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Português Jaime Santos faz sua avaliação do Dakar


Andy Caldecott faleceu após cair da moto (foto: Divulgação/ KTM – DPPI)

Dos 40 anos de vida, o português Jaime Santos dedicou 22 ao rali Cross-country. Acompanha o Dakar desde 1983 e na última edição, a primeira a largar de Portugal, fez parte da organização levantando o roteiro nas etapas européias e cuidando da segurança até a Mauritânia. Há três anos Santos também trabalha na direção de prova do Rally dos Sertões no Brasil.

Mesmo com várias edições do Dakar na mochila, ele ainda se lembra da primeira. “Foi em 83 que pela primeira vez três equipes portuguesas, equipadas com um veiculo português (UMM), participaram do Paris Dakar e a partir daí iniciou-se não só uma grande paixão pelo rally, mas acima de tudo uma grande paixão pela África”, contou, em entrevista exclusiva ao Webventure.

A edição 2006 da prova registrou a maior quilometragem dentro do continente europeu. Santos foi o responsável pela escolha do percurso e das dificuldades que as equipes encontraram no velho continente. “Não quisemos criar grandes dificuldades aos competidores. Acima de tudo optamos por escolher pistas com bom piso e técnicas para os competidores tirarem o máximo prazer possível de condução. No fundo, os competidores esperam é pela corrida em África e para eles Portugal foi uma espécie de prólogo, um ‘Shake Down’”, disse o português.

Ele afirmou ainda que o inverno europeu preocupou a organização. “Optamos por pistas que mesmo em caso de muita chuva fossem sempre possíveis de serem feitas. Como o território de Portugal é pequeno e com muitas árvores, tivemos um trabalho suplementar em escolher especiais que não dessem problemas à corrida dos caminhões”, complementou Santos.

Avaliação – “Ao contrário daquilo que se esperava, foi uma edição duríssima, mais de metade da caravana ficou pelo caminho. Os títulos estão bem entregues, como o do Marc Coma, que fez uma corrida super inteligente. Ficou a duvida do que seria se o Cyril Depres não tivesse se lesionado. Nos automóveis a vitória fica muito bem entregue a Luc Alphand, que estava no lugar certo quando aconteceu o acidente do Peterhansel. Nos Caminhões os Kamaz são imbatíveis”, avaliou.

A promessa portuguesa era o piloto Carlos Sousa, que segundo Santos superestimou sua participação na prova. “O problema do Carlos Sousa é que elevou bastante as expectativas ao afirmar que o objetivo era terminar entre os cinco primeiros da geral. Se em Portugal ele andou na frente, provocando uma onda de entusiasmo no publico português, na África tudo foi diferente. O sétimo lugar final era o máximo que ele poderia chegar”, comentou.

Mesmo com a Volkswagen vencendo quase metade das especiais da prova, o português ainda acha que a equipe alemã ainda está longe de quebrar a hegemonia da japonesa Mitsubishi. “Acho que a Volkswagen foi a grande derrotada na prova. Primeiro porque [Stephane] Peterhansel e Luc Alphand com os seus Mitsubishi são praticamente imbatíveis nas dunas”.

“Viu-se nas etapas da Mauritânia, principalmente Nouakchott – Kiffa, onde deram dez a zero. Depois as presenças de Bruno Saby e da Jutta [Kleinschmidt] foram uma desilusão completa”, afirmou. Mas a equipe teve um destaque. “Ficou a presença do Sul-Africano [Ginniel] De Villiers que atualmente é um dos grandes pilotos do Cross Country e ficou também o registro de mídia para o espanhol [Carlos] Sainz, que deu imenso retorno à marca alemã”, concluiu.

Já virou tradição algumas polêmicas marcarem o Dakar. Uma delas é a discussão que volta todos os anos, sobre a segurança da prova. Duas crianças africanas morreram atropeladas este ano. “Infelizmente estas tragédias aconteceram e acredito que irão sempre acontecer. Na Guiné ao longo da estrada existiam milhares de pessoas assistindo à prova e por vezes essas populações não têm noção das velocidades que os veículos passam. Não é fácil contornar os ditos vilarejos. Será sempre uma realidade das etapas africanas”, lamentou Santos.

Mesmo com as fatalidades, ele concorda que o limite de 50 quilômetros por hora é seguro dentro dos vilarejos. “Um acidente pode-se dar sempre. Eu concordo que 50 por hora é uma velocidade razoável. Também não dá para baixar mais. Há sim que, com as autoridades de cada país, trabalhar mais no controle do público, o que na África não é fácil”, avaliou o português.

Outra polêmica deste ano envolveu os pilotos Sul-Americanos. Jean Azevedo e o chileno Carlo de Gavardo reclamaram de vista grossa da organização para algumas irregularidades dos competidores europeus, principalmente os franceses. Santos concorda que existe favorecimento.

“O grande problema de sempre do Dakar é aquilo que se chama de Espírito do Dakar ou o Espírito de África. Traduzir o que é o tal espírito nem sempre é fácil, varia de pessoa para pessoa e por isso os problemas que surgem na interpretação e na aplicação do regulamento. Não é só com os pilotos sul-americanos que existem problemas. Os não Franceses são sempre prejudicados”, contou.

Dakar 2007 – Jaime Santos afirma que não pode realizar muitas mudanças na prova, mas segundo ele o Dakar poderia ser melhor. “Se fosse eu quem mandasse, melhorava mais a planilha, melhorava mais as condições de higiene dos acampamentos, reformulava todo o aspecto de direção de prova, afim do mesmo regulamento ser igual para todo o mundo”, contou.

Mas existem pontos que, se mudarem, fazem a prova perder a tradição que criou em 28 edições no deserto. “Em termos de percursos, o Dakar é mesmo assim, duro, dramático, mas apaixonante. No percurso em Portugal, vamos tentar aumentar a quilometragem das especiais e teremos que trabalhar mais no aspecto de controle do publico, que este ano invadiu cada centímetro das especiais, criando-nos algumas dores de cabeça no capitulo da segurança”, concluiu.

Este texto foi escrito por: Daniel Costa