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Piloto de asa-delta Glauco Cavalcanti conta sua experiência e fala da preparação para o XCeará 2009

Redação Webventure/ Páraquedismo

Glauco começou no esporte quando tinha 20 anos (foto: Divulgação/ Bruno Lima)
Glauco começou no esporte quando tinha 20 anos (foto: Divulgação/ Bruno Lima)

Aos 34 anos de idade, Glauco Cavalcanti pratica asa-delta desde os 20 anos, acumulando 14 anos de experiência no esporte. Entre os treinos e a profissão, atualmente ele se prepara para o XCeará, uma das principais competições da modalidade, que acontece em novembro.

O primeiro contato de Glauco com o esporte foi quando realizou um voo duplo. Ele se encantou e nunca mais abandonou. “Eu fiquei apaixonado e aí comecei a praticar como hobby”, contou Glauco, que ocupa o quinto lugar no ranking brasileiro de cross-country. As modalidades existentes para as asas-delta são: acrobacia, muito pouco praticada no mundo; o voo de velocidade e o de longa distância. “Você decola de um ponto e tenta chegar o mais longe possível”, afirma Glauco, esclarecendo sua especialização nos voos de longa distância.

Para o XCeará 2009, que acontece entre os dias 21 e 29 de novembro na cidade de Quixadá (CE), Glauco prefere não criar muitas expectativas. “Eu vou lá para voar de cidade em cidade, e ter na consciência o seguinte: eu vou fazer o máximo!”, declara o atleta. A edição do XCeará deste ano promete contar com mais atletas que a última edição, deixando a disputa pelo título mais interessante.

Toda essa experiência de Glauco lhe rendeu o segundo lugar no XCeará 2008, principal competição de asa-delta cross-country do Brasil. Para isso, Glauco voou 300 quilômetros durante aproximadamente seis horas. “No voo de longa distancia não adianta ser velocista, tem que ser maratonista”, completa Glauco.

Preparação – Mas para poder agüentar todo esse tempo voando em uma asa-delta, é necessária muita preparação, tanto física como mental. “Tem que ter uma mente muito tranqüila e paciência, para isso o que eu normalmente faço é natação de travessia”, explica o piloto. Além da natação, que o ajuda muito no preparo, Glauco também realiza treinos leves de academia, sem musculação pesada.

Mentalmente, o especialista em voos livres aprendeu a se preparar com dicas de Michael Jordan e da natação. “O que eu aprendi a fazer, tem até no livro do Michael Jordan que eu estava lendo, que você tem que dar um passo de cada vez. Na natação também, não adianta você entrar na água falando assim ‘eu vou nadar dois mil metros’, você não tem motivação para isso”, completa Glauco Cavalcanti.

Além da preparação física e mental, os atletas também precisam estar prevenidos para situações adversas, como o tédio. “Chega uma hora que começa a ficar entediante, você está cansado, aí é hora do alongamento, hora do almoço, tomar água. Você vai criando momentos, e quando percebe o tempo passou!”, explica o piloto de voo livre sobre estratégias de como se entreter lá no alto. “Você vai trazendo a mente para o presente, isso eu acho uma coisa fantástica do voo. Não adianta ficar pensando em problema de trabalho, problema conjugal, e problemas da vida, não dá tempo! Porque ali você está pensando em nuvem, pássaro, sol, relevo, isso é muito bacana”, revela Glauco, destacando a importância dessa meditação ativa.

Nas provas de cross-country do voo livre, ganha aquele piloto que voa a maior distância em quilômetros em linha reta entre o ponto de partida e a chegada, independente do tempo de duração. Glauco Cavalcanti afirma que os avanços tecnológicos facilitaram bastante a checagem dos dados dos voos: “o cross-country hoje em dia evoluiu muito por conta da tecnologia, nós voamos com GPS e outros aparelhos, e quando pousamos, colocamos tudo isso no computador. Durante o ano você vai voando e colocando os dados dos voos no sistema”.

Diferente do XCBrasil, o campeonato nacional anual no qual os pilotos de asa-delta podem escolher onde e quando voar, sem data confirmada (o atleta escolhe os lugares e as condições para o voo), o XCeará, que acontece desde o ano de 1992, é o unico campeonato onde todos os pilotos de cross-country se juntam e decolam todos do mesmo ponto, voando no mesmo horário e com as mesmas condições climáticas.

O XCeará, realizado na região da cidade de Quixadá(CE) conta com a presença de pilotos do mundo inteiro, e o lugar é considerado como um dos melhores do mundo para realizar o voo livre. Sobre sua participação no XCeará 2008, Glauco Cavalcanti revelou detalhes da disputa entre ele e os pilotos Marcelo Ferro e Marcos Assunção. “Eu fiquei 45 km abaixo do primeiro colocado e nesse ano ninguém bateu o recorde, pois não foi um ano dos mais fortes. Dependemos da natureza, então bater recorde não significa chegar e falar: ‘eu vou bater o recorde’”, afirmou.

Segundo Glauco, há poucos adversários na modalidade no Brasil. “Em termos nacionais há poucos pilotos completos, pilotos que realmente têm essa vontade de entrar em qualquer roubada e ficar horas e horas voando”, destaca piloto. Glauco aponta Marcelo Ferro, que ganhou o XCeará ano passado, Geraldo Nobre, que voa já faz mais de 30 anos e é bicampeão brasileiro, e Marcos Assunção como os principais adversários na disputa dos campeonatos.

Já no cenário internacional, existem dois destaques nas asas-delta: o italiano Alex Ploner e o australiano Jon Durand. “Para mim, o melhor piloto da atualidade é o Jon Durand, ele já voou 500 km na Austrália. Ele está no nível mais alto, a gente não chega nem perto dele. Porque o que acontece é que hoje ele vive só de competição”, fala Glauco. Jon Durand chega até a filmar durante as competições, mostrando que é fera mesmo. “No meio da prova de mundial, um dos melhores pilotos do mundo, e ele está filmando tudo! E mesmo assim chega em segundo lugar ou mata a prova. Ele está num nível absurdo”, completa o piloto brasileiro.

Riscos – “O esporte, que é fantástico, também tem um lado negro, os acidentes. Eu já quebrei um braço, fora os arranhões. Na hora do pouso o vento virou e eu ia entrar numa cerca, eu estourei a asa e quebrei o braço, uma fratura exposta”, conta o experiente piloto. “No dia que se comete um erro, pode custar a vida.”

Para praticar o esporte, é preciso ter muita determinação e muitas vezes chegar ao limite do corpo: “O Marcos Assunção estava liderando o campeonato o tempo todo, e no ultimo dia eu falei assim: ‘eu vou voar até minha energia acabar’. Fui até o limite da energia. E acabou que ele ficou 5 km atrás de mim no geral. Eu realmente precisava fazer isso, se eu tivesse titubeado, se eu tivesse amarelado uma térmica, uma tirada, tivesse feito um pouquinho pior ele tinha ganhado”.

Além de piloto de asa-delta, Glauco Cavalcanti também é professor de marketing em cursos de graduação e pós-graduação da FGV, palestrante e empresário. Com os 14 anos de prática asa-delta, Glauco possui uma empresa que realiza voos duplos e dá palestras relacionando o voo livre com o mundo corporativo.

Para quem gosta de asa-delta e tem interesse em começar a praticar o esporte, Glauco ainda dá algumas dicas importantes. “A primeira dica que eu acho, vá para uma escola de voo livre e faça um voo duplo, tenha contato com o ar, com esse universo do ar e veja se você se sente a vontade, se você gosta”, aconselha o piloto. Caso o resultado seja positivo, é importante que você faça um curso, que tem duração de 3 a 6 meses e conta com parte teórica e prática. “O fundamento é decolar e pousar, depois aí é pegar térmica, as correntes ar ascendentes, o que permite que a gente faça voos de longa distância, mas a base inicial é decolar e pousar. Se você já decola e pousa em segurança, você já é piloto. Agora, se você vai evoluir no esporte ou não, é questão de determinação”, avisa Glauco Cavalcanti.

Este texto foi escrito por: Alexandre Ciszewski

Last modified: setembro 23, 2009

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