilha serve a pilotos muito experientes e pouco experientes, a pilotos rápidos e a pilotos lentos.

Para um piloto rápido, experiente e especialista em Trial, subir uma ladeira com este perfil (trial) é perigoso, mas não é risco de vida. Mas quão perigoso é este trajeto para um piloto experiente que não tem esta especialidade? E para um piloto inexperiente? Qual a diferença que um mesmo trajeto tem para um piloto experiente e para outro piloto não experiente? A diferença está na interpretação que cada um destes pilotos tem a respeito de um mesmo terreno, conforme seu nível de pilotagem.

É função do “course designer” identificar o obstáculo. E cabe ao piloto interpretar sua planilha. A variação de interpretação daquele obstáculo é que fará a diferença. Conforme for o nível de pilotagem, o obstáculo será mais ou menos perigoso.

Assim, o que diferenciará uma planilha da outra é a interpretação que cada piloto faz do trajeto e não a identificação do objeto. Por isso (por servir a todos), entendo que identificação de obstáculos deve ser mantida. Caberá a cada piloto marcar os perigos conforme seu nível de pilotagem e em relação a cada um dos obstáculos identificados.

É importante ressaltar que a prova de Rally se fundamenta nesta diferença: ela é uma contradição entre velocidade de pilotagem e leitura de planilha. Dentro desta lógica, poderia se argumentar se as gradações de perigo devem ser diferentes para pilotos de carro e para pilotos de moto. Confesso que ainda não me convenci de uma ou de outra posição. Me falta conhecimento. Preciso avaliar melhor os argumentos para opinar.

De volta ao assunto da leitura de planilha, dou exemplo da “cratera” por onde os pilotos passaram na 5ª Etapa (Dianópolis Palmas). Objeto de discussão até o último dia de Rally, ouvi a seu respeito as mais diversas opiniões:

– caí na cratera porque não imaginei que fosse tão perigoso (mais especificamente, “o Rally não poderia passar por trecho tão perigoso”);
– caí na cratera porque me perdi antes deste trecho e não vi a marcação;
– caí na cratera porque estava tentando passar um piloto e havia poeira atrapalhando.

É importante lembrar que este obstáculo (veja foto):
– foi identificado na planilha com 3 exclamações (alerta de perigo máximo);
– foi identificado na planilha com a palavra “cratera” (e não como simples “buraco”);
– foi identificado na planilha com tarja preta (outro alerta de perigo); e
– foi objeto de comentário durante o Briefing da noite anterior.

De todos os argumentos ouvidos faz-se um único resumo: a queda foi resultado de má interpretação da planilha, seja por qual motivo for. Assim, mantenho meus parabéns ao Du Sachs pela planilha bem marcada e exata. Contudo, o assunto “planilha” merece mais discussão. Neste ano, em razão de problemas tipográficos, a planilha não tinha tamanho adequado a uma prova de velocidade, com as dificuldades que caracterizam o Rally dos Sertões.

Nomeadamente, neste ano, a planilha teve redução de 10% no tamanho de suas tulipas (largura dos desenhos e não do papel). Percentualmente, alguns dirão que não é muito. Mas, nominalmente, a redução foi de 1,1 cm na largura das tulipas. É muito!

Para se ter ideia, a tulipa descritiva (extrema direita da planilha) foi reduzida de 3,7cm para 3,4 cm! A tulipa identificadora do trajeto (desenho, localizado no meio da planilha), foi reduzida de 3,9cm para 3,5 cm!

Por mais que o piloto marque os perigos com identificação adequada, ele ainda está sujeito à leitura do desenho e sua descrição e também à aferição da quilometragem que está descrita na planilha com aquela que está marcada em seu odômetro.Fazer este trabalho com tulipas de tamanho pequeno em alta velocidade pode causar grandes problemas.

A Dunas se desculpou pelo ocorrido durante todos os dias de prova. Contudo, esta adversidade não teve solução. Os pilotos ficaram sujeitos, durante os 10 dias de prova, a uma planilha inadequada a uma prova de velocidade e com as dificuldades características do Rally dos Sertões. A Dunas expôs os pilotos de moto a risco desnecessário. Me atrevo a dizer que talvez algumas perdas do Rally possam ter fundamento neste defeito – nada obstante, é importante lembrar que a administração da velocidade é responsabilidade do piloto.

Apesar do Briefing informar que este erro fora causado pela mudança tipográfica, nada afasta o teste real quando condições são alteradas – quando mudamos alguma condição, é fato que novas revisões e testes são necessários. Assim, fica a sugestão para as próximas provas de que sejam feitos testes antes da impressão final e que sejam feitas comparações entre o padrão antigo e o novo padrão. Até porque, em caso de melhoria, ratifica-se a escolha pelo novo em detrimento do velho. Ou o contrário, isto é, que se verifique que o velho é mais eficiente do que o novo.

Outra sugestão, é chamar pilotos, equipes, mecânicos, etc.. para ajudar na escolha ou mesmo para tirar dúvidas. Nós também “estamos aqui para te ajudar”. Conte conosco.

De seis anos para cá, temos visto uma mudança radical no Rally nacional. As provas são maiores em distância e mais exigentes. Exigem mais dos pilotos e de suas estruturas. Por este motivo, as Equipes Privadas investiram e, hoje, contam com diversos carros de apoio rápido, inúmeras pessoas em apoio operacional (cozinha, motoristas, mecânicos, etc…), diversos motor-homes e carretas, etc.

Assim, de um lado, a prova exige estrutura adequada das Equipes Privadas e estas, de outro lado, requerem melhor estrutura de acampamento. Contudo, a área operacional do Rally ainda não realizou esta mudança. Há inadequação dos locais destinados a acampamento e despreparo de pessoal para lidar com o assunto. Hoje, os motor-homes tem caixas d´água e esgoto lacradas. Isto é, não se abastece equipe de Rally com caminhões pipa e não se esvazia seu esgoto em estradas ou postos. Abaste-se com mangueiras de fluxo de água constante. E se esvaziam através de linha de esgoto adequada, no próprio acampamento (as equipes têm “encanamento” que ajuda neste trabalho).

Os motor-homes e suas equipes de mecânica requerem energia elétrica constante e estável. Hoje, um Bivouac do Rally do Sertões tem demanda semelhante a de uma pequena cidade:
– são, no mínimo, 100 motor-homes com ar-condicionado ligado ao mesmo tempo;
– são, no mínimo, 100 máquinas de pressão ligadas ao mesmo tempo;
– são, no mínimo, 100 equipes utilizando iluminação ao mesmo tempo;
– são, no mínimo, 100 banheiros utilizando água ao mesmo tempo.

É preciso atenção. Mas não é isso o que acontece. No caso das Equipes Privadas com estrutura avançada (utilização de 2 estruturas: 1 para cidade atual e outra para cidade adiante), há ausência de estrutura. As cidades não sabem que passará um Rally por ali. Não há indicação de onde é permitida a instalação dos motor-homes. Quando há indicação, a Equipe Privada se instala e, no dia seguinte, a equipe operacional a obrigada a mudar.

O discurso da equipe responsável pelos Bivouacs é no sentido de que a estrutura avançada “atrapalha o Rally”. Ao que parece, o grupo que cuida das estruturas de Bivouac esquece que as Equipes Privadas (incluídos, Apoio e Pilotos) adquiriram um serviço, são clientes. Cliente é solução para o prestador de serviço e não seu ônus. É princípio que rege as mais básicas relações de consumo. No caso das Equipes Privadas que chegam às cidades-dormitório em horário razoável (não estou mais falando sobre as estruturas avançadas, nem das estruturas que chegam na noite da prova, mas das Equipes Privadas que chegam à tarde), também há despreparo.

Muitas vezes, o Bivouac fica perto do lixo da cidade, em areões, em currais de vaquejada, em ruas estreitas. Além da inadequação genérica, o local não tem energia e água suficiente à demanda ou seus instrumentos de uso não se prestam a isso (caminhões pipa, cabos de energia inadequados, por exemplo). No caso das Equipes Privadas que chegam à noite, isto é, depois do horário da prova, há descaso dos responsáveis pelo Bivouac. Isto porque, após determinar que as Equipes Privadas (organizadas e obedientes às regras estabelecidas pela equipe da prova) se instalem de tal forma, a equipe operacional verifica que as regras estabelecidas não comportarão o tamanho do Rally. Mas como esta equipe já está atrasada para outras providências, deixam o Bivouac ao acaso, onde tudo passa a acontecer de forma imprevisível.

Resultado: equipes pequenas em cima da calçada de pedestres, equipes grandes fechando ruas, etc. Deve ser acrescido a esta lista o fato de alguns Briefings serem distantes do local de acampamento. Pilotos e Equipes Privadas foram expostos a risco, porque circularam por locais ermos, sem segurança durante o trajeto (fora da prova, é inaceitável esta exposição), e ao risco do tempo destes deslocamentos, porque os locais tinham acesso difícil, seja pelo trânsito intenso, distância, ausência de indicação de ajuda e despreparo local para ajudar.

É importante frisar que estes erros não têm consequências negativas apenas para Equipes Privadas. Este despreparo afeta a imagem do Rally, da Dunas, na medida em que não oferece retorno adequado às cidades-dormitório. Não promovem o evento, o desqualificam. Por que uma cidade iria querer recepcionar o Rally se os Bivouacs estão instalados em locais inadequados à visitação e de difícil acesso? Por que e em que condições uma cidade vai querer visitar o Bivouac de um Rally que lhe rouba energia elétrica e água?

Ao que me parece, o problema do acampamento não está na falta de pessoal ou de estrutura. Mas, sim, no desconhecimento de sua função de prestador de serviço, no desconhecimento das necessidades de pilotos e Equipes Privadas, desconhecimento do que solicitar às cidades e na ausência de follow-up com cada uma delas, pilotos, Equipes Privadas e cidades.

Talvez estudar os números do Rally, possa nos ajudar. Isto é, estudar a quantidade de veículos e suas estruturas internas, conversar com as Equipes Privadas, fazer follow-up com Equipes Privadas e cidades-dormitórios sobre demanda e oferta das necessidades de cada uma delas. Talvez, comunicação seja a solução para nossos problemas. Quem sabe?

Facilita, em muito, o trabalho de Equipes Privadas e pilotos a indicação de prestadores de serviço. Contudo, ao fazê-lo de forma oficial, a Dunas está a avalizar estas empresas como idôneas e competentes. Mais do que isso, ao dar exclusividade de determinados serviços a estas empresas, a Dunas está a se responsabilizar por elas.

Por isso, é preciso ter critério para indicar. No ano passado, um das empresas indicada pela Dunas prestou serviço de má qualidade e agiu de má fé quando foi questionada sobre os problemas de atendimento. Outra empresa só entregou o serviço após meses de muita cobrança. Uma terceira empresa, que também tinha exclusividade de serviço, desfez acordo com equipes que iriam ao Rally, há poucos dias da prova. A empresa devolveu o dinheiro e pediu desculpas.

Mas, no caso de um Rally, isso não basta. Há que se cumprir a obrigação assumida, pois uma equipe não se organiza para o Rally dos Sertões em poucos dias. São, no mínimo, 8 meses de preparação, estudo e testes.

Tudo foi relatado à Dunas. Nada obstante esta falta grave de absoluto descomprometimento com a palavra, a empresa recebeu da Dunas o direito de exclusividade para prestar o mesmo serviço durante o Rally dos Sertões 2010. Neste ano, esta empresa foi ao Rally (isto é, não descumpriu acordo há poucos dias do Rally). Mas deixou de prestar serviço.

Equipes da prova (médica e técnica) e Equipes Privadas ficaram desatendidas, seja pela ausência de qualidade na prestação do serviço, seja pela ausência do próprio serviço em determinadas situações.

É a opinião unânime de quem a contratou ou fez “uso” dos “serviços”. Há legislação específica regendo estas relações comerciais em atrito. Mas não é disso que estamos tratando. Trata-se de obrigatoriedade de uso e de expectativa de idoneidade e profissionalismo que a indicação e o direito de exclusividade geram.

Me explico. Para que o Rally dos Sertões seja um evento de sucesso (como é!), organização de prova, prestadores de serviço e clientes precisam trabalhar bem. Assim, a Dunas, de um lado, oferece boas condições, como planilha segura, socorro médico eficiente, visibilidade de mídia, etc… para as Equipes Privadas.

As Equipes Privadas, de seu lado, com estas boas condições de trabalho, ajudam a Dunas, retirando ônus de resgate, ajudando outras equipes, trazendo mais investimentos, chamando novos clientes, etc. É um círculo virtuoso, através de parceria em todos os níveis.

Quando um prestador de serviço (imposto aos clientes) falha, as Equipes deixam de ter condições para prestar apoio adequado aos pilotos. Quando isso acontece, as Equipes Privadas, ao invés de ajudar a Dunas, trazem-lhe ônus, passando a consumir mais das Equipes Técnica e Médica.

Quando este prestador exclusivo falha, o Apoio Rápido não dorme em condições necessárias para fazer o trajeto do dia seguinte em segurança. Os riscos de acidente aumentam Apoio não pode ser um ônus à prova, deve ser parceiro.

Quando este prestador exclusivo falha, o Apoio Rápido demorará mais para chegar ao seu destino, pois precisará parar no caminho para se alimentar. Este Apoio ficará exposto a falhar em razão de má qualidade alimentar.

Tratando-se de Rally onde o INCERTO é CERTO -, esta falha é ainda mais grave. Quando prestadores exclusivos falham, o circulo virtuoso passa a ser círculo vicioso. As cadeias de falha seguem sem fim.

A preparação de uma equipe para um Rally como o Sertões requer meses de testes, de elaboração de diversos guias de procedimentos e de elaboração de sistemas de back-up. Contudo, por mais que haja sistemas de back-up, não é possível às Equipes Privadas prepararem-se para 10 dias de falha. Não há procedimento, nem orçamento que permita esta previsão.

Por isso, pedimos, encarecidamente, maior controle de qualidade, sistemas de avaliação e concorrência na prestação de serviços obrigatórios. Afinal, monopólio não é favorável a qualquer das partes. Para o prestador não é favorável pois não há valoração adequada de sua qualidade (como se pode avaliar um bom serviço, sem termos de comparação? Como se pode pagar bem um serviço, se não se sabe quanto vale?). Para quem recebe o serviço, não há escolha, não há como exigir mais do prestador, não há como negociar preço, serviço e condições, não há valoração adequada.

É preciso lembrar: a Dunas também é cliente destas empresas, ainda que de forma indireta. E quando há monopólio, a Dunas também perde direitos de negociar melhores condições de serviço, para ela própria. Errar é humano. Reconhecê-lo é nobre. E corrigi-lo é profissional.
Vamos corrigir juntos?

Estas são as minhas considerações sobre o Rally dos Sertões 2010.
Até a próxima!

Este texto foi escrito por: Dea Villela

Last modified: setembro 14, 2010

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Redação Webventure
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