Lourival recebeu o carinho da filha ao fim de uma das etapas e a solidariedade da população local em Cachoeiro do Itapemirim (ES). (foto: Luciana de Oliveira)
Não só à competição se resume um rali de quatro dias que passa por estados dos mais fascinantes – Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia – por 1.500 km. Após o Terra Brasil, encerrado anteontem em Porto Seguro (BA), conversas com pilotos e navegadores trazem à tona histórias que acontecem por trás da poeira. São as lembranças de quem esteve em comunidades distantes e foi recebido com festa, às vezes com espanto e, em diversas ocasiões, com solidariedade.
Uma das ações mais interessantes que fez parte do evento não envolveu alta velocidade nem disputa por título. Foi a seqüência da associação social da Trilha Brasil, que desta vez teve como patrocinador a equipe King Off-Road. Enquanto pilotos e navegadores seguiam nas especiais da prova, parte do time visitou escolas das comunidades por onde o rali passou.
A King e os demais apoiadores do projeto ofereceu um kit com material escolar, revista de off-road e livro infantil aos alunos. A equipe da Trilha ainda fundou bibliotecas nas escolas que não tinham este espaço. Em troca, colecionou histórias de gratidão e até de felizes coincidências, como esta abaixo.
Perdidos? – “Num dia estávamos seguindo o mapa de apoio e nos perdemos. Já estava escuro, não dava para ver nada… Eu dei ré no carro e, quando percebi, estava em frente a uma escola”, conta Luís Eduardo Salvatore, um dos idealizadores do projeto. “Nem imaginávamos a existência desta escola, mas descemos, encontramos quem tomava conta dela e entregamos os kits. Se comprometeram a distribuir também a outras duas escolas próximas. E eles disseram que, sem as dicas que nos dariam sobre o caminho a seguir, seria difícil voltarmos à rota certa naquele dia”.
Encontrados – A ajuda bem-vinda aconteceu também para a dupla Klever Kolberg e Lourival Roldan no Espírito Santo. O carro quebrou no meio da especial e Klever saiu para encontrar um local onde pudesse telefonar e pedir o apoio da equipe. Enquanto Lourival esperava, próximo à trilha, duas pessoas apareceram e o convidaram para “sair do carro e ir almoçar” na casa delas. Já passava do meio-dia.
O convite foi aceito. “O morador local me disse que o próprio Klever também já estava lá na casa dele. Fomos muito bem recebidos com aquele almoço com arroz, feijão, ovo… Uma festa!”, lembra Lourival. Depois da refeição, foram presenteados com queijos produzidos na casa e então receberam o apoio do time Mitsubishi – também convidado a participar da refeição.
O aparecimento providencial de moradores locais também foi a salvação dos mineiros Carlos Leone e Renato Machado. O caminhão de apoio da equipe deles foi levado embora antes da largada para uma das especiais. Descobriram depois que os capacetes da dupla estavam dentro do veículo. Como não é permitido correr sem este acessório, a solução para largar foi comprar capacetes de dois motociclistas que estavam passando pelo lugar.
Salvini “ganha” mininavegador – Despedir-se dessas novas amizades foi tarefa difícil. Que o diga o veterano Carlos Salvini, vencedor da prova na categoria Caminhões. Este tipo de veículo, pelo seu tamanho e aparente dificuldade de se conduzir por uma trilha, era o que mais chamava a atenção do público. Num dos locais em que o piloto precisou parar, ele conheceu um menino. E conta que a criança se encantou com o caminhão. “O menino quis conhecer tudo e, ao final, pediu para ir embora comigo”. O pequeno queria ser um ‘mininavegador’ para o supercampeão. “Fiquei emocionado. São histórias que a gente nunca vai esquecer”.
Este texto foi escrito por: Luciana de Oliveira