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Olhar Amador: Reunião FIM 2009


Competidor poderá descartar o pior resultado (foto: André Chaco/ www.webventure.com.br)

1) Introdução
Como em todos os anos, antes do início da temporada de Rally, a Federação Internacional de Motociclismo (FIM), através de sua Comissão de Enduro e Rally Cross Country, realizou reunião anual para debater a modalidade, em especial, os Regulamentos aplicáveis em 2009 (ordinário e técnico) e o Campeonato Mundial de 2009.

A reunião ocorreu no dia 31 jan 2009, em Milão, na Itália e contou com a presença:
A) da FIM:

  • Amadeo Michelotti, Presidente da Comissão;
  • Christian Mercier, Secretário da Comissão;
  • Jean-Guillaume Meiller, Comissário Técnico;
  • Gian Franco Ferretti, Comissário Técnico;
  • Marco Marcellino, Comissário Técnico;
  • Heinrich Schmidt, Comissário Técnico;

    B) dos organizadores de provas do Campeonato Mundial de Rally:

  • Abu Dhabi Desert Challenge: John Spiller;
  • Rallye de Tunisie: Stéphane Clair e Chekib Brahmi;
  • Sardegna Rally Race: Antonello Chiara e Bazzu Gian Renzo;
  • Rally dos Sertões: Sabrina Proença;
  • Pharaons Rally: Edouard Boulangere Daniele Cotto;
  • Rally Du Maroc: Stéphane Clair e Ibrahim Farid.

    C) das coligações desportivas locais a que as provas estão ligadas (confederações, federações, ligas, clubes, etc..):

  • U.A.E. Motorcycle Club (Abu Dhabi Desert Challenge);
  • Fédération Tunisien de Motocyclisme (Rallye de Tunisie);
  • Moto Club San Teodoro (Sardegna Rally Race);
  • Egyptian Federation of Motorcycle and Karting (Pharaons Rally); e
  • Fédération Tunisien de Motocyclisme (Rally Du Maroc).

    A reunião deste ano merece particular destaque porque organizadores, pilotos e equipes estavam (ainda) mais unidos em prol do esporte e a FIM (ainda) mais aberta, reconhecendo e procurando entender as dificuldades de todos os envolvidos, comprometendo-se com o esporte, rejeitando o interesse exclusivo ou regional e abstendo-se de questões políticas locais.

    Todos os assuntos concernentes à modalidade foram previamente discutidos com pilotos, equipes e organizadores. Datas de calendário, isenção de normas, criação de novas normas, admissão de novos organizadores, equipamentos de comunicação, sobrevivência e controle, procedimentos de segurança, tudo foi previamente discutido entre entidade regulamentadora, comissários técnicos, pilotos (profissionais e amadores), equipes e organizadores. Nada foi feito sem a ciência de qualquer classe integrante do mundo Rally. E todas as decisões foram tomadas de forma pública (com todos presentes) e através de voto majoritário.

    Nenhum assunto foi debatido ou decidido sem publicidade ou de outra forma que não a democrática. Nenhum assunto foi debatido ou decidido sem a presença de cada classe integrante do mundo Rally. Um exemplo de administração desportiva!

    Outro fato que chama a atenção é que todos aqueles interessados em ajudar a modalidade são bem vindos a opinar e a propor soluções nas Comissões, Reuniões e Assembléias ressalte-se que qualquer interesse exclusivo ou regional é rechaçado veementemente pela FIM, como deve ser. Mesmo com esta abertura, as atas respectivas são públicas e todos têm fácil acesso a elas, através de seu sítio eletrônico e através de solicitação por e-mail.

    Enfim, uma reunião importante para a modalidade porque a entidade regulatória máxima do esporte, a FIM, se põe como parceira de todos os interessados por Rally de motociclismo, abrindo sua casa aqueles que queiram ajudar, e se opõe aqueles com interesses exclusivos ou regionais. Importante também porque provou que nós, no Brasil, estamos no mesmo (e correto) caminho, através de nossas reuniões periódicas entre pilotos, equipes, organizadores e entidades, através da união daqueles que promovem e desenvolvem o esporte.

    Dentre as matérias em pauta, é importante destacar a aplicação e a alteração dos Regulamentos de Rally, nomeadamente:
    i) aplicação harmônica (mesmo entendimento e aplicação de mesma norma a situações iguais ou similares, em todas as provas e para todos os pilotos) dos Regulamentos entre todos os organizadores de prova;
    ii) absoluta rigidez na aplicação das regras atualmente em vigor;
    iii) grande necessidade de maior dedicação de pilotos e equipes em conhecer as regras que regem a modalidade (em especial, o Regulamento Técnico);
    iv) reconhecimento da participação majoritária (90% da prova) de pilotos amadores em provas de Rally e de seu objetivo em completar a prova, bem como a necessidade de aplicação de regras locais a estes pilotos;
    v) reconhecimento da importância desta participação (de pilotos amadores) para o desenvolvimento e continuidade da modalidade (Rally);
    vi) contraposição desta participação (de pilotos amadores) com a necessidade de tratamento técnico rígido e estrito e prioridade de tratamento técnico (largada antecipada, preferência no posicionamento de largada, etc.) aos pilotos integrantes do Campeonato Mundial.

    No que concerne a estes assuntos, chama-se atenção para as decisões tomadas em reunião, conforme segue.

    2) Júri e Comissariado:

    As provas que compõem o Campeonato Mundial de Rally receberão 1 Presidente de Júri e 1 Comissário Técnico todos, técnicos da FIM.

    O Presidente do Júri variará em cada uma das provas, dependendo do prévio conhecimento técnico da prova, de necessidade de adequação do evento às regras da modalidade e da região onde a prova é realizada (prova majoritariamente realizada em deserto, etc…).

    Como Comissário Técnico, foi nomeado o Sr. Gian Franco Ferretti para estar presente em todas as provas, fiscalizando e fazendo aplicar as regras da FIM de forma rígida e harmônica.

    3) Equipamentos de Sobrevivência, Navegação, Comunicação e Controle:
    Para as provas válidas pelo Campeonato Mundial, são itens obrigatórios a todos os pilotos que participam delas:

  • Iritrack;
  • Sentinel;
  • GPS;
  • Road Book;
  • Reservatório de 3 litros de água potável fixo e de fácil acesso;
  • “camel back”; entre outros.

    4) Restrições à participações (penalidades):
    As penalidades impostas pela FIM mantém-se como antes, isto é, para pilotos que competem pelo Campeonato Mundial, mantém-se o mesmo número de forfaits, tempo por perda de cartão, por atraso na largada, pela não-largarda, conduta anti desportiva, entre outros.

    5) Largada:
    Ao contrário do ano passado, neste ano, a largada dos quadriciclos que competem pelo Campeonato Mundial será feita juntamente com as motos, de acordo com a classificação geral obtida no dia anterior.

    A regra que autoriza os 5 primeiros pilotos a escolherem seu posicionamento de largada (item 083 do Regulamento de Rally e Baja da FIM) está sob estudo para ser excluída do regulamento.

    A eventual exclusão desta regra imporá o posicionamento da largada conforme a classificação obtida pelo piloto no dia anterior.

    6) Especificações:
    Conforme já informado, durante o Campeonato Mundial de 2009, a FIM será ainda mais rigorosa na aplicação de suas normas. Dentre as regras que esta entidade chamou atenção, deve se destacar o Regulamento Técnico, nomeadamente, suas Regras Gerais (General Section) e Diagramas das Regras Gerais (numeração e capacetes), e o Regulamento Técnico de “Enduro” (CER) e os Diagramas do Regulamento Técnico de “Enduro” (ambos, aplicáveis a “Rally”), como mostram as imagens ao lado (clicar no número abaixo da imagem para obter visualização):

    7) Controle Sonoro:
    A redução da poluição sonora produzida por motocicletas é motivo de extrema preocupação da FIM. Assim é que foi criado um Comitê específico para este assunto.

    Além do nível de ruído produzido pelas motos ter quotas de diminuição, ano a ano, a medição (do ruído) feita em todas as provas que compõem o Campeonato Mundial está cada vez mais precisa.

    Por estas razões a FIM frisou, enfaticamente, que equipes e fabricantes devem tratar a matéria com máxima importância, inclusive solicitando às confederações locais que façam medições periódicas em suas motocicletas – ressalte-se que o limite máximo sonoro em provas que não fazem parte do Campeonato Mundial é determinado pelas confederações locais.
    Deve-se chamar a atenção para o fato de que a diferença de apenas 2 dB/A no limite sonoro impede o piloto de participar da prova (limite máximo de 96 dB/A, no início da prova, e 96+2 dB/A, ao final de cada especial).

    As confederações nacionais são responsáveis pelo fornecimento de todos os aparelhos necessários a esta fiscalização, bem como pela homologação e calibragem do equipamento, conforme exigência da FIM.

    8) Controle de Escapamento:
    Se houver troca de escapamento, o novo equipamento deve estar localizado no mesmo lado do escapamento original.

    9) Campeonato e Copas:
    Neste ano, haverá 1 FIM Campeonato Mundial de Rally e diversas FIM Copas Mundiais de Rally.

    Isto quer dizer que, ao final do ano, haverá apenas 1 único piloto campeão da FIM Mundial de Rally e diversos pilotos campeões da FIM Copas Mundiais de Rally, conforme segue:

  • 1 campeão da FIM Copa Mundial de Rally Construtor (Fabricante);
  • 1 campeão da FIM Copa Mundial de Rally Superproduction acima de 450cc;
  • 1 campeão da FIM Copa Mundial de Rally Superproduction até 450cc;
  • 1 campeão da FIM Copa Mundial de Rally Production acima de 450cc;
  • 1 campeão da FIM Copa Mundial de Rally Production até 450cc;
  • 1 campeã da FIM Copa Mundial de Rally Mulheres;
  • 1 campeão da FIM Copa Mundial de Rally Quadris.

    É permitido o acúmulo de títulos, tanto de Copas, quanto de Copas e Campeonato.

    Por exemplo: piloto mais pontuado do ano dirige um quadriciclo. Ele acumulará o título de Campeão da FIM Campeonato Mundial de Rally e Campeão da FIM Copa Mundial de Rally Quadris.

    Este é também o caso de uma mulher que conquista a maior quantidade de pontos. Ela acumulará o titulo de Campeã da FIM Campeonato Mundial de Rally e Campeã da FIM Copa Mundial de Rally Mulheres.

    Igual é o caso da mulher que conquista a maior quantidade de pontos na categoria quadri. Ela acumulará título de campeã de duas Copas, FIM Copa Mundial de Rally Mulheres e FIM Copa Mundial de Rally Quadris.

    10) Calendário 2009
    Neste ano, a prova Desert Challenge passa a denominar-se “Abu Dhabi Desert Challenge” e não mais será realizada ao final do Campeonato. Esta prova abrirá a temporada 2009 de Rally Cross Country.

    A prova realizada no Marrocos volta a fazer parte do Campeonato Mundial e será realizada próxima ao Pharaons Rally.

    De forma que o novo Calendário passa a compor-se desta forma:

  • 22 mar a 27 mar Abu Dhabi Desert Challenge
  • 22 abr a 2 mai Rally de Tunisie;
  • 26 mai a 1 jun Sardegna Rally Race;
  • 23 jun a 3 jul Rally dos Sertões;
  • 03 out a 11 out Pharaons Rally;
  • 24 out a 30 out Rally du Maroc;

    11) Descarte:
    A pontuação obtida por cada piloto durante o ano deve se referir ao máximo de 5 provas.

    Considerando que durante o ano de 2009 haverá 6 provas, cada piloto poderá descartar seu pior resultado obtido em 1 prova.

    O descarte não favorece o Brasil, na medida em que grande parte dos pilotos integrantes do Campeonato Mundial reside na Europa. Assim, se houver um descarte, este deverá ocorrer na prova que fica mais distante, isto é, a prova do Brasil.

    Por isso, todo esforço em promover o Brasil neste Campeonato Mundial será pouco e toda a ajuda para fazê-lo é bem vinda.

    Por este motivo, também, o item 15, abaixo, se torna ainda mais importante como instrumento de promoção do Rally Internacional dos Sertões.

    12)eslocamento de Comissariado
    A FIM destacou que o deslocamento do Comissariado da prova deve, preferencialmente, ocorrer ao longo da prova, de forma a possibilitar a verificação do correto andamento da prova ou a aplicação de medidas corretivas.

    13) Informação ao Piloto

    As confederações nacionais e os organizadores de prova devem disponibilizar em seus sítios eletrônicos cópia de todos os regulamentos, atas de reunião, etc., de forma a informar pilotos e equipes das normas e decisões tomadas a respeito da modalidade.

    14) Regulamento Suplementar

    Foi criado um modelo padrão de regulamento particular das provas que compõem o Campeonato Mundial de Rally.

    15) Prova Mundial/ Prova Nacional
    Considerando os fatos narrados no item 1., “IV”, “V” e “VI” acima, a FIM sugeriu aos organizadores a possibilidade de adaptar um evento de Rally às expectativas de pilotos profissionais e amadores.

    Conforme sugestão da FIM, é possível haver 1 único conteúdo em (até) 3 formatos diferentes. Isto é, um mesmo Rally (por exemplo, 1 único Rally Internacional dos Sertões) e 3 provas distintas.

    Um único Rally, com 1 prova válida pelo Campeonato Mundial, 1 prova válida pelo Campeonato Nacional e 1 prova que não é válida para qualquer destes Campeonatos, mas apenas como evento de Rally.

    Através deste formato de evento, pilotos profissionais que disputam o Campeonato Mundial continuam a participar de um evento de alto grau de competitividade, através dos rígidos controles impostos pelos regulamentos da FIM (quantidade de forfaits, controles de tempo, equipamentos de controle de passagem e velocidade, vistorias, etc.).

    De igual forma, estes pilotos têm garantido seu direito à prioridade técnica (por exemplo, a largada).

    De seu lado, pilotos amadores (cujo objetivo não é a disputa, mas o desafio pessoal de apenas completar uma prova de alto nível técnico) têm garantido o direito a completar o trajeto da prova no seu próprio tempo, sem que isso implique em sua exclusão do evento.

    Outro atrativo é permitir que pilotos estrangeiros, que não estejam dispostos a competir pelo Campeonato Mundial e não podem competir pelo Campeonato Nacional (por não serem residentes do país do Campeonato), possam participar de eventos grandiosos como estes.

    Esta é uma fórmula com diversos atrativos, no sentido de que permite à organização do evento manter seu grande objeto marketing, quais sejam, pilotos de ponta de alto nível técnico e também um grande número de inscrições através da maciça participação de pilotos amadores nacionais e estrangeiros.

    Mais importante do que um sistema atrativo, um sistema que não prejudica as demais partes:

  • Não prejudica pilotos profissionais, pois suas prioridades são mantidas intactas e ganham mais dedicação e pessoas mais capacitadas tecnicamente para cuidar de sua prova;
  • Não prejudica pilotos amadores estrangeiros e nacionais, pois agora contam com uma prova internacional cuja regulamentação é adequada a esta categoria (piloto amador);
  • Não prejudica o organizador, que, apesar de ter mais trabalho com a administração de 3 provas, passa a contar com (muito) mais inscrições.

    Todos ganham e ninguém perde

    Neste formato, um evento válido pelo Campeonato Mundial e igualmente válido pelo Campeonato Nacional, por exemplo, será constituído de:
    a) 1 única largada promocional;
    b) 1 único trajeto;
    c) 1 única cronometragem;
    d) 1 única equipe técnica (“coelho”, postos de controle, “limpa trilha”, etc.);
    e) 3 regulamentos distintos (1 da FIM, 1 da CBM e 1 da prova);
    f) 2 comissariados (1 FIM e 1 nacional);
    g) 2 júris (1 FIM e 1 nacional);
    h) 2 vistorias (1 FIM e 1 nacional);
    i) 2 parques fechados (1 FIM e 1 demais motos);
    j) 2 largadas;
    k) equipamentos de segurança (navegação, sobrevivência, comunicação) distintos;
    l) classificações distintas;
    m) sistemas de identificação distintos; entre outros

    Estas são algumas das decisões alcançadas durante a reunião e que podem interessar aqueles que participam de provas de Rally.

    Outros assuntos de interesse da categoria estão em andamento e, tão logo, sejam divulgadas as respectivas decisões, volto a informar.

    Até a próxima!

    Este texto foi escrito por: Dea Villela