Esquema C: orientação convergente. (foto: Cláudio Patto)
À noite, vários insetos são atraídos pela luz, entrando pela janela das nossas casas, voando em volta do lampião e das lâmpadas e caindo queimados no chão. Andando no mato completamente escuro, invariavelmente vários insetos ficam batendo na nossa cara quando voam ao redor da luz da nossa headlamp.
Ou, pior, quando vamos olhar como está a comida no fogareiro usando a lanterna ou dar aquela mexidinha para não grudar tudo no fundo, volta e meia um inseto, atraído pela luz, cai dentro e complica a tarefa de cozinhar. Para alguns, como meu amigo Bareta, isso aumenta o nível de proteína da comida.
Muitas pessoas me perguntam intrigadas qual é a origem deste comportamento: Porque estas mariposas (ou vários outros insetos) buscam a luz, se, quando chegam, elas giram em volta até morrer?. A resposta é: elas não buscam a luz. Elas sofrem um problema de orientação e acabam erradamente voando em direção a luz.
Os insetos noturnos não se orientam como nós, que usamos basicamente a visão procurando por pontos conhecidos na fisionomia do ambiente. Quando os insetos noturnos usam a visão para se orientar, eles não se guiam pela fisionomia do ambiente, mas sim pelo seu ângulo de vôo em relação a um ponto fixo no espaço.
No caso dos insetos, o ponto fixo geralmente é a lua. Como a lua está a uma distância enorme, ela se encontra praticamente no infinito para estes animais. Por mais que eles voem em linha reta, jamais se deslocarão o suficiente para mudar o seu ângulo de vôo em relação à lua (veja o Esquema A, ao lado).
Por exemplo, se eles estiverem voando em linha reta a 90 graus em relação à lua, daqui a 1 km continuarão a 90 graus. E, se quiserem voltar, é só voar a 270 graus ou 90 graus no sentido contrário. Assim eles conseguem saber para onde estão indo e para onde devem virar se quiserem voltar e quanto devem virar se quiserem fazer um círculo.
Lâmpadas e lanternas – Mas o que acontece quando os insetos vêm lanternas ou lâmpadas, para eles pontos luminosos tão fortes ou mais ainda que a lua? Eles acabam se confundindo. Estes pontos, mesmo que imóveis, não são fixos no espaço.
O ângulo de vôo em relação a estes objetos muda com o deslocamento do animal. Se eles se deslocarem em linha reta a 90 graus de um objeto que está a 200 metros de distância, depois de 100 metros seu ângulo terá aumentado cerca de 22 graus e depois de 200 metros, terá aumentado 45 graus (veja o Esquema B, ao lado).
Como os insetos acham que esta lâmpada também é um ponto fixo no espaço, quando o ângulo do seu vôo aumenta, eles tentam manter o mesmo ângulo, no intuito de voar em linha reta. Mas o que acontece é justamente o oposto. Com estas correções de ângulo eles acabam fazendo uma curva, voando em círculos, achando que continuam a voar em linha reta.
O texto anterior só explica porque os insetos voam em círculos. Mas por que eles se aproximam da luz? Na realidade, nem todos os insetos se aproximam da luz. Alguns se aproximam e outros se afastam, em círculos, dela. Isto acontece porque nem todos corrigem igualmente o seu ângulo de vôo, afinal, uma correção precisa do ângulo é muito difícil.
Alguns exageram um pouquinho na correção deste ângulo, resultando em um vôo convergente, acabando com o animal colidindo com a fonte de luz (veja o Esquema C, ao lado). Estes são os que nós vemos atraídos pela nossa lanterna. Outros não corrigem totalmente o ângulo de seu vôo, girando também em círculos ao redor da fonte de luz, mas de forma divergente (veja o Esquema D, ao lado). Estes animais vão girar, girar e acabarão por se afastar da lanterna. E felizmente não vão cair no nosso prato de sopa…
Este texto foi escrito por: Cláudio Patto
Last modified: dezembro 13, 2001