Incrições rupestres em Serranópolis (foto: Jurandir Lima/ www.trilhasetrilhas.tur.br)
Considerado o santuário ecológico do cerrado brasileiro, o Parque Nacional das Emas surpreende e encanta ambientalistas, fotógrafos, cinegrafistas, visitantes e, sobretudo, os pesquisadores pela sua rica diversidade de espécies tanto de animais quanto vegetais. Caminhar por este Parque é como se estivesse, literalmente, dentro de um zoológico a céu aberto.
Criado em janeiro de 1961 com o objetivo de preservar um dos ecossistemas mais frágeis do Brasil e também proteger a ema, maior ave brasileira que chega a alcançar 1,5 metros de altura, é a única Unidade de Conservação que apresenta todos os tipos de cerrados existentes no país. Por isso, em dezembro de 2001, foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade, pela UNESCO.
Está situado no sudoeste goiano, entre os municípios de Mineiros e Chapadão do Céu, fazendo divisa com os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde também abrange parte do município de Costa Rica, nas terras altas das nascentes do Rio Araguaia, com área de 132 mil hectares. Limita-se ao norte pelo Rio Jacuba e ao sul pelo Rio Formoso um recanto de grande exuberância e, ao mesmo tempo, tão frágil.
História – No Planalto Central, há cerca de 10 mil anos, os povos caçadores e coletores deixaram suas marcas, na forma de pinturas rupestres e através dos artefatos de pedra e cerâmica, nas grutas que habitavam para se protegerem do ambiente frio e árido.
Mais recentemente, o clima, semelhante ao atual, fez com que a ocupação humana se espalhasse pelos vales férteis dos chapadões e a região foi habitada, durante séculos, pelos índios Caiapós e Bororós que viviam da agricultura de subsistência.
A partir da década de 70, com a expansão pecuária e agrícola, o Cerrado sofreu mudanças significativas passando a ter outra característica, sobretudo, com a implantação de Brasília, que transformou o Centro-Oeste brasileiro em um pólo migratório resultando em grandes impactos ao ambiente natural.
Preocupado com a situação, um fazendeiro da região, sensibilizado pela caça indiscriminada, levou a idéia a um senador de Goiás para que fosse criado o parque nacional e, assim, proteger a ema, que corria grande risco de extinção.
A paisagem do Parque Nacional das Emas é semelhante a uma savana africana, de formação arenítica, a área deste Parque apresenta uma topografia bastante nivelada, em altitude média de 900 metros, sendo pontilhada por árvores retorcidas e de cascas grossas adaptadas ao solo e ao clima do Cerrado cobertas por vastas extensões de capim flecha em campo aberto.
Nas partes mais baixas estão os vales que formam os campos úmidos, onde também se desenvolvem as veredas. Faz parte do divisor de águas entre três importantes bacias hidrográficas: a Amazônica, a Platina e a do Pantanal.
O principal curso dágua, o Rio Formoso, possui águas azuladas e, de tão límpidas, permitem a visualização de pedras e do bosque subaquático, resultado da boa penetração dos raios solares na superfície. Em alguns lugares sua profundidade chega a atingir 4 metros.
Vegetação – O cerrado, segundo maior bioma brasileiro, ocupa também o segundo lugar em termos de destruição de habitat. São poucas as unidades de conservação neste ambiente e o Parque Nacional das Emas é uma das mais significativas, constituindo-se num mosaico de fitofisionomias campestres, savânicas e florestais. Aqui se encontram os cerrados, os cerradões, os campos sujos, os campos limpos, os campos úmidos, os campos rupestres, as matas de galerias e as veredas com grande presença de buritis nas cabeceiras dos rios e córregos.
Os campos gramináceos, que chegam a atingir três metros de altura, ocupam 60% da área do parque. Nos trechos de cerrado típico, as árvores maiores podem apresentar de quatro a cinco metros de altura.
Outro destaque são as flores de pequeno porte que se desenvolvem nos aceiros, principalmente no início da estação chuvosa.
Os aceiros são faixas em que a vegetação é queimada para manter uma barreira natural contra a propagação do fogo, na estação seca. No Cerrado, os vegetais rebrotam facilmente com as poucas chuvas que caem, tornando a paisagem bastante agradável para ser apreciada.
Neste parque, os números de espécies encontradas são estonteantes e compreende um dos últimos refúgios ecológicos onde é comum o trânsito livre de animais silvestres. Ao percorrê-lo, facilmente podem ser avistados bandos de porcos-do-mato, capivaras, veados-campeiros, além das emas que correm soltas de um lado para o outro.
Também encontram-se animais que andam em menor quantidade, como tamanduás-bandeira, raposas, cachorros-do-mato, antas, tatus, jaguatiricas e até sucuris. Podem ser vistas algumas espécies que se encontram em fase de extinção, como lobo-guará, cachorro-do-mato-vinagre, tamanduá-mirim e o curioso tatu-canastra.
Entre as aves, há araras, corujas, curicacas, gaviões, gralhas-do-campo, maitacas, periquitos, papagaios, pássaros-pretos, pica-paus, seriemas, tucanos, urubus-de-cabeça-vermelha. Enfim, aqui habitam cerca de 400 espécies de aves, incluído 19 endêmicas e 14 ameaçadas de extinção.
O parque abriga ainda duas espécies endêmicas raras, como o bacurau-de-rabo-branco (Eleothreptus candicans) e o caboclinho-de-papo-branco (Sporophila palustris), vistas recentemente e suas ocorrências no Brasil limitam-se ao Parque Nacional das Emas.
Ameaças – Entretanto, toda esta riqueza biológica está seriamente ameaçada pela extensa fronteira agrícola no entorno da sua área, configurando-a com uma ilha isolada. A cada dia que passa as imensas plantações de soja, milho e algodão vão tomando conta da região. Um exemplo ocorre com as emas que, por não saber os limites do parque, invadem as fazendas vizinhas e comem os grãos e pragas contaminadas pelos agrotóxicos utilizados nas plantações.
Preservação
Para reverter este quadro, o atual chefe do Parque, Rogério Souza, tem apoiado e incentivado todos os projetos de pesquisa que envolve esta Unidade de Conservação. Com isso, visa assegurar que o Parque contribua como centro de reprodução e dispersão de animais silvestres; abrigar o habitat de grandes mamíferos, em especial a onça-parda (Puma concolor) e a onça-pintada (Panthera onca); a manutenção de populações das espécies raras; além de servir como fonte de repovoamento da região. Também será importante preservar as nascentes dos rios Araguaia, Formoso e Jacuba, que estão fora dos limites do Parque.
Uma das pesquisas está sendo desenvolvida pelo veterinário Sady Valdes, doutorando pelo CENA (Centro de Energia Nuclear na Agrícola – USP de Piracicaba) e seu orientador, Valdemar Tornisielo, que a cada dois meses percorrem as estradas do Parque, à noite, capturando animais para estudos de contaminação por agrotóxico em fauna silvestre. Considerando que as aves são ótimos indicadores devido a sua maior sensibilidade em comparação a outras classes animais, o bacurau-do-rabo-branco, que pertence à família Caprimulgidae – de hábitos noturnos – foi o escolhido para o estudo. Esta espécie é insetívora, por isso altamente ameaçada pelo consumo de presas contaminadas vindas das plantações do entorno.
O Clima – Caracteriza-se por acentuada estação seca, de maio a setembro, com escassez de água no inverno e ocorrência ocasional de geadas. As estações de primavera e verão são muito quentes com temperaturas variando entre 22 a 35ºC. No início das chuvas é comum a ocorrência de raios que, muitas vezes, são causadores de incêndios na região. A pluviosidade varia de 1500 a 1750 mm anuais.
As Atrações – Existem algumas trilhas para que o visitante possa melhor apreciar as suas riquezas florísticas e faunísticas. Dependendo da época do ano, uma ou outra trilha poderá estar ou não disponível.
1. Antes de organizar sua visita, é necessário contatar previamente a administração do Parque;
2. É necessário ter a companhia de condutor de visitantes cadastrado pelo Ibama;
3. É recomendável usar perneiras de couro para evitar picadas de
cobras;
4. Não jogar pontas de cigarros no chão ou no capim, sob o risco de causar incêndios;
5. Não jogar lixo de espécie alguma no interior do parque;
6. Não apanhar flores, frutos ou plantas;
7. Não incomodar os animais (eles são a maior beleza deste parque);
8. Não dirigir com velocidade acima de 30 km/h;
9. Manter-se nas trilhas e estradas de acesso;
10. Seguir as instruções dos condutores de visitantes do parque;
11. Deixar o parque conforme o encontrou, para que seus descendentes tenham o privilégio de conhecê-lo e contemplá-lo como você o viu.
Como Chegar – Distante 510 km de Goiânia, seu acesso é feito pela BR-060 até Jataí e depois pela BR-364 até a cidade de Mineiros (GO). A partir daí, são mais 90 km pela GO-341 até a entrada do Parque. Pode-se acessar também, por estradas de terra, a partir de Chapadão do Céu.
Este texto foi escrito por: Jurandir Lima