A montanha símbolo de nossa escalada, o Dedo de Deus, foi conquistada em 1912, após algumas tentativas frustradas, com auxílio de um tronco de árvore por José Teixeira Guimarães, Raul Carneiro e os irmãos Alexandre, Acácio e Américo de Oliveira. O nome da via é Teixeira, em homenagem ao ferreiro que confeccionou os grampos da conquista e participou dela. Sua primeira repetição deu-se em 1931, e a primeira mulher a subir em seu cume foi Luzia Caraciollo em 1933, associada do CEB. Em 1944, a face leste do Dedo de Deus foi conquistada, atualmente a via mais frequentada da montanha. Mas quem ouve essas aventuras, nem sequer pode imaginar como era muito mais difícil atingir o cume naquela época.
Para começar a aventura, ir para Teresópolis fazer o Dedo de Deus só era possível de trem. Saltava-se na estação de Guapimirim fazia uma baldeação para outro trem, agora de cremalheira, com a máquina empurrando atrás. Logo antes da ponte do Garrafão (PNSO), era necessário jogar-se do trem em movimento, (após ter combinado previamente com o maquinista para reduzir a velocidade no ponto determinado) e dá-lhe pirambeira acima caminhando. Se pulasse depois da Ponte, já era quase o Soberbo, e teria que atravessar a ponte, bem perigosa para ser feita a pé. Naquela época, a escalada do Dedo de Deus era programa para dois dias, e hoje em dia é feito em algumas horas.
Rosa Lifchitz foi a primeira mulher que fez o cume a Agulha do Diabo, o “Penhasco Fantasma”, uma conquista de 1941 do CEB (Centro Excursionista Brasileiro), o mais antigo centro excursionista da América do Sul. A montanha recebeu este nome de Günter Buchheister, um dos conquistadores, já que pela região havia muitos nomes de santos batizados nas montanhas do Parque Nacional da Serra dos Órgãos – Teresópolis – Rio de Janeiro, assim como: Dedo de Nossa Senhora, São Pedro, Nariz da Freira, Nariz do Frade, São João, Santo Antônio, Pedra da Cruz…
Sair de mochila nas costas e cordas penduradas na rua era motivo para mil olhares surpresos, intrigados… Quase todos trabalhavam, e só tinham os finais de semana livres, alugavam caminhões para algumas excursões e as estradas eram um atoleiro só.
Hoje em dia tudo é bem mais simples, os equipamentos oferecem tecnologia inteligente, leve e apropriada; mas, para muitos, o fato de uma mulher fazer trilhas sozinha ainda é algo impactante, de certo modo porque o montanhismo ainda é um esporte em crescimento…tive o prazer de dividir algumas montanhas incríveis com a Monique: mãe de dois meninos, guia de montanha no Parnaso e uma das poucas mulheres que conheço aqui no Sudeste que vai sem nenhuma companhia para essas “montanhas de respeito”. Hoje a minha entrevista é com ela…
Quando e como você iniciou no montanhismo?
M: Apesar de muitos pensarem que eu já estou no montanhismo desde a infância, por minha afinidade com a montanha e por sempre me verem em lugares pouco conhecidos, o montanhismo chegou para mim apenas aos 32 anos. Logo após ter vindo morar em Teresópolis e ter pego um panfleto no centro de visitantes do Parnaso falando sobre as trilhas do parque.
Na época me apaixonei pela ideia de ir conhecer a Pedra do Sino. Apesar de nunca ter subido uma montanha, sempre fui muito ligada a natureza. Quando criança passava boa parte das férias e finais de semana em Penedo, que na era ainda pouco conhecido. Andava muito pelas estradas de terra, a pé e a cavalo, vivia nas cachoeiras de lá. A montanha despertou em mim esse retorno aquilo que eu já amava desde criança, mas com um desafio maior.
Em setembro de 2011 tive o prazer de subir a Pedra do Sino pela primeira vez e fiz dela um refúgio. Subia sempre que podia e com dois filhos pequenos não era sempre que eu podia me proporcionar tal prazer.
No Sino comecei a conhecer outras pessoas que conheciam outras montanhas e os convites começaram a surgir, desde então nunca mais deixei de estar no lugar que virou um templo para mim.
Em 2014 um incêndio de grande dimensão atingiu uma boa parte da área do P bem arredores. Eu queria muito poder ajudar no combate, mas fui impedida por não ter formação no curso de brigadista de incêndio florestal.
Em 2015 eu arrisquei a tentativa de me tornar uma brigadista e mesmo com poucas possibilidades de uma mulher ingressar na equipe em maio de 2015 fui contrata como Brigadista do Parnaso pelo período de 6 meses. Quando o período da brigada estava por terminar, o Parnaso junto com a Aguiperj estavam realizando o curso de condutores do parque e eu fui convidada para participar.
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Qual o período mais adequado para os esportes na serra?
M: O período mais adequado para a prática de montanhismo na serra é a considerada Temporada de Montanha que vai de abril a setembro (meses mais secos com pouca probabilidade de chuva). No verão a atividade de montanha se torna muito arriscada devido às descargas elétricas. Já houve muitos casos de acidentes com raios na região. Porém, no verão vale a pena a visita na sede de Guapimirim que oferece trilhas curtas e lindos poços e cachoeiras.
Nas cachoeiras da serra costumam ocorrer o fenômeno da cabeça d’água. Por isso é aconselhável ficar atento à previsão do tempo antes de ir às cachoeiras. A sede de Guapimirim tem monitoramento do tempo e quando este é desfavorável os visitantes são alertados e retirados das cachoeiras.
A parte baixa da sede de Petrópolis também possui um biscoito com belas cachoeiras e poços para serem desfrutados no verão. E a sede de Teresópolis possui trilhas na parede baixa que por serem mais curtas e, em altitudes, mais baixas também valem a pena o passeio fora da temporada de montanha.A Abertura de Temporada de Montanha ocorrerá no dia 19/05/2018 na sede de Teresópolis com diversas atrações.
Quais as trilhas e travessias imperdíveis no Parnaso?
M: O carro chefe do Parnaso é a Travessia Petrópolis x Teresópolis conhecida a nível mundial. Mas, ela não é a única trilha que merece ser conhecida, no próprio setor da Pedra do Sino podem ser acessadas diversas outras montanhas incríveis. Nem todos os atrativos do parque são acessados pelas portarias das três sedes. Alguns estão fora e merecem visita, entre elas a Travessia Cobiçado x Ventania, Uricanal, Caminho do Ouro etc.
Quais outras montanhas nas redondezas você sugere?
M: Além das já citadas, o Escalavrado (mais exigente e técnica) e muitas outras do Parque Estadual dos Três Picos que segue o corredor ecológico formado pelas 3 Unidades de Conservação.
Quais os seus projetos de montanha para 2018?
M: Gostaria muito de poder conhecer montanhas de outro estados, mas o trabalho na temporada é intenso e faço diversas vezes as mesmas trilhas com clientes. Este ano estou montando parceria e possibilidades de realizar novos roteiros para meus clientes.
Ainda falando sobre curiosidades do montanhismo antigo, vale comentar sobre os abrigos do Parnaso, lá nos primórdios….
Alguns Parques foram repetidas vezes, cenário das aventuras dos antigos desbravadores montanhistas: Caparaó com o Pico da Bandeira, que, até a década de 60 foi considerado o pico mais alto do Brasil; Itatiaia com as Prateleiras, e Serra dos Órgãos, dentre os três, o campeão em conquistas.
Os mitos não param na região serrana, conta-se que na Travessia Petrópolis-Teresópolis, o trecho hoje apelidado de Ájax, nada mais é do que uma homenagem a um antigo montanhista que se chamava Ájax Alves Correa, e era guia do CEB, ele adorava fazer esta caminhada, e foi o primeiro a fazer a descida de rapel do Chapadão Açu até o Vale do Soberbo sem bater grampos, utilizando apenas ancoragens naturais.
Tudo isso lá pelos idos de 50, numa época em que a Travessia era bem mais difícil, o capim-de-anta era bem mais alto e o trecho menos demarcado.
Poço das Esmeraldas, Paredão Rói-Rói, (uma variante obrigatória para fazer o Nariz do Frade), Gruta Bendix, ACA (Acampamento Campo das Antas), Pedra do Sino, enfim, uma infinidade de opções.
As referências “abrigos 1, 2, 3 e 4” da caminhada da Pedra do Sino, ponto culminante do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, atualmente nada mais são do que “paradas” de descanso, ou para camping, mas guardam muitas lembranças.
Era necessário pedir autorização para subir antecipadamente, e houve época do Parque oferecer até mulas para carregar o material dos montanhistas para os abrigos. Imagine ser possível ver jaguatirica, anta, porco-do-mato e outros animais com facilidade?
A qualidade dos abrigos no caminho da Pedra do Sino era algo fora de série, eles eram quatro, e programas de recuperação dos mesmos, foram feitos por diversos clubes do Rio de Janeiro mais de uma vez.
Depois do “elevador” e da caverna tinha o Abrigo 1, colado à uma pedra, lá estava uma casa com telhado de folhas de zinco, madeira na frente e um guarda, na caverna havia até uma cozinha.
A caminhada da barragem até o Abrigo 2 era toda com pedras e muito bonita, tinha canaletas do lado, no caminho ainda existe a Toca do Caçador, uma gruta, um dia ela se moveu e foi desativada, fica cerca de 10 minutos antes da Cachoeira Véu de Noiva.
Os abrigos iam diminuindo de tamanho conforme a trilha subia, até por causa da dificuldade de levar o material lá para cima… Não se pagava para dormir.