Palmeirinha antes de ir para o Dakar (foto: Cristina Degani/ www.webventure.com.br)
Cinco anos sonhando participar do Dakar, um ano planejando e apenas quatro dias de competição. Ao receber a notícia que seu carro não teria mais conserto, Paulo Nobre, o Palmeirinha, e Dico Teixeira viram o sonho de completar o Dakar ser adiado mais um ano.
Essa foi a primeira participação da dupla na prova e o piloto afirma que o saldo não foi de todo negativo. De uma certa maneira foi frustrante, porque tínhamos um objetivo que não conseguimos cumprir. Ir para um Dakar de 15 dias e sair no quatro é chato, é frustrante. Mas alguma coisa nós aprendemos, que talvez seja preciso se preparar melhor, principalmente na parte de infra-estrutura, e escolher melhor o carro, afirmou o piloto. Achei que ia chegar lá e encontrar uma coisa diferente do que foi. Daí vi que no Dakar não tem que achar, tem que ir atrás e fazer a coisa com todos os pormenores.
No quarto dia de prova, a segunda especial africana, a dupla caiu com seu Nissan Patrol de cima de uma duna. Uma queda de três metros, que estourou o radiador e toda a frente do carro. Como não sei nada de mecânica, o Dico arrumou sozinho, com um radiador extra que conseguimos do caminhão de apoio da equipe. Rodamos mais de 400 quilômetros assim, disse Palmeirinha.
Frustração – Depois de 13 horas para completar uma etapa de pouco mais de 500 quilômetros, a dupla chegou no acampamento certa que iria descansar e no dia seguinte o carro estaria novo para continuar a disputa. Mas depois chegou um carro destruído de outro piloto, mais competitivo e que recebia mais atenção da equipe. Quando acordamos o carro dele estava pronto para largar e no nosso não tinham nem mexido, lembrou Nobre. Me deram um tapinha nas costas e disseram que ia dar muito trabalho para consertar e mesmo assim não ia ficar bom, poderia quebrar de novo na especial. Ali meu Dakar acabou, lamentou o piloto.
Palmeirinha alugou um Nissan Patrol e os serviços da PromoTech, equipe de apoio italiana que presta serviços para duplas privadas no Dakar. Acho que não é o caso de sair criticando a equipe italiana. Mas sim de valorizar o que temos aqui, as equipes brasileiras, a ProMacchina, disse. Se fossem eles o meu Dakar teria durado mais. Eles fariam uma gambiarra para eu chegar na próxima cidade e arrumar o carro direito. Achei esse tapinha nas costas muito comodismo, mas, antes de sair soltando crítica aos italianos, talvez essa seja a cultura das equipes de lá, avaliou.
Antes disso, o piloto já teve um baque ao fazer a primeira especial com o Patrol. Fui descobrir lá que é um carro de passeio preparado para rali. Ótimo para passear no deserto, mas eu estava lá para competir, lamentou. Demos até o apelido carinhoso de Chalana do Deserto para ele, brincou Palmeirinha. Cheguei a comentar com o Dico que eu me sentia andando no Dakar enquanto todo mundo competia. Outros competidores passavam por nós ignorando a nossa presença, muito mais rápidos.
Para divulgar o time do coração, Palmeirinha fez camisetas do clube com os nomes dos principais competidores do Dakar para distribuí-las. Porém ele só conseguiu entregar para os brasileiros e alguns amigos, como o português Jaime Santos, disse.
Mesmo com poucos dias de participação, o piloro conseguiu colecionar alguns momentos inesquecíveis. Na largada promocional éramos o carro 154, ninguém queria entrevistar mais na rampa. Mas como somos do Brasil, nos deram o microfone para falar um pouco para os portugueses, que gostam muito dos brasileiros. Foi bacana, uma energia boa, lembrou.
Também na primeira especial, quando encontrei amigos que vieram do Brasil e amigos portugueses. Arrepiou quando eu passei e vi a minha galera, a comemoração dos amigos, que estavam fisicamente naquele ponto e de espírito a prova toda. Ver a cara deles quando a gente passou foi muito bom, disse Palmeirinha.
A ficha de que eles estavam finalmente completando um sonho só caiu no terceiro dia. Na largada da primeira especial africana, aquela cena clássica do Dakar, daquele deserto gigantesco de não ver nada em lugar nenhum e um monte de carros no meio do nada esperando para largar. Olhei para o Dico e dissemos que fazer parte daquilo, que a gente sempre via na TV, era um sonho, lembrou.
Dakar 2007 – Assim que voltou para o Brasil o piloto começou o projeto para o Dakar 2007. Um dos aprendizados desse Dakar foi que não adianta querer chegar em cima da hora, disse. Até existe um sonho em correr o Dakar com a porquinha [uma L200 Evolution que a dupla compete no Brasileiro de Cross-country]. Mas ela precisa de melhorias, na suspensão e para agüentar longos trechos de areia, comentou.
As lições de 2006 já estão aprendidas. Na queda da duna eu posso tranqüilamente imputar uma falta de experiência minha. Como vi que ia ter uma subida grande, quis embalar na decida, que era bem mais íngrime que eu imaginava. Foi falta de sorte? Foi sim. Falta de experiência do piloto? Foi sim. Da dupla? Foi. Era a primeira vez que a gente se deparou com essa situação, explicou. Numa próxima vez posso até ter outro problema. Mas aprendi que vale mais a pena passar uma hora atoaldo por parar e olhar do que deixar a prova.
Este texto foi escrito por: Daniel Costa