Atendendo a pedido de internauta, a alpinista Helena Artmann, nesta coluna, expõe sua opinião sobre o uso de oxigêncio suplementar em alta montanha.
Um internauta me pediu para falar sobre a não utilização de cilindros de oxigênio em altitudes extremas. É claro que aqui estará tão somente a minha opinião e, portanto, peço que vocês considerem isto. Ele quer saber se subir sem oxigênio tem realmente mais mérito do que subir com oxigênio. A minha resposta é sim. Mas não é apenas questão de mérito. É questão de segurança também.
O famoso alpinista tirolês Reinhold Messner costuma dizer que não se deve abaixar a montanha ao seu nível e, sim, elevar-se ao nível da montanha. Em resumo, o que ele quer dizer é que, quando usamos oxigênio, estamos subindo, na verdade, uma montanha mais baixa do que a altitude real dela. E isso é trazer a montanha para o seu nível. Ele acha que, se você não tem condição de subir a real altitude da montanha, não deve subi-la simplesmente.
Não é questão de ser correto – Pois eu acho que é perigoso. Quando usamos oxigênio suplementar, significa que nós estamos diminuindo a montanha em cerca de dois mil metros em uma medida grosseira. Ou seja, se eu estou subindo o Everest, com 8.848 m. de altitude, e uso oxigênio suplementar, eu estou escalando uma montanha com menos de sete mil metros. Não é questão de ser correto ou não, é questão de ter quantas garrafas forem necessário para a minha sobrevivência naquela altitude. E olha os problemões que elas causam:
Os 8 mil – Só se usa oxigênio em montanhas com mais de oito mil metros. Portanto, em apenas 14 montanhas da Terra. Assim como é um número muito baixo, também deveria ser baixo o número de freqüentadores destas montanhas ou, ao menos, o número de pessoas em condições reais de escalá-las. E estas pessoas, cá entre nós, não precisam de oxigênio suplementar. Você não concorda?
E, para terminar, lembro quando estive no Cho Oyu, sexta montanha mais alta da Terra, em 1997. Fui com uma equipe italiana e tinha, no grupo, alguns dos melhores e mais promissores alpinistas da Europa. Oxigênio? Nem medicinal, para tratamento de emergência no campo base, nós tínhamos! E fiquei sabendo o quanto os escaladores de elite desprezam quem usa aquilo. Esta foi a minha escola e por isso aprendi a aceitar a montanha como ela é eu, quando voltar lá, não levarei oxigênio. Se não conseguir subir? Paciência… Fica para uma próxima vez. Ou uma próxima vida.
Este texto foi escrito por: Helena Artmann