Refrescando-se na trilha para o Pico Agulhas Negras. (foto: Jurandir Lima)
por Jurandir Lima
O primeiro Parque Nacional brasileiro, o Itatiaia, nasceu numa região montanhosa abrangendo um dos pontos culminantes da Serra da Mantiqueira onde está situado o Pico das Agulhas Negras – o quinto mais alto do país na fronteira entre os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. A região sempre foi alvo de pesquisas e recebeu a visita de diversos naturalistas brasileiros e estrangeiros, entre eles Auguste de Saint-Hillaire, em 1822. Atualmente o Parque é bastante procurado pelos praticantes do montanhismo e amantes da natureza, em geral.
História – Conta-se que no início do século XX o governo implantou um núcleo de colonos com o objetivo de cultivar as terras da região que antes pertencia a Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, mas, devido às dificuldades da época, o projeto não prosperou. No entanto, em 1927, a falta de êxito deste projeto acabou transformando as terras desocupadas numa Estação Biológica subordinada ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Em junho de 1937, o então Presidente Getúlio Vargas assinou um Decreto Federal definindo-o como Parque Nacional possuindo uma área de 12 mil hectares. Em 1982 sua área foi ampliada para a dimensão atual, com 30 mil hectares.
Paisagem – A área do Parque é dividida em dois ambientes distintos. Uma é a Mata Atlântica, com muitas árvores centenárias, ocupando a parte baixa. A outra é o relevo montanhoso, com penhascos e encostas, na parte mais alta. As altitudes variam entre 700 e 2.787 metros, caracterizando-se como um relevo bastante acidentado. Possui as nascentes mais altas do país propiciando a formação de várias cachoeiras e piscinas naturais. O lugar é ideal para a prática de longas caminhadas em meio à natureza de uma beleza singular.
O Parque Nacional é composto por vários andares de vegetação remanescente de ecossistemas primitivos. Sua flora é característica e peculiar, particularmente no planalto do Itatiaia, possuindo número expressivo de espécies endêmicas. Existem 163 casos, entre os quais 94 vivem na parte mais elevada do maciço. Os estudiosos distinguem três grandes formações vegetativas na região:
Formação da região sul – altitudes de 600 a 1.800 metros predominância da Mata Atlântica nas encostas. Destaque para a quaresmeira, o fedegoso, o jacaré, a imbaúba, o jequitibá, o cedro, e o jacarandá-caviúna;
Campos de altitude a partir de 1.600 metros – se desenvolvem nas zonas mais acidentadas do planalto; surgem quando as condições ambientais não permitem a evolução das formas arbóreas e cedem lugar aos arbustos e, finalmente, às plantas herbáceas e briófitas como os musgos. A vegetação é campestre e habita os bambuzinhos, a cabeça-de-negro, as bromélias e orquídeas;
Formação da região norte – altitudes variando de 1.500 a 2 mil metros – nas encostas e nos vales dos rios Capivari, Aiuruoca, Grande e Preto. Esta região se distingue da que aparece na parte Sul pela presença das araucárias e pinheiro-bravos. São freqüentes ainda epífitas, líquenes, samambaias, musgos e cactos.
A Fauna – A fauna do Parque é muito especial – de aspecto endêmico – como ocorre também com os vegetais. O grupo mais representativo é dos insetos. Estima-se que haja 5 mil espécies na área do Itatiaia (cerca de 90 delas são exclusivas da região alta do Parque).
A parte baixa é mais rica em mamíferos, uma vez que a mata propicia mais abrigos para animais como: caxinguelês, pacas, macacos, preguiças e quatis. A diversidade de aves também impressiona. Os beija-flores chamam a atenção do visitante pela variedade e quantidade: colibris, beija-flores-preto-e-branco, beija-flores-de-fronde-roxa. Além destes, pode-se encontrar tucanos, jacus, pombas-amargosas, gaviões e maritacas.
Apesar das agressões sofridas pelo ambiente, há espécies que se refugiaram no interior do Parque, principalmente nos Campos de Altitude: entre elas o tatu-canastra o tamanduá-bandeira e o gavião-real.
A fauna dos anfíbios é rica e interessante. São conhecidas no Parque 64 espécies de sapos, rãs e pererecas (anuros), 24 delas distribuídas nos vales, charcos e na vegetação do planalto. Entre os vários tipos, destaca-se: o sapo flamenguinho – Melanophryniscus moreirae com dorso preto e barriga vermelha.
Clima – Na região do planalto o inverno é rigoroso e a temperatura pode descer até 15 graus negativos, congelando riachos e pequenos lagos; ocasionando nevascas como a registrada no ano de 1985. Nesse ano, houve uma corrida de visitantes ao Itatiaia, que não queriam perder um fenômeno tão raro na região Sudeste.
O mês de janeiro é considerado o mais quente, com uma temperatura média de 13 graus, e julho é o mais frio, com média de 8 graus – nas regiões altas, registra-se com freqüência temperaturas abaixo de zero. A época mais chuvosa ocorre no mês de janeiro e há chuvas intensas de outubro a abril.
Centro de Visitantes Compreende o museu e está localizado na parte baixa do Parque. Possui um grande acervo de valor científico com amostras da fauna, flora e da geologia – em sua grande maioria, típicas da região. O museu também abriga uma biblioteca técnico-científica.
Cachoeira Poranga Em tupi, poranga significa beleza. Isso já traduz o que o visitante irá encontrar no local. A cachoeira tem 10 metros de altura e uma piscina natural com cerca de 30 metros de diâmetro. Ideal para banho.
Lago Azul – Lago natural do rio Campo Belo – este local é o mais seguro para um banho de rio. Além disso, encontrará churrasqueiras que podem ser usadas, mediante reserva antecipada na administração do Parque. Ótima escolha.
Piscina Natural do Maromba Localizada a 1.100 metros de altitude. Nesse local, o rio se acalma para formar uma piscina natural. Se você for experiente, pode arriscar um banho em águas geladas. Com certeza irá ganhar vigor extra para continuar a caminhada.
Cachoeira Véu de Noiva – No final de uma rústica trilha de 400 metros, você vai avistar o córrego Maromba caindo repentinamente para formar essa inesquecível cachoeira com 40 metros de altura – um dos cartões-postais do Parque.
Três Picos – Localizado no final de uma trilha de 6 quilômetros por dentro da Mata Atlântica, a 1.662 metros de altitude, os Três Picos oferecem uma visão do vale do Paraíba e os contrafortes da Serra da Mantiqueira. O percurso torna-se compensador com um banho na cachoeira do rio Bonito.
Mirante do Último Adeus Localizado a 2 quilômetros da entrada do Parque e a 780 metros de altitude, em estrada asfaltada. Desse mirante pode-se observar uma paisagem belíssima das matas em volta e o rio Campo Belo. É este rio que abastece o município de Itatiaia com suas águas cristalinas.
Pico das Agulhas Negras – É o local mais elevado do Parque, com 2.787 metros de altitude – o pico culminante do estado do Rio de Janeiro. A estrada de acesso ao Planalto leva a uma altitude de 2.400 metros. A partir do Abrigo Rebouças caminha-se cerca de 2 horas e meia até atingir o topo, mesclando trechos planos e subidas com escalada. Em alguns pontos da trilha torna-se necessário o uso de cordas de segurança.
Maciço das Prateleiras Formado por imensos blocos de rochas, está a 2.548 metros de altitude. Oferece uma bela paisagem do Vale do Paraíba, que muitas vezes fica escondido sob as nuvens. A partir do Abrigo Rebouças caminha-se cerca de 1 hora e meia até atingir a base. É recomendável o acompanhamento de um guia, principalmente se o objetivo for atingir o topo. Caso queira assinar o livro, torna-se necessário uma corda para auxiliar na passagem de uma fenda profunda entre as pedras o famoso pulo do gato.
Recomendações aos visitantes
Como chegar
Saindo de São Paulo ou do Rio de Janeiro, pegar a via Dutra até Itatiaia. Seguir mais 5 km até a entrada do Parque, por asfalto. O acesso para as Prateleiras ou Agulhas Negras será feito por Engenheiro Passos, seguindo-se 48 km pela BR-354 em direção a Itamonte e depois mais 17 km por estradas de terra.
Este texto foi escrito por: Jurandir Lima (arquivo)
Last modified: fevereiro 5, 2004