Cypres: dispositivo de abertura automática (foto: Divulgação)
Depende de quem pilota o paraquedas. Estou no esporte há mais de 15 anos, mais de 1.500 saltos acumulados (o que não é muito para esse tempo todo), dois títulos de campeão brasileiro em formação em queda livre e já presenciei muita coisa no esporte. A maioria, muita alegria, muita adrenalina, amizade e energia boa. Mas nosso esporte é considerado de risco pois, por um certo aspecto, o paraquedismo pode ser analisado como uma “tentativa de suicídio controlada”. Essa foi a declaração de um psiquiatra, meu próprio pai, quando comecei a saltar.
Não deixa de ser uma tese interessante, afinal, lançar-se de um avião em vôo, exige uma certa dose de loucura. Mas, para quem já experimentou o primeiro salto e formou-se um paraquedista, já se habituou a voar a 200 km/h, acionar seu paraquedas na altura prevista e pousá-lo com segurança. Esse é basicamente o procedimento que nos leva ao chão sãos e salvos, saltos após salto.
Paraquedistas que competem representando seus países, buscam a perfeição nos movimentos, seja qual for a modalidade em que atuam e, para isso, chegam a fazer 10 a 16 saltos por dia. É muita coisa, pode acreditar. Esses atletas já acumularam mais de 10 mil saltos e nunca se machucaram. Por quê?
Risco de morte
Como todo esporte, ou atividade, existem regras de segurança. O downhill, por exemplo, que é despencar de bicicleta ladeira abaixo em meio a troncos de árvores, eu consideraria um esporte de altíssimo risco, pois você precisa desviar de obstáculos a uma velocidade alta e corre riscos a cada ligeira curva que faz. No paraquedismo, por outro lado, estes obstáculos não existem e o risco maior está no impacto com o solo.
Caso você não acione o seu paraquedas, certamente vai atingir o solo numa velocidade que espatifará todos os ossos de seu corpo. Morte certa. Há pouco mais de dez anos, as fatalidades deste tipo que aconteciam basicamente por dois motivos: pela falta de atenção ao altímetro, o que fazia com que o paraquedista perdesse a noção de altura e atingisse o solo com o paraquedas fechado (a falha mais absurda que pode acontecer no esporte); outra era a dificuldade – geralmente com alunos recém formados – em acionar o paraquedas, não localizando o punho de acionamento.
Equipamento seguro versus negligência
Com a evolução de acessórios de segurança como o altimetro sonoro (que apita na altura de comando) e de DAAs (Dispositivos de Acionamento Automático), esses tipos de fatalidades, que antes eram “comuns” acontecerem, passaram a ser quase nulas.
Atualmente a fatalidade acontece em nosso esporte por pura negligência do atleta, aliada à alta evolução dos velames, mais velozes e ágeis, que exigem maior destreza e experiência de quem os pilota. O índice de fatalidades relacionadas a pousos mal sucedidos aumentou na faixa de 500 a até 1000% em alguns países nos últimos 10 anos.
Comparando, podemos dizer que os carros também ficaram mais seguros com novos dispositivos que visam manter a integridade física de quem os pilota. Entretanto, eles se tornaram mais velozes, com mais recursos, e os paraquedistas não se educaram em como pilotá-los e acabam se machucando ou até morrendo por pura imprudência.
É nítido isso quando analisamos relatórios de acidentes ao longo de um período de um ano e comparamos com 10 anos atrás. Os paraquedistas recém-formados estão quase extintos dos quadros de fatalidades. Já os mais experientes, na faixa de 300 a 1.000 saltos, são a maioria das vítimas atuais.
Como resolver isso? Consciência, educação e respeito aos limites de cada um. O paraquedismo evoluiu assustadoramente nos últimos 10 anos e continua em franca evolução. O que falta acompanhar esta evolução é a mentalidade do paraquedista que se arrisca em situações que estão fora de seu controle.
Este texto foi escrito por: Webventure
Last modified: janeiro 9, 2009