Fábio alertou que a ética ambiental não pode ser deixada de lado. (foto: Luciana de Oliveira / Webventure)
Melhores práticas para aquele passeio de fim de semana ou a expedição da sua vida. Foi disso que instrutor de cursos de atividades em natureza Fábio Raimo falou para a platéia que prestigiou a etapa mensal do Circuito Webventure de Palestras, ontem (24/09), no auditório da Competition, em São Paulo (SP).
Utilizando como exemplo situações vividas por ele em desafios como 28 dias remando no Chile, incursões a montanhas dos EUA ou a pontos bastante conhecidos do Brasil, Fábio passou dicas com a filosofia básica de que não importa o quão simples ou complexa seja a sua viagem, o importante é que você esteja pronto para ela.
Professor de cursos do Senac, Outward Bound e da americana NOLS (National Outdoor Leadership School), ele focou a palestra naquela pessoa que vai liderar a expedição ou o passeio afinal, alguém sempre toma a frente no planejamento e na execução de atividades em grupo. Segundo Fábio, essa pessoa vai precisar de hard e soft skills, ou seja, habilidades mais simples e outras mais aprofundadas.
Habilidades – Entre as soft skills ele mencionou a liderança, o espírito de grupo, a comunicação, empatia, segurança dons naturais ou habilidades que se pode aprender e desenvolver ao longo da vida.
Já as hard skills seriam a competência técnica, experiência no meio outdoor, atuação com o meio ambiente, o manejo de risco, entre outras habilidades que só a vivência nas atividades vai poder dar a alguém.
O papel do líder – Imagine o líder de um grupo sentado no chão, chorando, porque chove há 15 dias…, brincou Fábio, para dar o exemplo do antilíder. Para estar à frente de uma expedição é necessário ter controle emocional, tolerar imprevistos e adversidades tão comuns na natureza, conhecer a si mesmo, respeitar a integridade física e emocional do grupo e saber não exigir nada a mais nem a menos de si próprio e dos outros do que o necessário. E o líder é aquele que age, toma as decisões e em alguns momentos reúne o grupo para decidir com ele.
Fábio também destacou a diferença entre risco e perigo. Este último elemento, segundo ele, é inerente a qualquer atividade em natureza. É algo que não podemos mudar. Já o risco é a relação entre a probabilidade de acontecer algo errado e a conseqüência que isso pode trazer. E saber lidar com essa relação é fundamental para minimizar o risco. Ou seja, é possível controlá-lo.
O exemplo usado para se entender o grau de risco a que cada um pode estar sujeito numa atividade foi dado por uma pessoa da platéia, que lembrou de quando estava escalando com amigos no Bauzinho (em São Bento do Sapucaí-SP) e seu grupo foi surpreendido por uma tempestade de raios. O que vocês fizeram?, perguntou o palestrante Fábio Raimo. A gente foi até o fim da escalada, respondeu o participante.
Para avaliarmos o risco neste caso, pensemos primeiro na conseqüência de o grupo ser atingido por um raio: seria fatal. Então, vamos ver qual é a probabilidade de isso acontecer: alta, média ou baixa? Para saber isso, só tendo informações sobre a incidência de raios no local. É preciso estudar um pouco de meteorologia. Assim você vai descobrir, por exemplo, que tempestades de raios não chegam de uma hora para outra, na maioria das vezes dá para vê-la se formando, lembrou Fábio.
Digamos que normalmente os raios que caem no local se dirijam exatamente para a montanha em que vocês estavam, ou seja, a probabilidade de isso acontecer é alta, assim como a conseqüência”, analisa. “Vocês optaram por seguir na escalada – e nada aconteceu. O que fizeram foi manejar o risco. Vocês tomaram uma decisão e se expuseram a ela – no caso, ao alto risco. O fato de não ter caído nenhum raio quer dizer que vocês deram muita sorte…, avaliou o palestrante.
E resumiu uma importante lição: Às vezes se arriscar é até a melhor escolha; muitas vezes não é. Vocês poderiam ter feito outras opções, de menor ou maior risco. Saber escolher é o diferencial. Quando você se planeja, obtém informações sobre o clima, as condições do local, etc, mais facilmente você maneja o risco, pois conhece as duas vertentes: a probabilidade e a conseqüência.
Esteja preparado para o risco – Muita gente demora mais tempo do que imagina para subir o Agulhas Negras, no Parque Nacional do Itatiaia (RJ), comentou Fábio, em novo exemplo prático. Por isso, você pode ir preparado para a eventualidade de anoitecer sem que você tenha completado a descida. Sair de casa com um casaco a mais, lanterna, etc, é aceitar o risco, saber que ele pode ocorrer, e estar preparado para ele.
Falando em preparação, Fábio não deixou de mencionar os equipamentos. Mais importante do que a marca e a modernidade de cada item é você avaliar do que realmente necessita em cada ocasião e saber usar esses equipamentos. A barraca top de linha da marca mais famosa do mundo pode molhar por dentro se você não souber montá-la corretamente.
O impacto ambiental também foi destacado pelo palestrante. Hoje em dia há código acessíveis sobre como causar mínimo impacto. Se você não se preocupar com isso, está sendo negligente, avisa. Entre os programas que ele lembrou estão o Leave No Trace, série de regras criadas nos EUA, e o Pega Leve, adaptação do LNT e outros códigos locais recém-lançada no Brasil.
Um processo – Lembre-se que, na natureza, não há uma decisão-padrão, tudo deve ser visto caso a caso. E aprender é um processo. Portanto, adquira conhecimento, vivência e se atualize sempre, finalizou.
Após a palestra foram sorteados dois ingressos com acompanhante para um trekking no Parque Alta Adrenalina. Todos os participantes receberam ainda um kit com informativos do Senac sobre educação ambiental.
A próxima palestra do Circuito será Rumo aos Dois Pólos, em que Júlio Fiadi contará detalhes de suas expedições aos pólos norte e sul. As inscrições serão abertas em breve e poderão ser feitas no endereço www.webventure.com.br/circuitodepalestras
Este texto foi escrito por: Webventure
Last modified: setembro 25, 2003