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Parque Nacional Grande Sertão Veredas


Carros de boi são uma constante no caminho. (foto: Jurandir Lima)

por Jurandir Lima

“O Sertão é sem fim; o Sertão está em toda parte; o Sertão tá dentro da gente”. Esta expressão define com precisão poética o cenário tão bem descrito por Guimarães Rosa em sua mais instigante criação, o romance “Grande Sertão: Veredas”, eleito pelo jornal inglês “The Guardian” como uma das maiores obras literárias da humanidade, de todos os tempos.

O livro foi baseado numa viagem que o escritor fez pelo Cerrado mineiro, em 1952, acompanhando uma boiada, tocando 600 cabeças de gado. Guimarães Rosa, juntamente com oito vaqueiros, percorreu 240 quilômetros no lombo de uma mula, durante 10 dias. Anotava tudo que via e ouvia numa caderneta que levava pendurada no pescoço; a partir daí teve a inspiração para escrever a grande obra.

A idéia de homenagear o escritor e ao mesmo tempo proteger o ecossistema, formado por veredas e chapadões do cerrado, foram as premissas para a criação deste Parque que está localizado no norte de Minas Gerais, já na divisa com a Bahia. Se o Parque não tivesse sido decretado, em abril de 1989, certamente sua área de 84 mil hectares estaria ocupada por extensas e monótonas plantações de soja.

Paisagem – Percorrer o Grande Sertão Veredas é viajar na história, na cultura e na literatura. É mergulhar num lugar selvagem e encontrar os personagens vivos de Guimarães Rosa. É conhecer um vocabulário simples e peculiar. É compreender a sabedoria nata e a cordialidade dos seus moradores. É um outro mundo. O sertão nessa região não é tão cruel, mas sim belo e gigantesco. É um lugar onde não existem jornais, revistas nem televisão. Toma-se banho em rios e as casas são de barro. Não há luxo, nem conforto. O que se vê de sobra é esperança e perseverança do povo com mãos calejadas e vida cheia de histórias e luta.

Por aqui não existem cachoeiras caudalosas, nem cânions gigantescos, nem picos panorâmicos. O cenário é repleto de veredas, que surgem no meio do imenso Cerrado seco como um oásis de vida, recheada de palmeiras, flores e frutas. Tudo parece ter sido tirado das páginas do livro que batizou este Parque Nacional. Aqui, a aventura é muito mais sutil, muito mais poética, muito mais contemplativa. É uma expedição aventureira pelo desconhecido e encantadora.

Apesar de estar situado em área do Cerrado, o Parque sofre influência de outros ecossistemas vizinhos, a Caatinga e a Mata Atlântica. A vegetação é constituída por várias fisionomias do Cerrado, apresentando árvores de pequeno porte em quase toda sua extensão.

Possui uma composição florística bem própria, ocorrente em solos arenosos, com superfícies cobertas de folhas secas e totalmente desprovidas de espécies herbáceas. As mais comuns são: a Aroeira, o Pequi, o Araticum, a Gomeira e o Jatobá-do-campo. Nas áreas mais úmidas desenvolvem-se as matas ciliares, circundadas pelos buritis e as palmeiras buritiramas. As gramíneas completam esta vegetação formada pelas veredas.

Fauna – Outra grande riqueza deste Parque é a quantidade de espécies animais ameaçadas de extinção, como se fosse um grande zoológico a céu aberto. Pode-se facilmente observar o Lobo-guará, o Tamanduá-bandeira, o Tatu-bola, o Veado-campeiro, a Suçuarana, a Ema, a Seriema e a Arara-vermelha. Já nas veredas há a ocorrência de espécies como: o Cervo-do-pantanal e a Arara-canindé, que faz seus ninhos nos troncos dos buritis.

Clima – O clima tropical da região é típico do Brasil central, com estação seca bem definida. A temperatura média anual é de 21 graus, sendo o período mais seco de setembro a novembro e a estação mais chuvosa de dezembro a fevereiro. A precipitação média varia entre 1.250 e 1.500 milímetros anuais.

As veredas – Denotando um oásis, as veredas acumulam água que se transformam em riachos. Nas veredas se desenvolvem os buritis, a mais brasileira das palmeiras, que, além de proteger as nascentes, servem como local de pouso e ninhais das várias espécies de aves, como araras, tucanos, papagaios e periquitos.

Rio Preto Um dos principais rios que nasce no Parque e vai desaguar no Carinhanha. O rio Carinhanha é um divisor natural entre os estados da Bahia e Minas Gerais, nos limites do Parque.

Serra das Araras Um serra de formação arenítica com escarpas abruptas de várias colorações. É o local de pouso das Araras-vermelhas que formam os ninhos em seus paredões. Do topo, tem-se uma bela visão panorâmica da vegetação de buritis formando as veredas ao seu redor.

As trilhas da região – As extensas trilhas de sertões imensos vão cruzando vilas e povoados que nem constam nos mapas. É um belo local para os amantes do off-road, conscientes, é claro.

Recomendações aos visitantes: percorrer as trilhas da região será um passeio inesquecível, porém é importante estar atento às seguintes recomendações.

  • O Parque não está aberto à visitação pública, portanto qualquer passeio somente é permitido com acompanhamento de um funcionário do IBAMA;
  • O cenário é, na maior parte, selvagem sendo comum andar horas sem avistar uma única alma viva;
  • As boiadas e os carros-de-boi são constantes nos caminhos. As estradas apresentam muitas erosões, trechos de areão, terra batida e mata fechada;
  • A maior parte das trilhas somente é possível percorrer com um veículo de tração nas quatro rodas;
  • Para conhecer bem a região, é necessário ter muita determinação e contratar um guia local;
  • Não deixar de ler o “Grande Sertão: Veredas” para compreender melhor a cultura e a história da região;
  • Não esquecer de aproveitar a sabedoria do homem local o sertanejo;
  • Não transitar em alta velocidade no interior do Parque, sob o risco de atropelar animais;
  • Não levar animais domésticos para não transmitir doenças à fauna silvestre do Parque;
  • Não fazer fogueiras sob o risco de causar incêndios na vegetação de Cerrado;
  • Não apanhar flores, frutos ou plantas. Elas compõem a beleza natural do lugar;
  • Lembre-se: o Parque destina-se à preservação total do seu ambiente, portanto é importante recolher e trazer todo o seu lixo de volta.

    Como chegar
    O acesso ao Parque não é dos melhores. Partindo de Belo Horizonte, pegar a BR-135 até Montes Claros e depois seguir pela MG-202 até São Francisco. A partir daí, seguir por 130 km de terra até a cidade da Chapada Gaúcha, portão de entrada do Parque.

    Este texto foi escrito por: Jurandir Lima (arquivo)