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Parte I – Ataques terroristas e ônibus pirata

Redação Webventure/ Expedições, Outros

Sposito em Joshua Tree National Park (foto: Divulgação)
Sposito em Joshua Tree National Park (foto: Divulgação)

“Acorda! O piloto acabou de avisar que os EUA sofreram um ataque aéreo e o Presidente ordenou que todos os aviões em vôo desçam imediatamente!”. Assim eu fui acordado por Odette, minha dublê de namorada e equipe de apoio, no que seria o último trecho do vôo para Los Angeles, com o objetivo de correr em mais um deserto, novamente apoiado pela Wöllner Outdoor. Desta vez o escolhido havia sido o Deserto de Mojave, na Califórnia, também na condição de primeiro brasileiro, assim como foi no Sahara e no Grand Canyon.

“Que isso! Você entendeu mal. Se o Gérard, ao entrar de mau jeito no espaço aéreo do Vietnã, com um pequeno motoplanador, foi imediatamente cercado por caças, imagine se é possível alguém fazer um ataque aéreo aqui nos EUA! Volte a dormir porque ainda temos duas horas de vôo”. Esta foi minha resposta lógica a uma afirmativa tão descabida… Minutos depois recebemos ordem para apertar os cintos e colocar a poltrona em posição vertical pois iríamos pousar em El Passo, na fronteira com o México.

Ainda sem acreditar nesta estapafúrdia estória, pousamos com instrução de permanecer no interior da aeronave. Uma senhora americana à nossa frente sacou de seu celular e ligou para a mãe que morava em Manhattan. Com sua poltrona totalmente cercada de curiosos ela passou a relatar as últimas notícias: “dois aviões entraram nas torres gêmeas, uma delas havia desabado e algo aconteceu no Pentágono !”. Estupefatos, recebemos ordens para sair do avião com as bagagens de mão e correr para o andar de baixo do aeroporto, pois esperavam até um ataque aéreo em El Passo!

Ônibus pirata – Duas horas depois, com a imagem do desabamento fixada na mente após ter sido vista dezenas de vezes nas infindáveis repetições que as televisões do restaurante do aeroporto mostravam ad nauseum, reunimo-nos com alguns brasileiros que encontravam-se na mesma situação e fomos todos para o último hotel em que ainda restavam vagas. No meio da tarde alguém surgiu com a versão de que as estradas não estavam bloqueadas como noticiavam alarmisticamente nos telejornais e havia um ônibus “pirata” saindo para Los Angeles no início da noite. Após algumas análises probabilísticas sobre a data provável da próxima decolagem, não nos esquecendo que nosso vôo era Houston-Los Angeles e não El Passo-Los Angeles, trecho aliás que não existia nesta companhia aérea (o que comprovou-se mais tarde pois quando ocorreu, dias depois, o vôo retornou para Houston), decidimos por unanimidade continuar by bus. Em “apenas” quinze horas estávamos em um subúrbio de Los Angeles que, até agora, não sei onde fica. Com míseros quarenta e cinco dólares de táxi finalmente estávamos em frente ao carro que havíamos alugado para ir ao deserto.

Três trilhas – Como eu saí daqui sem ter informações suficientes que me fizessem escolher entre as três trilhas diferentes que eu havia pesquisado ou, fazendo uma outra leitura da situação, não consegui decidir qual das três trilhas era a mais bonita apesar de toda a informação que eu tinha conseguido ainda no Brasil, não restou-me outra saída senão ir ao Joshua Tree National Park, ao Mojave National Preserve e ao Death Valley National Park conhecer cada uma e fazer minha opção preferencial.

O primeiro a ser visitado foi o Joshua Tree, o mais ao sul dos três, estando perto da área de transição do Deserto de Mojave para o Deserto de Sonoran, que também está na minha lista futura (aliás, como todos os outros que ainda faltam em todo o globo…). O primeiro impacto visual foi dos mais impressionantes ! A vegetação nativa, incluindo a endêmica joshua, quase me fizeram roubar na pontuação e nem ir conhecer os outros dois locais. Acostumado à aridez monótona, em termos de cobertura vegetal, do Sahara Marroquino e Egípcio, do Atacama, do Deserto Patagônico e do Grand Canyon, fiquei fascinado por esta visão seca, porém verde e, guardando as devidas proporções e parcialidades de um obcecado por desertos, até luxuriante!

A análise técnica incluiu idas ao início e ao final da trilha, além de uma passagem pelo ponto onde eu encontraria o Apoio para receber água e comer algo mais substancioso (um sanduíche!) que eu não carregaria para diminuir o peso da mochila. Em cada um destes locais o ambiente mudava bastante, não só em relação à altura da flora mas também da distância entre cada espécime, o que faria uma grande diferença ao correr pois estamos falando de diferentes espécies de vegetais espinhosos. Sem exceção! Além disto conversamos com os Rangers do Parque que deu-nos informações sobre o estado da trilha e suas marcações. Neste ponto, confesso, já estava bem tendencioso…

Confira os capítulos seguintes:

  • Parte II – Escolha feita, inicia-se a travessia;
  • Parte III – O rio seco e o canyon fora de lugar;
  • Parte IV – Trilhas de coiotes e desidratação.

    Este texto foi escrito por: Carlos Sposito

    Last modified: setembro 25, 2001

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