Deslizar sobre as águas do Rio Araguaia é um privilégio. No ano passado fizemos o I Passeio do Araguaia, percorrendo, em quatro dias, cerca de 120 km em caiaques individuais e duplos. Parecia uma expedição internacional: entre os 20 participantes, havia um italiano e um finlandês que estavam a passeio no Brasil, dois professores da Unicamp, um argentino e o outro israelense. O restante da turma era de Brasília e Goiânia.
Também havia gente com diferentes tipos de experiência em canoagem. Uns já eram remadores tarimbados, outros tinham uma pequena prática e alguns nunca haviam remado. As duplas foram montadas de acordo com a experiência e o preparo físico. Sempre uma mulher remava com um homem ou um remador menos experiente com outro mais preparado.
Batelão vira lar – Um barco típico da região, conhecido como Batelão, acompanhou toda a descida carregando as bagagens, alimentos, água, e ali também estava improvisada a cozinha onde se preparava todas as nossas refeições.
Começamos a descida em Aruanã, Goiás. Durante todo o percurso o rio encantou os remadores com suas belas paisagens. Um céu azul anil contrastava com as alvas areias das praias, onde tuiuiús enormes passeavam elegantes e tranqüilos, exibindo, às vezes, seu vôo majestoso.
Ficávamos na expectativa de ver os botos, que sempre apareciam de surpresa nos saudando com suas piruetas. Algumas vezes, quando se remava mais próximo aos barrancos, víamos tartarugas sobre troncos ou pássaros exóticos que, de tão mansos, permitiam-se fotografar a dois metros de distância.
Sempre que algum caiaque ficava um pouco para trás, todos paravam de remar e aguardavam que o grupo se reunisse antes de recomeçar. Outra parada que todos aguardavam ansiosos era a do almoço. O Batelão e os caiaques encostaram numa bela praia e todos desceram para repor as energias, esticar as pernas e curtir o lugar. Hora boa para jogar um frescobol ou mesmo tirar uma soneca.
Terminado o descanso, todos de volta a seus caiaques para mais uma jornada. Após cada curva do rio, onde as águas ficavam emolduradas pela mata, uma nova paisagem se revelava aos olhos atentos dos remadores. Assim prosseguia o passeio, em ritmo manso e despreocupado.
Quando dois ou mais caiaques estavam bem próximos, os remadores aproveitavam para papear, contar casos, piadas ou até mesmo para cantar. Era uma boa maneira de entrosar o grupo e cada um conhecer um pouco mais sobre os outros.
Beleza da tarde e lual – Ao cair da tarde, um outro espetáculo era apreciado pelos eco-canoístas, o pôr-do-sol, aliás, um dos mais belos que já vi. A vastidão daquele horizonte alaranjado, ampliado pelo reflexo nas águas do Araguaia é de uma beleza rara. A essa hora já estávamos armando o acampamento numa praia de areias finas, tomando um delicioso banho de rio, recolhendo madeira para a fogueira e aguardando pelo jantar.
Agora era hora de curtir o luau. Batata assada na fogueira com requeijão, som de violão, bate-papo. E não precisa ter lua, afinal, luau é um estado de espírito, uma comunhão com a noite, o céu enluarado ou estrelado. Momento de paz e reflexão para uns; de alegria, cantoria e curtir uma crepitante fogueira e um gole de vinho para outros. Não importa o estilo de cada um. O que realmente vale é o respeito de uns pelos outros e pela natureza.A harmonia, sintonia e entrosamento do grupo é o que mais vale.
A noite não se estende muito, pois todos estão cansados depois de um longo dia e conscientes de que precisam acordar cedo para repetir a dose até chegar ao nosso destino, a cidade de Cocalinho, em Mato Grosso. Apesar das delícias do passeio, chegar ao fim do percurso é gratificante, uma gostosa sensação do dever cumprido.
Aí é só aguardar o próximo passeio e trazer mais amigos para compartilhar toda essa maravilha.
Este texto foi escrito por: Eduardo Guedes
Last modified: junho 14, 2000