Oskalunga é campeã do Ecomotion 2011 (foto: Daniel Costa/ Webventure)
Direto de Porto Seguro (BA) – Superação já é palavra comum nas corridas de aventura, mas a equipe brasiliense Oskalunga acaba de dar um novo sentido para o termo, ao cruzar a linha de chegada em primeiro lugar do Ecomotion 2011, perto das 10h30 desta sexta-feira, em Porto Seguro. O quarteto chegou a ficar em vigésimo oitavo lugar na prova, de 36 times no total, e ao longo dos mais de 520 quilômetros de percurso foram conquistando posições, uma a uma.
De acordo com o capitão da equipe, Frederico Gal, uma estratégia errada no começo prejudicou o início de prova para os kalungas, mas foi justamente esse revés que fez a equipe conseguir o primeiro título da prova na carreira, após sete edições terminando entre as dez primeiras equipes.
Nossa estratégia era seguir a Quasar [Lontra] e não deixá-los distanciarem desde o começo. Já nos 40 quilômetros do primeiro trekking estávamos os quatro no chão, mortos. Foi uma estratégia Kamikaze, completamente errada. Só que com isso ficamos muito atrás, e não tínhamos mais a pressão de ficar na ponta. Com isso não erramos na navegação, e seguimos uma prova limpa, comemora.
Progresso – O caminho até a chegada não foi nada tranquilo. Logo na largada um dos caiaques afundou e a equipe se dividiu, com uma dupla remando enquanto outra fez o trecho de carona em um barco da organização. No trecho seguinte, de trekking, a atleta Barbara Bomfim teve pressão baixa e precisou parar, dormiram por cinco horas. Quando acordei e vi a vigésima oitava equipe passando por nós, foi massacrante. Mas ao longo da prova vimos que ter descansado no começo da prova foi benéfico, pois íamos passando as equipes que estavam muito mal fisicamente, desabafa a atleta.
Após o fim do trekking, na base do Monte Pascoal, começou a reação da Oskalunga. Pensamos em desistir por três vezes, mas não tínhamos nem como voltar para Porto Seguro. Era preciso seguir na prova, e não chegamos nem a comunicar os apoios disso, lembra Barbara. Além disso, a força de continuar veio 100% do apoio. Nos motivaram muito, trabalharam muito para chegarmos até aqui, antes e durante a prova, arrumavam tudo nas nossas bikes. Temos muito o que agradecer, completou, com lágrimas nos olhos, Rafael Melges.
Os trechos de bike foram fundamentais para a recuperação da equipe campeã. Somos bem técnicos no mountain bike e conseguimos fazer os downhills sem usar os freios, o que acabou poupando bastante as bikes. Além disso, temos um mecânico ótimo no nosso apoio, o Chicão, que além de consertar as bikes arruma também o nosso moral, ânimo e talvez até braço quebrado, brincou Frederico Gal, o Lico. Os problemas com as bicicletas foram personagens principais desta edição do Ecomotion, principalmente os freios, devido à lama e trechos de descida.
De acordo com a equipe, foi só a partir da noite de ontem que começaram a perceber a possibilidade da vitória. E depois disso falamos entre nós, agora é vencer ou ir para o hospital, conta Diogo Malagon. Passamos por equipes cansadas, ultrapassamos a Quasar Lontra que estava bem mal, e sabíamos que a Trotamundo estava pouco mais de uma hora na frente, ainda faltando dois trechos longos. Nós estávamos descansados e sabemos que uma hora, para a distância que faltava, não é nada. Fizemos muita força e até o fim da perna de canoagem não paramos de correr, completa Barbara Bomfim.
O esforço foi extremo ao ponto de em algumas transições Lico desabafar que esta era sua última corrida de aventura. Com problemas de agenda e patrocinador, a equipe confirmou a vinda ao Ecomotion apenas três semanas antes da prova. Sempre que passamos por um sofrimento intenso como esse, ficamos abalados a ponto de pensar em parar. Mas em dez anos de contato com esse tipo de corrida, sempre buscamos desafios maiores. Isso entra na cabeça, como um vício. Eu dizia que quando ganhasse o Ecomotion poderia aposentar, mas conseguimos extrair dessa prova a necessidade de ter pessoas boas do nosso lado, que foi o pessoal do apoio, que está de parabéns. E isso me motiva, finaliza Lico, também com olhos vermelhos de emoção.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa