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Pico da Neblina – uma aventura no teto do Brasil

Redação Webventure/ Aventura brasil

Vista do rio Negro durante vôo (foto: Dalio Zippin Neto)
Vista do rio Negro durante vôo (foto: Dalio Zippin Neto)

Índios, mata cerrada, rios, garimpos, frio, chuva, insetos, cores, sons… chegar ao Pico da Neblina, norte do Amazonas e perto da fronteira do Brasil com a Venezuela, é caminho árduo de uma semana (só de ida), onde todos os sentidos ficam ligados e cujo significado da palavra “expedição” ganha maior sentido do que simplesmente atingir o topo da montanha mais alta do Brasil 3.014 m de altitude, para ser mais preciso.

O sacrifício assusta os aventureiros menos preparados. Mais para o trekking que para a escalada, a aventura de seguir rumo aos mais de 3 mil m de altitude do Pico que dá nome ao segundo maior Parque Nacional do país ainda é para poucos. Não apenas pela resistência física, mas também psicológica, cujo desafio consiste em atravessar pouco mais de 100 Km de carro em estrada de terra, dois dias de barco e quatro a cinco dias de caminhada na mata que podem ser acompanhados de um um vento gelado, úmido e cortante até o topo, e onde o sol só aparece com força a partir dos 1500 m de altitude por causa do tamanho das árvores e da densidade da mata.

Quem foi, garante que vale a pena. Mais que descrever a paisagem vista lá de cima, o que acaba marcando os visitantes é todo o trabalho de chegar até aqui, desde o vôo de Manaus (AM) até São Gabriel da Cachoeira, porta de entrada para o Parque.

“É pesado e desconfortável. Mas a paisagem que a gente vê de lá de cima, principalmente se for brindado com tempo bom, como foi o meu caso”, lembra o médico Marcos Vicente Braga Motta, que seguiu rumo ao Pico no reveillon deste ano. “E é divertida a sensação de estar acima das nuvens depois de tanto ‘sofrimento’ ”, completa.

O segundo maior Parque Nacional brasileiro tem 2,2 mihões de hectares e abriga os dois maiores picos do país o da Neblina, com 3.014 m de altitude, e o 31 de março, com 2.992 m. Identificado por uma expedição na década de 50, só em 1962 o Pico da Neblina foi reconhecido como o mais alto. Até então, o Pico da Bandeira, no Parque Nacional do Caparaó (MG), com 2890 m, era considerado como o mais alto.

A área do Parque está sobreposta a território Ianomami, grupo indígena que ocupa a região montanhosa na fronteira entre o Brasil e a Venezuela e se concentra nas cabeceiras dos rios que formam as bacias dos rios Branco e Negro, no Brasil, e do venezuelano Orinoco-Casiquiare. Muitos destes índios são encontrados no caminho para o Pico da Neblina, e seus costumes até utilizados pelos visitantes: na falta de espaço para montar uma barraca, como no caso do acampamento-base, dorme-se em redes no meio da mata.

Ponto de partida para o Pico da Neblina, a cidade de São Gabriel da Cachoeira fica a 1.200 Km da capital Manaus (AM). Dá para chegar via rios, mas ganha-se tempo fazendo esse trecho de avião. Cidade típica da Amazônia, São Gabriel quase não tem ruas asfaltadas, o principal meio de transporte é o barco e pelo menos 90% da população local pouco mais de 27 mil pessoas é composta de índios (ianomamis ou não). E em algumas épocas do ano, o Negro, principal rio da região, forma praias fluviais e corredeiras dignas de registro.

Vale a parada cultural antes de seguir viagem, até para começar a conhecer um personagem muito comum: o garimpeiro. Apesar do peso da lei que determina a proteção do Parque Nacional e do Território Ianomami, a atividade do garimpo de ouro acontece e causa diversos deseqüilíbrios ambientais; da poluição dos cursos d’água, pelo uso de substâncias químicas como o mercúrio, a impactos sobre a população indígena. Ironicamente, alguns destes garimpeiros até acabam mantendo parte das trilhas, lembra o médico Marcos Vicente Braga Motta, que esteve na região no começo deste ano.

Uma floresta densa, mas cheia de detalhes e diferenças. Assim pode ser descrita a mata que cerca o Pico da Neblina, “floresta tropical úmida” para os cientistas e cujas formações vão mudando de acordo com a altitude. Próximo aos rios, nas chamadas áreas de várzeas, são os igarapés que dominam a paisagem e desafiam os piloteiros de barcos com longas raízes de árvores.

A floresta torna-se cada vez mais densa à medida que se sobe. Nomes engraçados de árvores, como mandioqueira-azul e tamaquaré, vão surgindo e dando espaço a campos de altitude aqui, existem até mesmo bromélias, como na mata atlântica.

A fauna também é bastante diversificada. Diversos animais em extinção, como o primata uacari-preto e o galo-de-campina, assim como a onça-pintada, fazem do território seu habitat. Com sorte, dá para escutar muitos destes bichos e ainda ver macacos e outros animais como a preguiça.

“Prepare o seu emocional”, diz o médico Braga Motta. Depois de caminhadas longas na Chapada Diamantina (BA) e Serra dos Órgãos (RJ), ele decidiu seis meses antes conhecer o Pico da Neblina.

Fazendo um treino diário não muito convencional o médico subia as escadas dos quinze andares do prédio onde mora, com a mochila cheia fazendo peso nas costas ele afirma que mais que resistência muscular, é preciso conseguir resistir ao desgaste físico e psicológico que a caminhada ao Pico gera.

A agência de ecoturismo Alaya, que realiza expedições ao Parque Nacional, aconselha aos “candidatos” a se prepararem com pelo menos quatro meses de antecedência por meio de exercícios e uma dieta equilibrada. “Obrigatório”, também, é uma espécie de treinamento que a agência oferece aos participantes com o Cosmo (Corpo de Socorro em Montanhas), no Pico do Marumbi (PR). A agência justifica que as condições físicas do Marumbi são “parecidas” com as que vão ser encontradas no Neblina.

Mas o que parece preocupar mais os participantes não é a resistência física, ou as chuvas, mas a grande quantidade de insetos que podem tirar o humor do mais preparado dos aventureiros. “Repelente não adianta na selva”, diz o médico. O ideal, nesse caso, é lembrar de roupas adequadas. De preferência, coberto, dos pés à cabeça.

Como chegar: o ponto de partida é a cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM), a 140 Km de estrada de terra e dois dias de barco até o ponto de partida para a caminhada mais quatro ou cinco dias para chegar até o Pico. É preciso autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e da Funai (Fundação Nacional do Índio).

Clima: quente e úmido. Mas também faz frio. Um dos motivos para a queda de temperatura não é apenas a altitude, mas a própria umidade relativa do ar. O viajante sua durante o dia, e à noite sente frio. Vale lembrar que chove bastante e forte na região, uma das características mais marcantes da viagem.

Infra-estrutura: hospedagem simples, só em São Gabriel da Cachoeira. No restante do caminho, barracas e redes.

Vacinas: é obrigatório tomar contra febre amarela e tétano, com pelo menos 10 dias de antecedência. Informe-se na Fundação Nacional de Saúde, tel. (61) 314-6440.

Quem leva: na região Sudeste, a Alaya é especializada em expedições para o Pico da Neblina. A próxima será realizada entre os dias 16 de abril a 1o maio, com uma viagem de treinamento do grupo para o Pico do Marumbi (PR) no início de março. A viagem custa R$ 3.900 por pessoa e inclui transportes, alimentação, guias e seguro-viagem. Informações pelo tel. (11) 866-2611.

Informações Administração do Parque: tel. (92) 471-1259.

Este texto foi escrito por: Webventure

Last modified: fevereiro 18, 2000

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