O médico Renato Lotufo (foto: Daniel Costa/ www.webventure.com.br)
Tanto atletas de elite como amadores buscam o melhor preparo físico possível para competições. Uma das técnicas mais usadas é o treinamento em condições adversas, como altitude, que possuem baixas quantidades de oxigênio, levando o corpo humano ao limite.
Câmaras Hiperbáricas e máscaras ou tendas Hipóxicas também são uma formas bastante utilizadas para monitorar o oxigênio do ar no treinamento, mas especialistas brasileiros em medicina do esporte estão provando que o melhor jeito de conseguir um bom preparo aeróbico é a apnéia.
Jorge Ribera é pós graduado em medicina esportiva e ministrou uma palestra na Adventure Fair nesta quinta-feira mostrando duas experiências que realizou com resultados extremamente positivos. A primeira foi com o ultramaratonista Luciano Prado, que tem seis corridas com mais de cem quilômetros no currículo e, ajudado pelo treinamento em apnéia, é o atual recordista de corrida em esteira, com 249quilômetros percorridos em 24 horas.
“Pouco antes da corrida eu me machuquei e se não fosse o treino com apnéia não ia conseguir”, contou Prado. Ele fez 12 sessões de treinamento e conseguiu uma marca de 3min e 40 segundos no final, um aumento de 7% da capacidade aeróbica. O consumo de oxogênio no corpo também aumentou, cerca de 8%. “Para quem chega a raspar os pêlos para aumentar a performance, esse número é bem expressivo”, disse Ribera.
Mais pessoas – Outra experiência do médico foi com 16 pessoas, todos homens, “simplesmente porque eles não menstruam”, brincou Ribera. Foram 19 sessões de apnéia. “Percebemos que a porcentagem de oxigênio no sangue foi menor que no topo do Everest”, explicou. No cume da montanha mais alta do mundo o índice é de 58% de oxigênio, igual a uma pessoa sedentária de 80 anos, na apnéia chegou a 40% em alguns casos.
“Em situações normais, era para o indivíduo estar em coma nessas condições, mas eles saíam da água completamente normais nas últimas sessões de treinamento”, comentou. “Com isso, essas pessoas estão aptas a frequentarem altitudes sem problemas”, concluiu.
O médico do Corinthians Renato Lotufo também acompanhou o trabalho, e desenvolve o treinamento em apnéia no clube. Ele ministrou uma palestra na seqüencia de Jorge Ribera sobre a fisiologia do exercício em aclimatação.
“O treinamento baseia-se em limitar a oferta de oxigênio no corpo artificialmente, simulando altitude, para melhorar a performance. Esse ganho acontece porque o organismo tenta se adaptar às condições, e isso melhora a atividade física”, explicou Lotufo.
Antes a alternativa era ir treinar em maiores altitudes, “Mas existem contra indicações. Acima dos 3 mil metros a pessoa tem dificuldades na visão, atenção e poder cognitivo, além de diminuição da capacidade de treinamento, perda da massa magra e até dores de cabeça”, explicou. Todas essas desvantagens podem ser controladas quando a altitude é simulada.
Equipamentos De invenções trabalhadas como um apartamento aclimatado mesmo ao nível do mar, até simples soluções como uma garrafa onde se respira de volta o ar que expirou, existem vários tipos de equipamentos que simulam altitude e colocam o atleta em condição hipóxica, de falta de oxigênio.
Em clubes de fitebol, por exemplo, são usados filtos de oxigênio, um aparelho que diminui a quantidade do gás no ar ambiente, que o atleta inala enquanto se exercita. A própria apnéia é um dos métodos mais indicados para o aumento da performance. “Acredito que em um futuro próximo, esse treinamento será indispensável em provas de longa distância para melhorar a capacidade física do atleta”, concluiu Lotufo.
Mesmo com os bons resultados, é imprescindível o acompanhamento profissional para esse tipo de treinamento. A falta de oxigênio no corpo sem orientação pode causar desmaios e até morte. Mais informações podem ser encontradas no www.apneasports.com.br, ou direto pelo riberajm@yahoo.com.br.
Mais dois depoimentos complementaram o circuito de palestras sobre treinamento em apnéia. O medalhista paraolímpico Joon Sok Sfo de natação em 2004 e o velejador e montanhista Guilerme Von Schmidt, que usou o treinamento em apnéia para chegar ao cume do Aconcágua
“Não entendia como esse treinamento poderia me ajudar. Estava preocupado com a minha idade, participei da olimpíada com 34 anos. Mas consegui usar as técnicas de apnéia quando mais precisava e foi em Atenas que consegui a melhor marca da minha vida. Hoje consigo nadar 50 metros sem respirar”, contou o nadador.
“Tive contato com o treino em apnéia porque também sou surfista. Percebi que tudo ia melhorando com o treinamento. Cheguei aos 4.300 metros, no campo base do Aconcágua, com 91% de oxigênio no sangue, pouco menos do que no nível do mar”, comentou Von Schmidt. “Em pouco tempo esse tipo de treinamento terá influências em várias áreas do esporte”, concluiu.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa