Foto: Pixabay

Os cânions do sul do Brasil

Redação Webventure/ Trekking

Aproveitando os feriados de setembro, eu e meu filho de doze anos fomos conhecer os cânions de Aparados da Serra e da Serra Geral, na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

É incrível pensar que um lugar tão espetacular e tão único seja tão pouco conhecido. Eu mesmo só ouvi falar do lugar há poucos meses. São paredões com alturas que variam entre 700 e 1.100 metros, conforme nos informaram os guias da região. Paisagens de tirar o fôlego, que nos dão a exata noção da nossa insignificância. Os principais cânions são: Malacara, Fortaleza, Itaimbezinho, Índios Coroados e Churriado.

Saímos de São Paulo num vôo para Criciúma e, de lá, pegamos um ônibus para a cidade de Praia Grande. Apesar de estar a 100 km de Criciúma, a viagem dura quase três horas em razão das constantes paradas (além disso, o ônibus pega passageiros na estrada durante todo o trajeto).

Fizemos de Praia Grande a nossa base. Hospedamo-nos no Hotel Praia Grande – local simples e barato, como são todos os hotéis e pousadas da cidade – e, de lá, partimos para as trilhas, sempre acompanhados por guia. No primeiro dia fomos conhecer o Malacara por dentro, numa caminhada que, considerando a ida e a volta, durou sete horas – boa parte dela por um leito seco de rio, coberto por pedras de todos os tamanhos, muitas delas soltas, oferecendo algum risco de torções e tombos. O que se vê, contudo, compensa todo o esforço. Poços de água cristalina, ladeados pelos imensos paredões que envolvem a mata e o leito do rio.

Outra visão do cânion Malacara

No segundo dia fomos conhecer o mesmo Malacara, só que desta vez pelo seu topo. Descobrimos, então, que o ideal teria sido alugar um carro em Criciúma, porque é preciso subir a serra por uma estrada de chão mal conservada, por 27 quilômetros. Pagamos um táxi para o trajeto. No caminho, paramos para ver o cânion dos Índios Coroados – uma parada rápida, mas valiosa. Num determinado ponto da estrada, seguindo a orientação do guia, dispensamos o carro e entramos por uma fazenda, iniciando uma caminhada de duas horas e meia até o cânion Malacara. O caminho é por um imenso pasto e, sem a experiência do guia, não saberíamos para que lado ir.

Chegando ao cânion, ficamos estupefatos com aquela grandiosidade. São fendas imensas, verdadeiras esculturas feitas pelo vento e pela erosão ao longo de milhões de anos, ao fundo, a visão da cidade de Praia Grande e, muito mais distante, a cidade de Torres, no litoral do Rio Grande do Sul.

Deslumbramento na Serra Geral

No terceiro dia fomos conhecer o cânion de Fortaleza. Fica bem mais distante, depois da cidade de Cambará do Sul. Foram duas horas pela estrada de chão, novamente de táxi, até chegar ao Parque Nacional da Serra Geral.

A peculiaridade desse cânion é que há cachoeiras em seu seio, visíveis dos locais de observação. Mais paisagens de tirar o fôlego e, com a alma abastecida de tanta beleza, voltamos de carona para Praia Grande, depois de muito caminhar. Ao todo, nos três dias de trilhas, percorremos cerca de 50 quilômetros a pé. Valeu muito a pena, nunca mais esqueceremos a experiência.

Denúncia

Nem tudo, no entanto, são flores. Ficamos entristecidos ao testemunhar a batalha desigual que o IBAMA trava com os moradores e proprietários de terras da região. Há uma quantidade absurda de queimadas e, pior, muitos habitantes de Praia Grande, Cambará do Sul e São Francisco de Paula têm o hábito de caçar nas terras dos parques e também fora delas. Os graxains, capivaras, gatos selvagens, gaviões e muitos outros espécimes da região são vítimas da estupidez humana.

O IBAMA conta com apenas quatro fiscais, que só conseguem agir na base da denúncia. Os guias, todos garotos com 16, 18 anos de idade, tentam, como podem, conscientizar a população da necessidade de preservação, mas está muito difícil acabar com um hábito que já faz parte da cultura local. Quando se manifestam, os guias chegam a ser ameaçados pelos caçadores contumazes, e acabam se calando por temer pela própria segurança.

O turismo também necessita de uma infra-estrutura maior, até mesmo para possibilitar um trabalho mais efetivo de preservação. Espero que as autoridades e as ONGs direcionem a sua atenção para melhorar as condições dos parques e criar meios de coibir a caça e as queimadas, bem como para educar o turista para a preservação daquele lugar único em nosso país.

Este texto foi escrito por: Webventure

Last modified: abril 4, 2001

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Redação Webventure
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