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Perdido na mata e sem ter o que comer?

Redação Webventure/ Aventura brasil

Você já se imaginou perdido na selva, vagando a esmo, cercado por perigosas feras, sem ter o que comer ou beber? Pode parecer estranho, mas uma grande quantidade de pessoas morre de medo de passar sede e fome na mata. “Já pensou se o avião cair no meio da floresta amazônica e a comida acabar?” Como se o “cair” já não fosse preocupação bastante.

Encontrar comida na mata pode ser preocupante e pode até parecer impossível, mas na realidade esta não é das tarefas mais difíceis. A mata é um lugar de alta produtividade orgânica, repleta de vida esperando para ser comida. O maior problema é que nem tudo que parece apetitoso é comestível, e em geral o que é comestível e nutritivo nem sempre parece apetitoso. Assim, corremos o risco de comer o que não devemos e não comer o que nos salvaria.

Se você é uma daquelas pessoas habilidosas, um legítimo McGuiver da vida, então a caça pode ser uma boa opção para você. Facilmente você construirá uma arapuca para pegar uma ave ou uma armadilha para roedores e terá apenas que esperar pelo socorro. Isso se você não construir um dirigível com pedaços da sua mochila e for embora antes. Agora se você é uma pessoa normal, a caça deve ser considerada como uma segunda opção, quando você já estiver confortavelmente instalado e bem alimentado. Caçar pode ser difícil e dedicar todo seu tempo a esta atividade pode ser frustrante além de poder lhe deixar de barriga vazia.

Dentre as possíveis caças, as aves e os mamíferos são a melhor opção, pois além de serem comestíveis, o sabor não nos parecerá muito estranho. Os répteis (jacaré, cobra, lagartos) também são uma boa opção, mas é bom evitar os anfíbios (sapos, rãs e companhia). Apesar de muitas serem até vendidas em açougues, sua limpeza é muito difícil e sem limpar direito podem ser muito tóxicas ao homem.

O que fazer?

  • Caçar ativamente, perseguindo a fera com um arco improvisado ou uma lança em uma mata pode ser realmente frustrante. Na mata é muito difícil ver a presa, quanto mais correr atrás dela. Exceção às aves que muitas vezes pousam bem encima das nossas cabeças. Mesmo assim será mais fácil para os McGuivers construir um arco e flecha, um estilingue ou ainda uma zarabatana…
  • Caçar com armadilhas é mais viável, mas ainda requer habilidade e criatividade, além de utensílios básicos. Arapucas e laços presos a galhos envergados são uma boa opção.
  • No caso de armadilhas mais complexas e perigosas, como com armas de fogo ou com grandes troncos cheios de espinhos, é muito importante lembrar exatamente aonde a colocou, pois um descuido neste sentido pode deixar você com fome e ferido, o que piora ainda mais a situação.

    Diz a sabedoria popular que fruto que passarinho come nós podemos comer. Primeiramente, quem tá morrendo de fome não vai ficar olhando se o passarinho come o frutinho ou não. Vai é comer o passarinho :-). Mas os pacientes, que insistem em ficar olhando o passarinho, podem se dar mal. Apesar de ser verdade que o que o passarinho come não deve nos envenenar e nos matar fulminantemente, muitos dos frutos que eles comem sem maiores problemas podem nos causar grandes desarranjos intestinais. E não deve ser muito bom ficar inválido por causa de um desarranjo quando se está perdido na selva.

    O que fazer?

    • Dê preferência aos frutos conhecidos, como por exemplo os moranguinhos silvestres que crescem na Mata Atlântica;
    • Se você não conhece, prove um pouquinho antes. Se o gosto for horrível, muito amargo ou adstringente (como banana verde) desconfie. Coma um pouquinho e aguarde algumas horas para ver se lhe faz mal. Daí coma um pouco mais e espere mais algumas horas. Assim, a quantidade ingerida será pouca e qualquer problema que apareça não será muito severo, que cessará parando de usar aquela fruta;

      É verdade que nem sempre é fácil encontrar frutinhos, especialmente na época seca. Então o que mais há para comer? Sementes e raízes são uma boa opção para quem sabe identificar as comestíveis, mas podem ser ainda mais perigosas que os frutos. Muitas sementes, incluindo o nosso conhecidíssimo feijão, causam desarranjos intestinais severos se consumidos crus. E muitas raízes podem ser tóxicas ao homem, como por exemplo a mandioca brava, que se parece com a mandioca (ou aipim), mas é venenoso.

      O que fazer?

    • Como nos frutos, dê preferência ao conhecido, especialmente as raízes;
      É verdade que nem sempre é fácil encontrar frutinhos, especialmente na época seca. Então o que mais há para comer? Sementes e raízes são uma boa opção para quem sabe identificar as comestíveis, mas podem ser ainda mais perigosas que os frutos. Muitas sementes, incluindo o nosso conhecidíssimo feijão, causam desarranjos intestinais severos se consumidos crus. E muitas raízes podem ser tóxicas ao homem, como por exemplo a mandioca brava, que se parece com a mandioca (ou aipim), mas é venenoso.

    • Se possível, cozinhe bem as sementes e raízes, o que ajuda a torna-las comestíveis. Despreze o caldo e coma-as provando aos poucos, da mesma forma que os frutos;

      Não os coma. A não ser que você seja um profundo conhecedor, daqueles realmente bons mesmo, evite ao máximo comer cogumelos. A grande maioria são muito tóxicos ao homem. Mesmo que você veja algum animal comendo-o é bom evitá-lo.

      O que fazer?

    • Não comer os cogmelos!

      Pode parecer repulsivo comer um inseto ou uma minhoca, mas lembre-se que em muitas culturas eles são considerados uma iguaria, além de serem uma grande fonte protéica. Muitos povos orientais comem grandes e gordos gafanhotos e até no Brasil é comum comer o abdomem da içá, rainha da formiga saúva. E além de nutritivos, estes pequenos animaizinhos são muito numerosos. Entretanto, nem todos são comestíveis. Muitos insetos são presas de aves e como defesa alguns podem ser impalatáveis, ou seja, com gosto realmente ruim.

      A boa notícia é que é fácil evitar os não comestíveis. De uma forma geral os insetos que ocorrem escondidos e inacessíveis tendem a ser palatáveis, como besouros que crescem sob a casca das árvores ou dentro de frutos como o besouro do coco. Além disso, os animais com cores chamativas tendem a ter gosto ruim (ou imitam a coloração de alguém de gosto ruim).

      O que fazer?

    • Dê preferência a insetos que crescem dentro de cocos, troncos ou raízes, especialmente as larvas de besouros;
    • Não coma insetos com cores chamativas. Podem ser impalatáveis;
    • Se comer insetos adultos, arranque as patas e as asas. Em geral não alimentam mesmo e só farão ficar pior de engolir;
    • Procure pelas minhocas. Apesar de não serem nada agradáveis, são muito nutritivas e fáceis de encontrar cavucando terra úmida

      Reparando bem, nem todas as opções listadas aqui são muito fáceis de se imaginar. Para falar a verdade, em muitas delas seria preciso estar realmente com muita fome para poder encarar. E é esta a idéia. Em uma emergência, a fome não é dos maiores problemas. É possível sobreviver mais de 90 dias sem comida, mas não da para passarmos mais de 4 dias sem água. Por isto o abrigo contra chuva e frio e a bebida têm prioridade muito maior. A comida somente é imprescindível na falta de água para repor líquidos. E se você não tiver faminto o suficiente para conseguir encarar uma larva de besouro se mexendo é porque ainda da para ficar muito tempo sem comer.

      Mas se você quer entrar numas de ficar comendo o que a natureza tem a lhe oferecer, por opção, procure obter bastante informação sobre o que vai ou não comer. Lembre-se do que aconteceu ao aventureiro Chris McCandless (Na Natureza Selvagem, de John Krakauer) que ficou comendo uma planta, que apesar de não matar, tirava o apetite. E ficar sem apetite no frio do Alasca pode ser tão perigoso quanto beber cicuta. Comer o que não se conhece pode nos revelar muitas surpresas. Por isto, eu sugiro estas dietas apenas em caso de emergência.

      Este texto foi escrito por: Cláudio Patto

      Last modified: dezembro 24, 1999

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