A Oskalunga Kailash (foto: Alexandre Carrijo)
Na madrugada desta quinta-feira (tarde de quarta no Brasil), às 2h19, a equipe brasileira Oskalunga cruzou a linha de chegada do Campeonato Mundial de Corrida de Aventura (ARWC), depois de 185 horas e 733 quilômetros. O quarteto estava feliz por ter completado a prova, mas não satisfeito com o resultado: a 24ª posição ficou aquém da expectativa, que era estar entre os top-10.
Contudo, diante das circunstâncias, não se pode dizer que eles foram mal. Segundo Diogo Malagon, a equipe somou 20 horas perdidas em dois trechos diferentes de prova, o que diminuiu a motivação deles. Estávamos bem no início, brigando entre os dez primeiros, quando demoramos três horas para achar um PC que estava na margem errada do rio. Depois, o problema na roda traseira da bike da Bárbara [Bomfim], logo no início dos 150 quilômetros de MTB, praticamente nos tirou da prova. Foram quase 36 horas em um trecho que era para durar 20. Quase desistimos ali, contou ao Webventure, logo após o final da competição.
Bárbara também destacou o perrengue nesse trecho e disse que se não fosse pelo esforço para estarem no mundial, teriam saído da competição. No quilômetro 20, o cubo da minha roda traseira quebrou, me impedindo de pedalar. Os meninos me empurraram por quase 100 quilômetros de muito sobe-e-desce e tombos. Como eu não pedalava, passei frio e sono. Acho que caí mais de dez vezes.
Mais perrengues. Como a organização prometeu, a prova começava de fato depois do midcamp (leia aqui), com um trecho de 65 quilômetros de trekking em dunas e floresta à beira-mar, mais uma perna de MTB de 150 quilômetros (a mais longa da prova) e 70 de canoagem.
Rafael Melges levou uma barraca Kailash adaptada (para ficar mais leve), que foi usada no acampamento que eles fizeram durante a canoagem, descendo um rio. Não deu para fazer todo o rio em um dia só, como queríamos. Chegamos muito cansados do pedal. Então, dormimos longe da entrada do rio, que ficava a 6 quilômetros da área de transição. Depois ainda perdemos mais um tempo de manhã, não conseguindo entrarmos no rio assim que a dark zone tinha terminado.
No final desse trecho de rio, na quarta-feira de manhã, os atletas tentavam trocar a frustração e os infortúnios por alguma motivação. Eles a acharam nas inúmeras mensagens de apoio postadas em blogs, sites e redes sociais. Assim, eles se convenceram de que tinham de completar a prova a qualquer custo.
A partir daquele ponto, os primeiros colocados haviam levado menos de 12 horas para concluírem os últimos 50 quilômetros de MTB, mais os 21 de trekking de costeira e os 35 de bike no asfalto. A Oskalunga levou 17 horas, pois todos estavam com dores e já sem compromisso com posição.
Eu fiz o trekking de 21 quilômetros com eles e notei a superação que vinham empreendendo. Os quatro atletas fizeram a caminhada mancando, fruto de tendinites e pancadas acumuladas ao longo da semana. Contudo, valentes, enfrentaram pedras pontiagudas, terreno irregular, frio, chuva e muito sobe-e-desce antes de terminarem o trekking.
Caco Fonseca disse que a navegação com prisma (objeto que fica no posto de controle a ser localizado) é muito técnica e exige mais do navegador. No geral, não tivemos muitos problemas de navegação. Mas, alguns PCs ficavam escondidos até embaixo de pedras e, em algumas vezes, a localização deles no race book não era precisa, o que dificultava encontrá-los.
No final da prova, o diretor do evento, Craig Bycroft, aguarda a Oskalunga com pizza e champanhe, na alta madrugada gelada da cidade de Burnie. E mais importante que terem conquistado o 24° lugar, eles completaram o maior desafio de suas carreiras. Eles estavam visivelmente abatidos e cansados, mas felizes por terem completado a prova com percurso integral. A recompensa é essa: a honra de completarem e fazerem felizes seus inúmeros apoiadores!
Este texto foi escrito por: Alexandre Carrijo, especial para o Webventure
Last modified: novembro 9, 2011