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Pilotos brasileiros aprovam o Rally Dakar na América do Sul


Palmeirinha corre com uma BMW (foto: Divulgação/ Aifa RTF)

Oficialmente nesta terça-feira (12), Etienne Lavigne, diretor geral da ASO, empresa responsável pela realização do Rally Dakar, anunciou que a prova de 2009 deixará a África e acontecerá em territórios argentino e chileno, com o nome de Rally Dakar 2009 Argentina Chile.

A prova seguirá os moldes do Rally Por Las Pampas, válido como etapa do Campeonato Mundial, e que a ASO comprou os direitos em 2007. O percurso ainda não está definido, mas a prova deverá ter cerca de 9.000 quilômetros, sendo 6.000 km de especiais.

Quem comemora a vinda do Rally Dakar para a América do Sul são os pilotos. A equipe de reportagem do Webventure conversou nesta tarde, com exclusividade, com alguns pilotos brasileiros. Acompanhe o depoimento de cada um.

André Azevedo
O piloto da equipe Petrobrax Lubrax compete na categoria caminhões e já esteve presente em 20 edições do Rally Dakar. Este ano, além do Rally dos Sertões, o piloto disputará a Copa Rally SP de Cross-country, no estado de São Paulo.

Essa notícia vem para confirmar as previsões que fiz no dia 4 de janeiro, em Lisboa. Aqui tem condições de fazer uma prova igual ao deserto do Saara. A própria cidade de Mendoza simula muito como é no Marrocos, isso sem contar os trechos de alta velocidade, onde atingimos os 200 km/h. A parte de dunas do Deserto do Atacama, representa um pouco da Mauritânia.

Para nós, é um grande presente de Natal. Nossa equipe há 20 anos participa do Rally Dakar, sendo a única equipe perene das três Américas. É um presente de 21 anos desses competição. No Saara, via muitos europeus passando férias e torcendo por seus pilotos e espero ver muitas bandeiras do Brasil ao longo do percurso desse Dakar 2009. É uma emoção que teremos a mais, e diferente dessa vez.

Neste ano, teremos novas regras no Brasil para nos adaptarmos às regras internacionais, isso facilita muito para quem anda de carro e caminhão, já que as motos já estão no padrão da FIM. Vamos ver como fica a regulamentação com relação aos apoios, pois não teremos condições de deserto como no Saara. De repente, nessa nova regulamentação, será permitido carros não tão preparados como eles pediam para fazer o Saara. Se for assim, temos equipes brasileiras prontas para fazer a prova.

Maurício Neves
Piloto de carro, Maurício é o atual campeão do Rally dos Sertões e participa de provas dos Campeonatos Paulista e Brasileiro de Cross-country. No Rally Por Las Pampas, em 2006, Maurício venceu a primeira especial, superando todos os veículos de fábrica..

Acho que vai ser um marco para o crescimento do rali no Brasil e na América do Sul. É uma pena que o Brasil não esteja em um primeiro momento nessa rota. Eu estou bem animado, e vou começar a trabalhar para tentar com os mesmos parceiros que já me seguem aqui no Brasileiro e nos Sertões, tentar conseguir verba para fazer essa prova em janeiro.

O transporte para o outro lado do oceano é complicado. Nessa prova da Argentina é fácil, está aqui do lado. Acho que o grande empecilho para os brasileiros irem correr era o custo por conta de não poderem levar nada daqui. Você tinha que contratar equipes inteiras de lá e também os veículos de apoio não se adaptavam, porque os deslocamentos na África eram complicados.

Tenho a impressão que no primeiro ano, apesar da Mitsubishi e de alguns já terem vindo fazer o Las Pampas, com certeza diminui esse “gap” que existe entre as equipes de ponta de lá e as nossas equipes daqui. Eu acho que um bom carro brasileiro, um carro do Sertões, pode andar entre os 10 facilmente nessa prova aqui.

Tenho a impressão que agora, para conseguir patrocínio, será mais fácil, porque o rali é aqui, o mercado é o Mercosul. Acho que facilita muito. Eu estou enxergando com bons olhos, estou bem animado. Espero conseguir trabalhar bem esse ano para viabilizar a minha ida para lá.

A hora em que eles descobrirem aqui, realmente, vão se apaixonar, porque é muito tranqüilo. São países pacíficos, o custo é muito baixo. No pior lugar que você possa estar na Argentina, você está a 100 quilômetros de uma boa cidade, de um bom hotel, de uma boa estrutura. E isso é muito importante. Na África, tudo é mais complicado.

Maurício Ramos, o Índio
Atual campeão do Rally dos Sertões nos Quadriciclos, Índio vê a possibilidade de participar do Rally Dakar bem mais próxima.

Primeiramente foi uma perda enorme, um prejuízo absurdo, com cifras astronômicas para todas as equipes e patrocinadores que investiram o ano inteiro no evento. E também para os países que cedem seu espaço para a prova.

Mas, por outro lado, para nós que estamos no Brasil é muito melhor ter o Dakar aqui na América do Sul, pois facilita muito para todos, abaixa o custo para os pilotos brasileiros e isso dá mais chances para termos mais brasileiros na prova. Eventualmente se não der para ir correr dá para assistir, já que é aqui pertinho.

Tem também a diferença de percurso. O Deserto do Atacama é muito mais árido, a areia é mais pesada e mais grossa do que no Saara e as dunas daqui também são bem mais altas. Serão dificuldades diferentes. Nem menos, nem mais difícil, apenas diferente.

Mas no balanço geral acho que a mudança para a América do Sul é positiva, pelo menos pessoalmente falando, porque a chance de eu ir competir essa prova passa de bem pequena para uma possibilidade real, já que fica bem mais barato e mais perto até para o transporte dos equipamentos.

Paulo Nobre, o Palmeirinha
O piloto já participou de duas edições do Rally Dakar e compete com a equipe BMW nas principais provas do calendário Mundial, terminando o campeonato do ano passado na quarta colocação. Ele já participou duas vezes do Rally Por Las Pampas.

Essa mudança será boa para nós. Ter uma prova do nível do Dakar acontecendo ao nosso lado facilitará um pouco as coisas e permitirá uma evolução maior de nossos pilotos, mecânicos e equipes. Isso sem falar na possibilidade de chamarmos a atenção do cross-country mundial para as nossas provas, como o Rally dos Sertões, que não fica devendo em nada para as grandes provas internacionais.

Teremos um aumento na participação de brasileiros na prova, mas acho difícil acontecer uma invasão verde e amarela. Quem quiser competir com equipes estrangeiras, o valor de participação na prova ficará mais alto do que nos anos anteriores devido ao deslocamento de equipamento da Europa para a América do Sul. Já, quem for andar com equipes brasileiras, o custo será bem maior do que no Rally dos Sertões, por exemplo, e ainda haverá a necessidade de adequação dos nossos carros para serem aprovados na vistoria técnica da competição.

A competição se tornou o que é devido às dificuldades encontradas na África e isso acabou criando toda a lenda do Dakar. Por esse lado, realmente, a nova prova sairá perdendo, mas não tenho dúvida que farão um rali grandioso, tão difícil como os realizadas na África. Na minha última participação no Por Las Pampas enfrentei trechos de neve, dunas, praia, floresta, além das partes de trial, ora em terrenos de pedra, ora em lugares com erosão.

Riamburgo Ximenes
O piloto cearense teve sua primeira experiência no Rally Dakar em 2007, mas um acidente na quarta etapa tirou as chances de bons resultados. No Brasil, Riamburgo acumula vários títulos em provas no nordeste.

Foi fantástico, não podia ter tido notícia melhor. O Chile e é nosso quintal e é muito fácil nos deslocarmos para treinar e os custos caem bastante. Tenho certeza absoluta que será uma excelente prova, que não vamos deixar os competidores terem saudade da África.

Já estou no projeto Dakar desde o ano passado e estou trabalhando para o Dakar 2009. Graças a Deus não fomos para a prova deste ano, já que todos que se envolveram tiveram prejuízos.

Os custo diminuirão muito, já que tudo na África tem um preço absurdo. Aqui será maravilhoso. Vai ser muito legal, ganhamos muito.

Tenho certeza da competência do Marcos Ermírio (diretor do Rally dos Sertões) e também do Sertões de tirar proveito disso. O rali não ficará só entre Argentina e Chile, mas quem sabe o próximo Dakar largue de Goiânia (GO), passe pelo Jalapão, desça e vá para o Atacama. Tem mais um país maravilhoso para se inserir nesse universo do cross-country mundial. O que nos falta é um deserto. Temos no Chile as maiores dunas do mundo, que passam de 100 metros de altura. No Chile tem situações mais inóspitas do que a própria África.

Zé Hélio
O piloto é o atual campeão do Rally dos Sertões e correria na edição 2008 do Rally Dakar com apoio oficial da Honda Europa. Neste ano, o piloto disputará grande parte das provas do Campeonato Mundial de Rally, além do novíssimo Dakar Series.

Eu achei muito interessante. Isso vai estimular bastante o esporte por aqui e acho que não tinha um lugar melhor no planeta para escolherem, já que eu sou um cara experiente na Argentina e Chile, e isso é ótimo, já corri lá mais de seis anos e é um lugar deserto que tem a mesma característica do rali deles e com segurança total.

Provavelmente estarei lá, mas não tem nada confirmado ainda. De qualquer maneira, é uma prova que tem um custo muito grande e espero que a organização consiga mesmo baixar isso, pois seria muito interessante uma presença maior de pilotos sul-americanos.

Este texto foi escrito por: Thiago Padovanni, Lilian El Maerrawi e Marcelo Iglesias