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Paloma, a supercampeã que tem medo de altura

Aos 18 anos, Paloma Cardoso (Casa de Pedra/BY) já esteve quatro vezes no topo do ranking brasileiro de escalada – a última conquista foi anteontem, no Rio. Com a tranqüilidade de um moleque que sobe no muro do vizinho, ela escalou os mais de 20 metros da via e foi a única a completá-la. Mas, pasmem: Paloma tem medo de altura. “Fico em pânico quando olho para baixo”, confessa. “Mas no muro eu me concentro muito e a vontade de chegar ao fim da via é maior.”

Controle do medo, da ansiedade, do nervoso parece o principal segredo da atleta. Basta ver como ela fala da escalada em montanha, modalidade que garante ainda não dominar. “Eu não vou bem, o medo de altura lá é maior. Mas ainda vou me dedicar bastante à montanha.” O segundo objeto de controle de Paloma chama-se pressão. “As pessoas cobram muito, acham que eu tenho obrigação de ganhar o campeonato e não é assim. Eu também fico nervosa, posso não ir bem”, diz, modesta. Se ela cobra a si mesma? “Sim, mas ninguém precisa ficar sabendo, eu não mostro muito essas coisas… Por exemplo, no Sul-Americano da semana que vem ninguém quer tanto minha a vitória quanto eu mesma.”

Campeã brasileira em 96, 97 e 99 – o título de 98 escapou porque ela se contundiu às vésperas da competição, quando ‘brincava’ de andar de moto com o namorado -, para Paloma competir é uma atividade nata. “Sempre fiz esporte, vôlei, natação, até chegar ao pólo aquático – fui campeã brasileira. Então tive uma infecção no ouvido, parei, e resolvi experimentar a escalada, já que meus irmãos faziam. Adorei”, conta. “Nem escalava direito e já me inscreveram num campeonato. Fiquei entre os últimos e achei o máximo.” Só o pai não aprovou. “Até hoje ele é meio desconfiado, acha um pouco perigoso. Já meus amigos do colégio não só aprovam, como eu trago todos eles para a escalada.”

Medindo forças – Alguns colegas, no entanto, se sentem ameaçados pela escaladora. “Existe um pouco de preconceito. Na academia, se faço uma determinada via, tem homem que pensa: ‘Tenho que fazer também, até a Paloma fez!”. O segredo é muito, muito treino. “Não todos os dias, mas eu escalo bastante. E também faço exercícios complementares, depois que passei a andar na esteira, meu condionamento melhorou muito.”

A paixão por esportes que exigem braços fortes não atrapalha a vaidade, garante a atleta. “A gente não fica descabelada quando vai escalar, isso é uma vantagem. Conheço mulheres que não encaram o muro só por não querer quebrar a unha”, conta, mostrando as unhas curtíssimas. “É uma pena. Muita menina podia estar competindo, mas a vaidade e o medo pesam mais. Também tem essa de não poder viver do esporte”.

Como muitos atletas, Paloma está às vésperas de decidir entre dois caminhos: esporte e profissão. “Vou prestar vestibular neste ano, acho que para educação física mesmo… (risos) Quando eu era criança, queria ser veterinária”, revela. Parece que a decisão já foi tomada: “Não vou abandonar a escalar. Quero conciliar as duas coisas, como todo mundo faz.”

Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira